domingo, 4 de dezembro de 2011

Chique


O universo da moda é diretamente associado a roupas, sapatos, chapéus, bolsas, cintos, jóias, óculos e vários outros objetos. A reunião desses objetos em um espaço de consumo que a um só tempo expresse a materialidade e a simbologia da moda não é algo comum. Menos comum ainda é que tal espaço possua como identificação um adjetivo que seja capaz de produzir e reproduzir culturalmente a noção de moda: chique.


Obs.: as fotos acima são da loja Chique – ladies fashions, localizada na Jeffrey Street, n. 23, Edimburgo, Escócia.

Esse post compõe uma série chamada “Nota de Viagem”. Trata-se de um conjunto de pequenas observações realizadas durante viagens.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

O consumo da imagem da bunda


Bundas! Muitas bundas. Elas estão em todos os meios. É pouco provável não se deparar com pelo menos uma imagem de bunda ao longo do dia em jornais, revistas, outdoors, TVs ou portais da web. Elas são cultuadas, cantadas e decantadas. Povoam o imaginário brasileiro. Há um bom tempo tornaram-se objeto de concurso, em que receberam o nome de bumbum. O mais recente desses concursos, realizado no dia de ontem na cidade de São Paulo, usa A Última Ceia de Leonardo da Vinci como referência de imagem para sua divulgação. A despeito de sua simbologia religiosa, trata-se de uma obra de arte que é ícone da Renascença, antessala da Idade Moderna. A escolha de tal ícone para emoldurar a bunda enquanto objeto de consumo gerou polêmica e conseguiu atrair olhares para o concurso. Tempos pós-modernos (ou quase isso)!

Referências Conexas

CASTRO, Ana L. de. Culto ao corpo e sociedade: mídia, estilos de vida e cultura de consumo. 2ª. ed. São Paulo: Annablume: Fapesp, 2007.

GUIDO, Angelo. Símbolos e mitos na pintura de Leonardo da Vinci. Porto Alegre: Sulina, 1969.

HENNIG, Jean-Luc. Breve história das nádegas. Lisboa: Terramar, 1997.

KANZAI, Koiti. O corpo enquanto objeto de consumo. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 21, n. 2/3, p. 71-76, 2000.

OLIVEIRA, Ana C. de; FERNANDES, Cíntia S.; SILVA, Simone B. da. A construção do corpo feminino na mídia semanal. Comunicação, Mídia e Consumo, v. 6, n. 17, p. 11-36, 2009.

SANTAELLA, Lúcia. O corpo como sintoma da cultura. Comunicação, Mídia e Consumo, v. 1, n. 2, p. 139-157, 2004.

sábado, 26 de novembro de 2011

Sideways - entre umas e outras

Jack (Thomas Haden Church) está com o casamento marcado. Miles (Paul Giamatti) é seu melhor amigo. Juntos, eles decidem fazer uma viagem pela Califórnia. Mais precisamente, uma viagem cujo percurso contempla as vinícolas da Califórinia. Uma espécie de despedida de solteiro em meio a degustações de vinhos e boas comidas.

Ao longo da viagem, quase que uma aventura, eles encontram Stephanie (Sandra Oh) e Maya (Virginia Madsen). A primeira, funcionária de uma vinícola. A segunda, garçonete em um restaurante. Tudo isso junto, somado ao comportamento impulsivo de Jack e ao comportamento depressivo de Miles, tem-se uma mistura de comédia e drama em um filme muito bem escrito e dirigido. Trata-se de Sideways – Entre Umas e Outras (Sideways, EUA, 2004, 126 minutos), dirigido e co-escrito por Alexander Payne.

Belas imagens de vinícolas e curiosas cenas de degustação estão presentes ao longo de todo o filme. Do mesmo modo, estão presentes diversos diálogos a respeito de variedades de uva e suas características organolépticas. Sideways foi vencedor do Oscar de melhor roteiro adaptado em 2005.

*** 

A propósito, o consumo do vinho tem aumentado significativamente no Brasil, como atesta o International Wine & Spirit Research. O impulso para esse aumento tem vindo especialmente de consumidores de classe B. Um primeiro olhar sugere que tais consumidores passam por um processo de redefinição cultural de hábitos de consumo e têm apropriado o consumo de vinho como uma espécie de ritual de mediação de relações. A construção e o compartilhamento de significados que se pode ter por meio do consumo do vinho, todavia, apresentam inúmeras possibilidades. Várias delas, como se pode assistir em Sideways, não estão restritas a um mercado ou espaço geográfico específico.

Esse post compõe uma série chamada “Filme”. Trata-se de sugestões de filmes.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Produto chinês é uma piada

Um colega de trabalho me contou que comprou uma lanterna e, pouco tempo depois, ao precisar trocar a pilha, a tampa não fechou – nem por milagre. Um outro colega que, do mesmo modo que eu, ouvia o primeiro, relatou que comprou um pendrive e ele parou de funcionar após dois dias de uso. Uma terceira colega que adentrou a sala para tomar um café e acompanhou a conversa, mencionou que o tênis que havia comprado para caminhar, praticamente se desmanchara após uma semana de caminhada. Aproveitando a ocasião, pontuei que eu havia comprado uma agenda, cuja capa literalmente se rasgara após três meses de uso. O que os quatro produtos tinham em comum? Como o título deste post sugere, o fato de terem sido produzidos na China. Fácil, não? Mas o que mais eles tinham em comum? Surpreendentemente, eles não eram produtos piratas e não possuíam marcas desconhecidas. A despeito de toda a algazarra em torno da China, produto chinês é uma piada.

Referências Conexas

BAUER, Hans H.; SAUER, Nicola E.; BECKER, Christine. Investigating the relationship between product involvement and consumer decision-making styles. Journal of Consumer Behaviour, v. 5, n. 4, p. 342–354, 2006.

HAMILTON, Gary G. Competition and organization: a reexamination of Chinese business practices. Journal of Asian Business, v. 12, n. 1, p. 7-20, 1996.

PINHEIRO-MACHADO, Rosana. China-Paraguai-Brasil: uma rota para pensar a economia informal. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 23, n. 67, p. 117-192, 2008.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Cultura, consumo e etnia

A Revista de Administração da UNIMEP traz em sua edição de maio/agosto desse ano o artigo “Representações das relações entre cultura, consumo e etnia: as representações culturais das mulheres negras no mercado consumidor brasileiro” (RAU, v.9, n.2, p. 108-130, 2011). De autoria de Josiane Silva de Oliveira, a construção do artigo envolve um contexto de gênero por meio de mulheres negras e usa um recorte empírico de dados oriundos da Associação Brasileira das Indústrias de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos. O artigo traz uma contribuição que transcende o enfoque vinculado a gênero e etnia, pois traz um olhar raro na produção acadêmica brasileira relacionada a consumo, o qual diz respeito à análise de processos de reprodução cultural e re-significação por meio de bens de consumo.

Esse post compõe uma série chamada “Olhar Acadêmico”. Trata-se de breves observações realizadas sobre trabalhos acadêmicos na forma de artigos, dissertações, teses ou livros relacionados direta ou indiretamente ao campo de cultura e consumo.

domingo, 20 de novembro de 2011

Consumindo a ansiedade ...

O técnico de futebol não dura muito tempo no cargo. O motorista e o motoqueiro não esperam o sinal abrir, já aceleram antes. A televisão não permanece no mesmo canal. O MSN e o Facebook não são usados para falar com uma única pessoa, mas sim com várias, simultaneamente. O telefone celular é olhado constantemente. O ouvinte não espera o interlocutor terminar de falar para expressar o que pensa. A comida mal foi servida, as pessoas ainda nem se sentaram à mesa, mas alguém já está beliscando. A aula ainda não terminou, mas o aluno já está saindo. O cinema mal começou a exibir os créditos do filme e todos já se levantaram. O avião acabou de parar, após a aterrizagem, a porta ainda vai demorar para ser aberta, mas já começam a se levantar para pegar os pertences ... a ansiedade está em tudo e em todos!

Referências Conexas

BROWN, Stephen. Marketing pós-moderno: vale tudo! In: BAKER, M. J. (Org.) Administração de Marketing. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. pp. 13-23.

De MASI, Domenico. O ócio criativo. Rio de Janeiro: Sextante, 2000.

FIRAT, Fuat A; SHERRY, Jr. John F.; VENKATESH, Alladi. Postmodernism, marketing and the consumer. International Journal of Research in Marketing, v 11, n. 4, p. 311-316, 1994.

sábado, 19 de novembro de 2011

Brasileiro gosta de produtos de beleza e higiene pessoal

O consumo de cosméticos, produtos de limpeza e higiene pessoal tem crescido a passos largos no Brasil. Uma evidência do aumento no consumo dessa categoria de produtos pode ser verificada pela ampliação da oferta de novos produtos feita por empresas que operam no mercado brasileiro. O Laboratório do Núcleo de Estudos da Embalagem da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) publicou em sua página na web que, em um total de 5.916 embalagens lançadas no primeiro semestre desse ano no Brasil, e tomadas como amostra em uma pesquisa, 4,8 % correspondem a embalagens de esmaltes para unhas, 4,4 % de produtos para o corpo, 4,3% de maquiagens para os lábios, 3,7% de shampoos, 3,5% de tratamentos para cabelos, 3,0% de condicionadores, 2,4% de sabonetes em barras, 2,2% de desodorantes e 1,7,% de produtos para o banho, entre outros tipos de embalagens. A soma dessas categorias representa exatos 30,0% do total de embalagens lançados no país. É ... podem dizer várias coisas de brasileiros, mas não podem dizer que não gostam de tomar banho e cuidar dos cabelos!

Esse post compõe uma série chamada “Web News”. Trata-se de observações realizadas acerca de notícias relacionadas à temática de cultura e consumo publicadas na World Wide Web.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Consumo em grupos AAA

Luxo, tecnologia, sofisticação e diversão. Esses são os argumentos usados para que alguém de altíssimo poder aquisitivo passe a fazer parte de grupos restritos que têm acesso a carros que outras pessoas vêem apenas em filmes e revistas. O For Private Group, com base na cidade de São Paulo, cobra, no mínimo, R$ 287 mil como taxa de associação e R$ 13 mil de mensalidade para quem tem dinheiro, muito dinheiro, sobrando e quer desfrutar, por um lado, e ostentar, por outro, o uso de carros considerados exclusivos.

Cada grupo tem uma composição de quatro carros e quatro pessoas, consideradas cotistas. Cada pessoa usa um carro diferente a cada semana, durante todo o ano, sobretudo nos finais de semana que, em geral, começam antes dos sábados e terminam às segundas. Os membros do grupo precisam se preocupar apenas em usar os carros. Limpeza, manutenção, pagamento de seguro e IPVA, não pertencem ao mundo deles. Está tudo incluído nas mensalidades. A única coisa que precisam se preocupar é escolher com que carro vão passar o final de semana, como, por exemplo, uma Ferrari 458, um Maserati Gran Turismo, um Bugatti Veyron 16.4 Grand Sport ou um Bentley Super Sport.

Depois de 24 meses o cotista ainda pode receber metade do valor da cota que pagou para se associar ao grupo. É consumo, mas para o For Private Group é, também, investimento.

Referências Conexas

STREHLAU, Suzane. Marketing de luxo. São Paulo: Cengage Learning, 2008.

TRUONG, Yann; SIMMONS, Geoff; McCOLL, Rodd; KITCHEN, Philip J. Status and conspicuousness – are they related? Strategic marketing implications for luxury brands. Journal of Strategic Marketing, v. 16, n. 3, p. 189-203, 2008.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Obras urbanas para consumo

Obras públicas de grande porte podem definir marcos geográficos em cidades em todo o mundo. Quando essas obras são assinadas por arquitetos famosos tendem a se tornar referências para visitação e alimentam o consumo de espaços urbanos por turistas e habitantes locais. Esse é o caso da Estação Ciência, Cultura e Artes, construída na cidade de João Pessoa, e que traz a assinatura de Oscar Niemeyer.


Obs.: as fotos acima são do complexo da Estação Ciência, Cultura e Artes, localizada no Altiplano Cabo Branco, João Pessoa, Paraíba, Brasil (agosto de 2011).

Esse post compõe uma série chamada “Nota de Viagem”. Trata-se de um conjunto de pequenas observações realizadas durante viagens.

domingo, 9 de outubro de 2011

O consumo do delivery

Quem ainda não consumiu serviços de delivery não reside nesse planeta. Pizzas, refeições, remédios, compras de supermercados, pouca coisa passa ao largo da necessidade de serviços de entrega em domicílio. Inicialmente disponibilizado pelas empresas como uma espécie de extensão daquilo que se pode oferecer para estimular o consumo de seus produtos, o serviço de delivery tornou-se algo imperativo em diferentes setores.

A tecnologia de comunicação, com uso de aparelhos telefônicos e da internet, ajudou a expandir ainda mais o uso do delivery. Nos anos 1980 e 1990 os serviços de delivery eram basicamente restritos aos consumidores chamados de cocooners, que viviam em espécies de casulos, pouco saiam de casa e não tinham o hábito de interagir com grande número de pessoas. Os nerds, que acordavam e dormiam na frente de computadores, também contribuíram com a popularização do delivery. Os chamados tele-entrega e disk entrega completaram o ciclo da popularização.

Hoje em dia, o delivery já está institucionalizado. A sociedade pós-moderna, apressada e ocupada, pressupõe o delivery como serviço já imbricado em inúmeras relações de consumo. Poucos são os casos em que não estão presentes. Basta ver o número de furgões e motoboys nas ruas das cidades.

Referências Conexas

FISHER, Marshall L. What is the right supply chain for your product? Harvard Business Review, March-April, p. 105-116, 1997.

LUMMUS, Rhonda R.; VOKURKA, Robert J. Defining supply chain management: a historical perspective and practical guidelines. Industrial Management & Data Systems, v. 99, n. 1, p.11 – 17, 1999.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Trabalho Interno

O mundo acostumou-se a palavra crise. Habituou-se, também, a palavra mercado. Os mercados dormem, acordam e se agitam. Do mesmo modo, têm humor, reconhecem, valorizam e penalizam. A mídia de difusão trata o mercado como se fosse uma entidade. Os textos de jornais, bem como as falas nas emissoras de rádio e na TV, a ele se referem com o uso de sujeito e predicado.

Crise e mercado são palavras que têm estado juntas. Nos últimos dias, o noticiário tem sido inundado por elas e outras mais, como bolsa de valores, câmbio, dólar, consumo, PIB, produção industrial, emprego, greve, etc. Vive-se em crise.

A propósito, a crise de hoje parece ser a mesma de ontem. É provável que ela apenas tenha se reconfigurado, mudado de lugar e de enredo. Essa suposição ganha sentido assistindo-se o documentário Trabalho Interno (Inside Job, EUA, 2010). Vencedor do Oscar e lançado no Brasil em fevereiro de 2011, esse documentário revela os bastidores da crise financeira mundial de 2008 e deixa pistas de que o problema é indômito!

Dirigido por Charles Ferguson e escrito por ele próprio, juntamente com Chad Beck e Adam Bolt, o documentário é muito bem estruturado e editado. Ao longo de 120 minutos, e guiado pela narração segura de Matt Damon, o espectador se depara com informações estarrecedoras sobre como a crise foi engendrada dentro do próprio sistema financeiro. Depara-se, também, com informações sobre os diferentes atores envolvidos na formação da crise e os desdobramentos que ela traz para a vida de todas as pessoas. Nesse caso, a crise de 2008 não parece ser tão diferente da crise de 2011 ou outras de anos anteriores.

Esse post compõe uma série chamada “Filme”. Trata-se de sugestões de filmes.

domingo, 25 de setembro de 2011

Uma imagem, mil palavras

A expressão do título desse post não é nova, mas permanece forte e com uma rara capacidade de síntese na língua portuguesa. De uma forma brilhante, foram usados quatro chaveiros com chaves de quatro marcas diferentes para compor a logomarca da Audi. A riqueza simbólica da imagem é que ela sugere que a Audi reúne em uma única marca atributos que se encontram diluídos em outras marcas como Alfa Romeo (design), BMW (velocidade), Volvo (segurança) e Mercedes-Benz (tecnologia). Tenta-se, assim, definir uma identidade para consumo sobre, e acima de, outras empresas concorrentes.

Referências Conexas

BARBOSA, Lívia; CAMPBELL, Colin. Cultura, consumo e identidade. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 2006.

ELLIOTT, Richard; WATTANASUWAN, Kritsadarant. Brand as symbolic resources for the construction of identity. International Journal of Advertising, v. 17, n.2, p. 131-144, 1998.

sábado, 24 de setembro de 2011

David e Victoria, mas poderia ser Luciano e Angélica

Acaba de ser publicado na Family Business Review o artigo “When David Met Victoria: forging a strong family brand” (FBR, v.24, n.3, p. 217-232, 2011). Escrito por Marie-Agnès Parmentier, o artigo aborda a construção de marcas familiares. Sob um olhar desavisado o artigo pareceria não ter relação com o universo do consumo. Porém, a autora estuda o caso de David e Victoria Beckham, que constituem uma família que envolve diferentes aspectos de consumo simbólico na indústria global de entretenimento e moda. De algum modo, empresas do mundo inteiro buscam casais que possam servir de ícone e emprestar suas imagens para suas marcas, assim como consumidores buscam, mundo afora, mimetizar tais pessoas. No Brasil, isso não é diferente. Um paralelo com os Beckham pode ser feito a partir de Luciano Huck e Angélica, personalidades da televisão brasileira, que não só emprestam seus nomes para consumo, como são, eles próprios, objetos de consumo simbólico.

Esse post compõe uma série chamada “Olhar Acadêmico”. Trata-se de breves observações realizadas sobre trabalhos acadêmicos na forma de artigos, dissertações, teses ou livros relacionados direta ou indiretamente ao campo de cultura e consumo.

domingo, 18 de setembro de 2011

Redução de embalagens

Pouca gente percebe, mas elas continuam acontecendo. A redução de embalagens, em termos de unidades e pesos em produtos comercializados no mercado brasileiro é mais comum do que se pensa. Representam um aumento disfarçado nos preços dos produtos.

Grandes companhias, como a Nestlé, por exemplo, reduzem em até 25% a quantidade dos produtos oferecidos ao mercado. Pouca gente fala sobre o assunto, praticamente ninguém fiscaliza e muito menos reclama. Como se não bastasse, o Estado é omisso e elas vicejam como ervas daninhas.

Referências Conexas

VIEIRA, Francisco. G. D. ; CRUBELLATE, João M.; SILVA, Ilse G. ; SILVA, Wânia. R. Silêncio e omissão: aspectos da cultura brasileira nas organizações. Revista de Administração de Empresas – Eletrônica, v. 1, n. 1, p. 1-14, 2002.

VIEIRA, Francisco. G. D. A soberania do consumidor como um mito perante situações de redução de embalagens no mercado brasileiro. In: XXVII ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO (2003: Atibaia). Anais ... (Área de Marketing). Rio de Janeiro : ANPAD, 2003. (Versão integral em CD-ROM do Evento)

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Demi & Scarlett: consumindo a própria imagem

Há cenas que são consideradas mais apropriadas para adolescentes, em plena fase de descoberta do corpo. É o caso típico de se observar incansavelmente no espelho e fotografar o próprio corpo. As redes sociais estão repletas de fotos desse tipo: não aquelas que os outros fazem de nós, mas as que fazemos de nós próprios.

Todos, em maior ou menor medida, consomem vaidade. Observar, registrar e compartilhar a própria imagem é uma forma de vaidade. Inclusive entre adultos. E não apenas adultos anônimos. De modo surpreendente, adultos famosos que estão em telas de cinema e locadoras de vídeo no mundo inteiro, e que são assediados e objeto de desejo de fãs e paparazzi, fazem algo idêntico àqueles que estão longe de serem celebridades.

Isso reflete apenas a própria natureza humana? Será uma peculiaridade da cultura pós-moderna? Ou mesmo algo que está imbricado na sociedade do espetáculo?

Demi Moore registrou sua própria imagem com um aparelho de telefonia celular e a divulgou, ela mesma, por meio da internet. Scarlett Johansson também registrou sua imagem com um celular, mas não a divulgou. Hackers acessaram o seu telefone, roubaram suas imagens e as divulgaram. Demi estava vestida. Scarlett está nua.

Referências Conexas

BAUMAN, Zygmunt. Consuming life. Journal of Consumer Culture, v. 1, n. 1, p. 9-29, 2001.

JOY, Annamma; SHERRY Jr., John F.; TROILO, Gabriele; DESCHENES, Jonathan. Re-thinking the relationship between self and other: Levinas and narratives of beautifying the body. Journal of Consumer Culture, v. 10, n. 3, p. 333-361, 2010.

SAUERBRONN, João F. R.; TONINI, Karla A. D.; LODI, Marluce D. de F. Um estudo sobre os significados de consumo associados ao corpo feminino em peças publicitárias de suplementos alimentares. Revista Eletrônica de Administração, v. 17, n. 1, p. 1-25, 2011.

THOMPSON, Craig J.; HIRSCHMAN, Elizabeth C. Understanding the socialized body: a poststructuralist analysis of consumers’ self-conceptions, body images, and self-care practices. Journal of Consumer Research, v. 22, n. 2, p. 139-153, 1995.

sábado, 10 de setembro de 2011

A insensatez do consumo por meio do leilão virtual

Os recursos proporcionados pela Internet e pela World Wide Web têm criado muitas alternativas e possibilidades de comercialização de produtos e serviços. Os leilões virtuais representam uma delas e se caracterizam, sobretudo, pela competição entre compradores para a aquisição de uma determinada oferta. A ideia dos leilões é que os compradores adquiram os produtos oferecidos por um preço, a princípio, menor do que o preço praticado no mercado convencional, como se pode ver na imagem acima do leilão Lances de Vantagens, que opera em parceria com a rede Ipiranga de combustíveis e lojas de conveniência.

O que tem ocorrido, no entanto, contraria frontalmente a sugestão de que os produtos adquiridos por meio de leilões virtuais vêm a ter um custo inferior para aqueles que deles participam. Além de isso não acontecer, os leilões virtuais estimulam comportamentos de consumo que são preocupantes, como a compra por impulso e a competição para o consumo.

Ao acessarem os websites de leilões virtuais, consumidores têm adotado um comportamento competitivo e impulsivo. O que tem prevalecido é a noção de jogo entre os consumidores, de modo a que um consumidor presente no leilão virtual faz inúmeros e contínuos lances para arrematar um determinado produto. Isso é fruto do curtíssimo intervalo de tempo permitido para cada novo lance, estipulado, em alguns websites, em até no máximo 30 segundos. Com esse mecanismo, as operadoras de leilões virtuais produzem uma acirrada competição entre os consumidores, gerando, por conseguinte, a insensatez de produtos serem adquiridos por preços acima do preço de mercado, conforme se verifica por meio da imagem abaixo.

As empresas que oferecem leilões virtuais procuram assegurar que caso um produto seja adquirido por um valor maior do que o valor de mercado, o consumidor pagará o valor de mercado e não o preço final alcançado pelo produto durante o leilão. Ocorre que o consumidor também irá pagar o frete para a entrega do produto em sua residência. Isso já é suficiente para se ter um custo acima do que seria o custo de uma aquisição regular no mercado. Ademais, há sempre a possibilidade de que o valor de mercado notificado pela operadora do leilão virtual não corresponda e, portanto, esteja acima da média de preços praticados no mercado para um produto.

Um outro aspecto que deve ser levado em consideração é que a própria operadora do leilão virtual pode usar de expedientes distantes do que se considera ética empresarial, caso ela escale um funcionário para, de forma anônima, realizar infinitos lances durante o leilão, puxando os preços dos produtos para cima. Como o consumidor que está em casa não vê e não conhece os outros consumidores que, assim como ele, estão fazendo os lances por meio de pseudônimos, a operadora do leilão pode muito bem criar um consumidor fictício, interno à empresa, para manipular o leilão e produzir maior competição, implicando em maior volume financeiro ao longo dos leilões.

Os leilões virtuais podem até ser cercados de algum tipo de entretenimento e prazer, mas pelas questões apontadas acima, podem, também, ser compreendidos como produtos e produtores de insensatez e irracionalidade em consumo.

Referências Conexas

CAMERON, Dylan D.; GALLOWAY, Alison. Consumer motivations and concerns in online auctions: an exploratory study. International Journal of Consumer Studies, v. 29, n. 3, p. 181-192, 2005.

DONEGÁ, Ricardo A. Atitudes em relação à sites de leilão on-line: um estudo exploratório com internautas brasileiros. São Paulo: FEA-USP, 2004. (Dissertação de Mestrado em Administração)

FEATHERSTONE, Mike. Cultura de consumo e pós-modernismo. São Paulo: Studio Nobel, 1995.

STERN, Barbara B.; STAFFORD, Marla R. Individual and social determinants of winning bids in online auctions. Journal of Consumer Behaviour, v. 5, n. 1, p.43-55, 2006.

VILCHES, Lorenzo. A migração digital. São Paulo: Loyola, 2003.

VOUGA, André. Os leilões virtuais e a dimensão cultural da formação do valor econômico. Comunicação, Mídia e Consumo, v. 5, n. 12, p. 77-93, 2008.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Classe “A gargalhada”

Nos últimos tempos tem sido intensa a cobertura da imprensa com notícias sobre PIB, renda per capita e classes de rendimento econômico no Brasil. Uma dessas notícias despertou o interesse pelo título inusitado, concernente àquela que está sendo considerada uma nova classe de rendimento. Deu na Folha de S. Paulo que se trata da classe “A gargalhada”. Essa classe, substancialmente superior à classe A do já conhecido Critério Brasil, possui uma renda mensal individual acima de R$ 50.000,00. Dizem que rico ri à toa!

Esse post compõe uma série chamada “Web News”. Trata-se de observações realizadas acerca de notícias relacionadas à temática de cultura e consumo publicadas na World Wide Web.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

A popularização dos cruzeiros marítimos

Durante muitos anos, cruzeiros marítimos foram sinônimo de glamour e algo de difícil acesso para pessoas mortais e comuns. Em geral, evocavam imagens do Caribe e do Mediterrâneo ou mesmo da Europa e da Oceania. Concebê-los ao longo da costa marítima brasileira era algo incomum.

Hoje, ocorre o contrário. A indústria de viagens de turismo, entretenimento e lazer (re)descobriu que o litoral brasileiro tem uma extensão de mais 7.000 km e que pode ser explorada em viagens de norte a sul e de sul a norte. Percebeu, também, que como o Brasil está próximo ao Uruguai e à Argentina, é possível se oferecer cruzeiros internacionais a um custo operacional semelhante àqueles oferecidos ao longo da costa brasileira.

O resultado é que os cruzeiros passaram a ser oferecidos e consumidos em proporção jamais vista no nosso país. A facilidade do pagamento por meio de inúmeras parcelas, e o apoio de extensa rede de agências e escritórios de turismo Brasil afora, contribuíram para a expansão da realização de cruzeiros marítimos. Esse fenômeno só não é maior porque a infra-estrutura dos portos brasileiros não ajuda muito e os custos envolvidos na realização de cruzeiros no Brasil ainda são altos.

É bem provável que com o passar do tempo os cruzeiros sejam ofertados em maior escala e com maior número de opções, ampliando rotas que envolvam, por exemplo, um percurso entre o nordeste e o norte brasileiros, ou entre essas duas regiões e o Caribe. O contexto de consumo é favorável, a indústria está mais articulada e o mar parece exercer um fascínio ímpar no imaginário das pessoas.

Referências Conexas

BRITO, Telma M.; BRUHNS, Heloisa T. Corpo, lazer e natureza: uma reflexão sobre os cruzeiros marítimos. Turismo em Análise, v. 19, n. 1, p. 126-136, 2008.

RABAHY, Wilson A.; KADOTA, Décio K. Caracterização da demanda das viagens de cruzeiros marítimos no Brasil. Revista Turismo em Números, n. 53, p. 1-8, 2006.

WOOD, Robert E. Caribbean cruise tourism: Globalization at sea. Annals of Tourism Research, v. 27, n. 2, p. 345-370, 2000.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Morango no verão (do norte)

No Brasil, especialmente na região sul, é frequente o consumo de morango durante o inverno. Várias padarias, casas de lanche, cafés e chocolatarias, em especial, oferecem doces e sobremesas com morango. A propósito, é bem possível que a combinação mais usada seja a de morango com chocolate, particularmente em tortas.

No hemisfério norte, o morango é usado ao longo de todo o ano, mas é mais consumido no verão. Aliás, é muito comum que o morango seja usado como um símbolo dessa estação. É isso que ocorre na Inglaterra, por exemplo, onde o morango tem um destaque especial como ingrediente da culinária do verão.

Obs.: a foto acima é de um anúncio do menu do The Garden Café, localizado no The Regent´s Park, Londres, Inglaterra.

Esse post compõe uma série chamada “Nota de Viagem”. Trata-se de um conjunto de pequenas observações realizadas durante viagens.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

A idade invisível

Durante vários anos propagou-se a ideia de que a chamada terceira idade seria maravilhosa e representaria um momento de grande oportunidade para desfrutar aquilo que a vida não permitiu em anos anteriores. Empresas do setor de turismo e hotelaria, por exemplo, criaram pacotes de serviços de lazer e entretenimento para que as pessoas dessa idade tivessem opções sobre como usar o dinheiro de suas aposentadorias. Academias de ginástica e escolas de natação também procuraram prospectar possibilidades de consumo para seus serviços junto a esse público.

Toda essa expectativa e desejo de realização de negócios não se concretizou ou foi efetivada apenas em parte. No Brasil, muitas pessoas da terceira idade sustentam suas famílias com o dinheiro que recebem, incluindo-se aí filhos, genros, noras e netos. A imagem da terceira idade no Brasil não é aquela retratada nas imagens das novelas da TV Globo.

A demografia brasileira tem sofrido forte alteração nos últimos anos e irá se transformar ainda mais. Segundo o relatório Envelhecendo em um Brasil Mais Velho, produzido pelo Banco Mundial, dentro em breve o Brasil será um país de idosos. Conforme estimativa dessa instituição, quase 50% dos habitantes brasileiros possuirá 65 anos ou mais de idade em 2050. Parece algo longínquo. Mas em termos demográficos não é tão remoto assim. A mídia de difusão notifica, nesse sentido, que o Brasil vive o paradoxo de crescer enquanto envelhece.

Empresas e governos (municipal, estadual e federal) não estão preparados para esse fenômeno. São poucos os produtos e serviços efetivamente formatados e oferecidos para a terceira idade. Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mais de 10% da população brasileira já possuem 60 anos ou mais de idade e não encontram suporte em ruas, avenidas, rodoviárias ou aeroportos, por exemplo, para sua condição física. A indústria imobiliária, em outro exemplo, continua construindo inúmeros edifícios residenciais que estão a milhas e milhas de distância de oferecerem estrutura compatível para esses pouco mais de 10% da população.

A elaboração de anúncios e a divulgação de produtos posicionados para o consumo por parte da terceira idade, também não parece ser uma opção para as empresas. Ações nesse sentido podem gerar dissonância cognitiva e comprometer a imagem de marcas empresariais ou de linhas específicas de produtos. Pensando bem, como seriam os modelos das propagandas na TV divulgando produtos para o consumo na terceira idade? Certamente, eles se chocariam com a juventude e a modernidade do mundo ocidental.

Por enquanto, a terceira idade é um fenômeno silencioso e quase invisível no Brasil. E isso, mesmo se tratando de consumo!

Referências Conexas

FARIAS, Salomão A. Avaliação simultânea dos determinantes da satisfação do consumidor: um estudo no segmento da terceira idade. São Paulo: USP, 1998. (Tese de Doutorado em Administração)

MATHUR, Anil; MOSCHIS, George P.; LEE, Euhun. A longitudinal study of the effects of life status changes on changes in consumer preferences. Journal of the Academy of Marketing Science, v. 36, n. 2, p. 234-246, 2008.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Citação de artigos: o paradoxo dos cinco anos

Qual é a lógica que orienta decisões editoriais em que os artigos acadêmico-científicos publicados nos últimos cinco anos são as referências mais importantes para uso em outros artigos que se queira submeter à publicação? Trata-se apenas do conceito definido como estado-da-arte, em que esses artigos trazem o conhecimento em seu estado mais atual, com descobertas e proposições mais recentes?

Os artigos publicados nos últimos cinco anos são, de fato, aqueles mais importantes e consistentes? A contribuição de um artigo tem data marcada para acabar ou prazo de validade, como um produto perecível?

Se a pesquisa que ontem-hoje se fez e que hoje-amanhã se publica não é valorizada por mais do que cinco anos, qual o sentido de fazê-la? Como e com base em quais critérios se definem a consistência e a relevância temporal do conhecimento produzido? O conhecimento publicado em periódicos está fadado ao consumo em um horizonte máximo de meia década? Esse é o limite?

A quem serve tal decisão? Serve aos pesquisadores e autores dos artigos? Alguém lembrou de perguntar qual o papel da indústria editorial para a construção dessa lógica, especialmente o segmento de publicação de periódicos científicos? As instituições de ensino e pesquisa, bem como as agências de fomento à pesquisa têm, também, algo a dizer acerca dessa construção?

Referências Conexas

CANAGARAJAH, A. Suresh. “Nondiscursive” requirements in academic publishing, material resources of periphery scholars, and the politics of knowledge production. Written Communication, v. 13, n. 4, p. 435-472, 1996.

GODIN, Benoit; GINGRAS, Yves. The place of universities in the system of knowledge production. Research Policy, v. 29, n.2, p. 273-278, 2000.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Games e brinquedos de guerra são desnecessários

A sociedade norueguesa reagiu de uma forma inusitada ao ato mais doloroso de sua história em tempos de paz. Deu no New York Times que agentes do mercado varejista na Noruega, como lojas e supermercados, estão retirando de suas prateleiras videogames e brinquedos de guerra. Trata-se de uma medida em respeito às vítimas dos recentes atentados ocorridos naquele país, dado que o autor dos atentados era usuário assíduo do World of Warcraft. É uma medida não só incomum, como também algo que contraria a indústria do entretenimento e do lazer pessoal e doméstico – indústria em torno da qual são gerados, de forma crescente, bilhões de dólares a cada ano. Com efeito, a Noruega ficará melhor com essa iniciativa. Agentes de mercado em outros países poderiam seguir o exemplo. Especialmente aqueles que tanto apregoam responsabilidade social em práticas de mercado.

Esse post compõe uma série chamada “Web News”. Trata-se de observações realizadas acerca de notícias relacionadas à temática de cultura e consumo publicadas na World Wide Web.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Onde anda a poesia?

Nos dias de hoje, as editoras fazem pouco ou quase nenhum esforço para publicar poesia. Fácil de constatar. Basta olhar o catálogo de livros das editoras brasileiras e de outros cantos do mundo. Poesia não gera lucro. Livros de poesia não estão nas vitrinas das livrarias. Poetas não produzem bestsellers.

Qual o último livro de poesia que foi lido? Onze entre cada dez pessoas dirá que não lembra. A poesia ficou confinada aos concursos. Está restrita às aulas do ensino básico. Faz parte da linguagem e do universo conhecido como politicamente correto. Compõe a cena, mas ninguém vê, tampouco lê.

Lidar com poesia é ter imaginação, ser sonhador. Coloquialmente, é viver com a cabeça nas nuvens. Algo pejorativo em uma sociedade que reivindica pragmatismo, racionalidade, rapidez, objetividade. Não há interesse em poesia. Escrever poesia é perder tempo. Falar em poesia é soar estranho. Não se consome poesia.

Referências Conexas

MORICONI, Italo. Como e porque ler poesia brasileira do século XX. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.

PETER, Middleton. Distant reading: performance, readership, and consumption in contemporary poetry. Tuscaloosa: University of Alabama Press, 2005.

SHERRY Jr., John F.; SCHOUTEN, John W. A role for poetry in consumer research. Journal of Consumer Research, v. 29, n. 2, p. 218-234, 2002.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Mirante da Paz, casa para a paz

 
A paz está no imaginário de todos. Simbolicamente, assume inúmeras possibilidades. Entre elas, junções como morro-asfalto, favela-bairro, pobre-rico. Tais junções sugerem uma espécie de compreensão de que a paz está nos segundos elementos: asfalto, bairro, rico. A violência, seria o oposto. A junção, portanto, engendraria uma síntese: paz. Governos e gente desavisada pensam assim.

 
Unidades de Polícia Pacificadora no Rio de Janeiro operam dentro dessa lógica. O discurso é o da ocupação, quando, a rigor, o que parece resolver é a presença do Estado com serviços básicos e não apenas com polícia.

 
A paisagem estonteante de alguns lugares do Rio de Janeiro até comungam para promover essa síntese. A paz pode até ser representada por meio do anúncio da venda de residências na favela, afixado em cima do grafite que faz parte do ponto turístico. Comércio e, sobretudo, consumo não imaginados em outras circunstâncias. O bom é que, nesse contexto, a paz pode ser tomada por meio de uma de suas principais metáforas: a casa.

Obs.: as fotos acima são do Mirante da Paz, instalado entre o bairro de Ipanema e a Comunidade do Pavãozinho, no Rio de Janeiro.

Esse post compõe uma série chamada “Nota de Viagem”. Trata-se de um conjunto de pequenas observações realizadas durante viagens.

sábado, 23 de julho de 2011

As Copas, o Paraguai, Larissa e a construção de “celebridades”

Ela estava lá. Na Copa do Mundo. Na África do Sul. Vestida com a camisa da seleção paraguaia, usando um decote generoso e com um telefone entre os seios, Larissa atraiu lentes de fotógrafos e câmeras de televisão. Um jogo, dezenas de imagens e se fez uma celebridade. Dessas que editores da mídia de difusão agradecem quando vêem aparecer e leitores e espectadores têm prazer em consumir.

A mídia, que nessas horas não recebe a denominação de imprensa, transforma o inusitado em um produto. Produto para sobrevivência. Para venda e para consumo. Depende apenas da perspectiva com que se olha.

Virou celebridade. Ganhou páginas de revistas masculinas e contratos do que popularmente se chama de publicidade. Dois anos se passaram e uma outra Copa, que não a do mundo, mas a da América do Sul, faz com que o inusitado se transforme em algo já esperado. A história se repete. E celebridades, pelo próprio modus operandi, são sinônimo de repetição. Construções midiáticas efêmeras na sociedade do espetáculo.

Referências Conexas

GOLDSMITH, Ronald E.; LAFFERTY, Bárbara A.; NEWELL, Stephen J. The impact of corporate credibility and celebrity credibility on consumer reaction to advertisements and brands. Journal of Advertising, v. 29, n. 3, p. 43-54, 2000.

MARSHALL, P. David. Celebrity and power: fame and contemporary culture. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1997.

NEWMAN, George; DIESENDRUCK, Gil; BLOOM, Paul. Celebrity contagion and the value of objects. Journal of Consumer Research, v. 38, n. 2, p. 215-228, 2011.

SLATER, Don; TONKISS, Fran. Market society. Cambridge: Polity Press, 2001.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

A amizade é um fenômeno infantojuvenil

Hoje é o dia do amigo e o dia internacional da amizade. Muito antes de a indústria cultural querer fazer crer que a amizade é algo nobre e definir uma data no calendário para sua comemoração, Platão e Aristóteles já tentavam explicar mecanismos de relacionamentos e de construção de laços entre as pessoas. Isso seria o caminho inicial para o que veio a se chamar de amizade. Antropólogos procuraram explicar como em tempos primitivos havia um processo de agrupamento entre os homens como um meio para a proteção contra riscos e ameaças. Sociólogos, posteriormente, demonstraram formas de aproximação por meio de grupos de referência como igreja, escola e família. De uma forma ou de outra, ao longo da história, a amizade é simbolicamente consumida a cada dia. No Brasil, em particular, todos são amigos, mesmo aqueles que se conhecem a menos de um dia. Ocorre que, como conceituada na modernidade, a amizade é um fenômeno infantojuvenil. Não há amizade entre adultos. Adultos apenas têm interesses em comum.

Referências Conexas

HIRSCHMAN, Elizabeth C. Comprehending symbolic consumption: three theoretical issues. In: HIRSCHMAN, Elizabeth C.; HOLBROOK, Morris B. (Ed.) Symbolic Consumer Behavior. Duluth: Association for Consumer Research, 1981. pp 4-6.

RUBIN, Lillian B. Just friends: the role of friendship in our lives. New York: Harper & Row, 1985.

WATTANASUWAN, Kritsadarat. The self and symbolic consumption. Journal of American Academy of Business, v. 6, n. 1, p. 179-184, 2005.

terça-feira, 28 de junho de 2011

A quem interessa a fusão entre o Pão de Açúcar e o Carrefour?

Os arquitetos de operações de mercado como aquisições, joint ventures, holdings e, especialmente, fusões, frequentemente lançam mão do argumento de que são boas para o país ou para o consumidor. Será?

De forma rápida e simples, resgatemos alguns casos recentes ocorridos no mercado brasileiro ou a ele relacionados. Houve uma fusão da Antarctica com a Brahma e constituiu-se a AmBev (momento 1). Posteriormente, ocorreu nova fusão entre a AmBev e a Interbrew, empresa belga, e formou-se a InBev (momento 2). Mais adiante, aconteceu uma outra fusão, dessa feita entre a InBev e a Anheuser-Busch, empresa estadounidense, criando-se a AB InBev (momento 3).

Em todos os momentos, os argumentos foram os mais nobres possíveis: desde o fortalecimento do mercado interno contra a entrada de grandes marcas internacionais à ideia de que já era hora de internacionalizar marcas brasileiras como, no caso, a Brahma. Seria bom perguntar àqueles que operam em pontos de vendas de bebida, especialmente no varejo de rua, o que acharam disso tudo! Ademais, é possível encontrar Stella Artois e Budweiser no Brasil, mas, aparentemente, o mesmo não ocorre com a Brahma na Europa e nos Estados Unidos.

Em outros casos, não no setor de bebidas, mas no varejo de eletrodomésticos, várias aquisições foram realizadas em tempos recentes: o Grupo Pão de Açúcar comprou as Casas Bahia e também o Ponto Frio, enquanto a Magazine Luiza comprou as lojas do Baú da Felicidade. Todo esse movimento no varejo de eletrodoméstico tem resultado em preços semelhantes. Em um trabalho de campo, conversei pessoalmente com uma vendedora de uma dessas lojas e ela me informou que após passarem a pertencer a um mesmo grupo, o Ponto Frio e as Casas Bahia não competem como antes e os descontos a serem repassados aos consumidores por meio de preços menores não ocorrem com a mesma frequência.

A fusão entre o Pão de Açúcar e o Carrefour não deverá criar um cenário diferente daquele criado por outras fusões e aquisições. Qualquer que seja a razão que tenha motivado a fusão, ela implica em excessivo poder de mercado. Lamentavelmente, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) não parece ter feito muita coisa para intervir nesse tipo de situação, assim como agências governamentais têm demonstrado pouca capacidade de regulação. Afora isso, fusões e aquisições ainda contam com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que poderia muito bem fomentar a pequena e média empresa em lugar de intensificar o já conhecido capitalismo de estado no país.

Aquisições, joint ventures, holdings e, especialmente, fusões, interessam mais às organizações empresariais do que aos consumidores. Esses últimos são constantemente usados como justificativa para as embrulhadas de mercado. Porém, sempre perdem. Quase tanto quanto os empregados das empresas que passam por fusão. Uma forte concentração prejudica a indústria e mais ainda os consumidores, que têm pequeno poder de agência. Fusões e aquisições como essa ocorrida entre o Pão de Açúcar e o Carrefour apenas recrudescem o caráter assimétrico das relações de consumo no mercado brasileiro.

Adendo, 29 de junho de 2011:

A manchete de primeira página no dia de hoje do principal jornal do país está na imagem abaixo. O que poderia ser feito para e por pequenas e médias empresas com R$ 4 bilhões ? O que isso significaria em termos de alavancagem da economia como um todo e na criação de novas oportunidades, tanto de negócios quanto de consumo?




Esse post compõe uma série chamada “Web News”. Trata-se de observações realizadas acerca de notícias relacionadas à temática de cultura e consumo publicadas na World Wide Web.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

UEFA Champions League 2011 no cinema em 3D

A Copa do Brasil foi vencida pelo Vasco e a Taça Libertadores das Américas foi conquistada pelo Santos, porém nenhum dos dois eventos recebeu atenção especial, enquanto produto, para a transmissão de suas partidas finais direto para salas de cinema espalhadas em todo o Brasil.

De modo diferente, a UEFA Champions League, edição 2010-2011, teve sua decisão transmitida pela ESPN HD em 3D para várias salas de cinema em todo o país. A transmissão ao vivo do jogo entre Barcelona e Manchester United, direto de Wembley, em Londres, terra dos inventores do futebol, fascinou milhares de pessoas. A experiência de assistir a partida com imagens em 3D certamente funcionou como um atrativo para os amantes do futebol, mas o que parece ter sido mais importante foi a interação ocorrida entre grupos de amigos e familiares que se organizaram para ir ao cinema desfrutar do evento.

Segundo a pesquisa Global Entertainment and Media Outlook 2011-2015, da PwC, a indústria do entretenimento movimenta cerca de US$ 1,5 trilhão por ano no mundo inteiro, por meio de cinema, internet, música e vídeo. Pelo que se observa, irá movimentar ainda mais, pois criou um novo produto: futebol no cinema. Em um país que ama o futebol, como o Brasil, há mais um motivo para se esperar um aumento no faturamento dessa indústria: o preço da entrada para assistir a uma partida é quase três vezes maior que o preço de uma entrada para assistir a uma sessão normal no cinema

Referências Conexas

BURROWES, Patrícia. Cinema, entretenimento e consumo: uma história de amor. Revista FAMECOS: mídia, cultura e tecnologia, v. 1, n. 35, 2008.

GRECO, Albert N. The media and entertainment industries: readings in mass communications. Boston: Allyn & Bacon, 1999.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Não compre nas Americanas.com

A Americanas.com está com sérios problemas de entrega de produtos comprados em seu website por meio de comércio eletrônico. De janeiro para maio desse ano o número de reclamações cresceu de 10 para 30 mil. As pessoas compram mas enfrentam dificuldades para receber os produtos adquiridos. A Justiça do Rio de Janeiro e o Ministério Público estão tomando medidas contra as Americanas.com. Portanto, fique alerta e cuidado com a realização de compras na Americanas.com.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

O consumo do conceito de gestão

Na língua portuguesa, o substantivo gestão denota o ato de gerir ou gerenciar que, por sua vez, é sinônimo de administrar. Pelo menos a princípio, e por questões de campo de formação e responsabilidade profissional, a gestão de organizações, lugares, recursos ou pessoas, entre outras possibilidades, deveria estar relacionada à administração. Mas, não é o que acontece.

O conceito de gestão adquiriu vários desdobramentos e passou a ser apropriado de inúmeras maneiras. Os verbos administrar, gerir ou gerenciar, não são singulares, mas sim plurais. E isso não é uma questão de inter ou multidisciplinaridade! Conselhos de classe profissionais sucumbem à fragmentação e à interpenetração, características próprias da sociedade pós-moderna. Simplesmente não demarcam formalmente quais os limites e condições em torno do exercício profissional do gestor.

Tais limites apenas recrudesceram nos últimos 20 anos. Na esteira da difusão do modo neoliberal de conduzir as organizações e estabelecer suas relações com os mercados, o conceito de gestão ganhou centralidade. Essa realidade chegou, inclusive, às universidades, onde o conceito de gestão tem sido largamente consumido.

Em um espaço cujo modelo de produção de conhecimento, via de regra, é constituído por estruturas departamentalizadas, é bastante comum se deparar com o uso do conceito e a oferta de atividades vinculadas à gestão por parte de cursos como, por exemplo, Economia, Zootecnia, Engenharia Química, Engenharia de Produção e Odontologia. Todos são gestores!

Referências Conexas

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

DRUCKER, Peter. Gestão. Rio de Janeiro: Agir, 2011.

FAYOL, Henry. Administração industrial e geral. São Paulo: Atlas, 1994.

sábado, 11 de junho de 2011

Ingrid Bergman

Cultivar jardins é uma coisa séria na Inglaterra. A jardinagem é assunto nacional e está integrada à cultura inglesa. Em alguns jardins, canteiros ou rosas recebem até substantivos próprios, como identificado na placa em meio as rosas da foto acima.

Obs.: a foto desse post é de um dos setores do Queen Mary’s Garden, localizado no Regent’s Park, Londres, Inglaterra.

Esse post compõe uma série chamada “Nota de Viagem”. Trata-se de um conjunto de pequenas observações realizadas durante viagens.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

O interior paga a conta

Algo que pouca gente comenta, diz respeito à espécie de subsídio que cidades do interior do país proporcionam às grandes cidades, notadamente capitais, por meio da compra de alguns produtos. É o caso, a propósito, de revistas e automóveis.

É comum que revistas de circulação nacional, como a Veja, circulem em capitais com exemplares de conteúdo local encartados em suas edições. Veja Rio, Veja São Paulo, são exemplos. Nessas cidades o consumidor paga o preço normal da revista na banca e leva junto a edição local com programação cultural, dicas gastronômicas, etc. Já em cidades do interior, o consumidor paga o mesmo preço que o consumidor da capital, mas leva apenas o exemplar normal da edição nacional da revista. O consumidor do interior, desse modo, subsidia o consumidor da capital. Ele paga a mesma coisa, mas leva bem menos para casa.

No caso do mercado de automóveis, uma lógica semelhante tem sido empregada pelas empresas. Devido à chegada dos veículos chineses ao mercado brasileiro e a instalação de suas concessionárias em grandes centros, onde existe maior volume de consumo, outras montadoras que aqui operam há várias décadas resolveram baixar os preços praticados nos grandes centros para fazer frente aos preços, menores, oferecidos pelos chineses. Essa situação se aplica especialmente para aqueles veículos que se situam na faixa de preço entre 30 mil e 40 mil reais. Tal prática, contudo, ocorre apenas nas capitais. A justificativa é que ela não tem como ser seguida no interior porque ainda é bem reduzido o número de concessionárias chinesas em cidades menores. Isso significa que o consumidor do interior paga mais caro pelo automóvel do que o consumidor da capital.

Referências Conexas

ABREU, Cláudia B. O comportamento do consumidor diante da promoção de vendas: um estudo da relação preço-qualidade percebida. Revista de Administração de Empresas, v. 34, n. 4, p. 64-73, 1994.

WALTERS, Rockney G. Assessing the impacto of retail price promotions on product substitution, complementary purchase, and interstore sales displacement. Journal of Marketing, v. 55, n. 2, p. 17-28, 1991.