sexta-feira, 26 de setembro de 2014

CCT Blues by Chris Hackley



"If you are interested in life, you should be interested in CCT
The only paradigm that is worth taken seriously (...)"

Obs.: link enviado por João Felipe Sauerbronn, professor da Unigranrio, pesquisador em estudos de consumo e que assina o blog Marketing, Consumo e Sociedade.


sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Qual é a cara que é cara de rica?



A cara é o rosto, a face, a imagem que vai no documento Registro Geral (RG) que é chamado de carteira de identidade. No entanto, essa identidade é apenas um número. Apenas mais um dentre tantos outros que parecem ser necessários ao Estado para ordenar e, também, controlar, a vida em sociedade.

A cara é o lugar, o espaço, o pedaço do corpo para onde, via de regra, outras pessoas olham em um primeiro momento, quando veem alguém à distância ou quando se dirigem a alguém de forma mais próxima em um mesmo espaço físico.

A cara é o selfie, o autorretrato formado por um conjunto de milhões e milhões de pixels que formam a imagem digital que é compartilhada e que se vê cotidianamente nas redes sociais e websites que se visita.

Mas, qual é a cara que é cara de rica? Existe uma cara da riqueza? Especialmente, a cara de uma mulher rica? É possível expressar uma identidade relacionada à riqueza?

Se depender da música Cara de Rica, sim! A música foi composta por Erikka Rodrigues e Paula Mattos, e no momento faz sucesso na voz da primeira. Como se pode perceber por meio do vídeo disponibilizado logo acima nesse post, a música sugere que não precisa pertencer a classe "A gargalhada" para expressar uma identidade rica. Isso pode ser feito de outra maneira e com muito menos dinheiro, inclusive por quem pertence a uma classe de rendimento econômico inferior. O que é relevante ressaltar, no caso, é que a identidade rica contida na música é categoricamente afirmada pelo consumo conspícuo - independentemente do valor monetário relacionado aos objetos materiais adquiridos ou serviços contratados e referidos na letra da música.

Em última análise, a cara é tão somente um recurso semântico na música, uma referência para a expressão de uma espécie de identidade do que é ser rica. Conforme a música, para ter a cara de rica basta incorporar alguns gestos e expressões corporais acompanhadas de adornos, formas no cabelo e pinturas no corpo - sobre e sob a pele.

Nesse sentido, é possível destacar três blocos de elementos relativos à música e que moldam a compreensão da formação da identidade rica em seu contexto: (i) perfil do personagem da música, (ii) itens de consumo do personagem e (iii) expressões comportamentais e simbólicas referentes ao personagem. Tais elementos estão na Tabela 1, a seguir.

Tabela 1 - Elementos da música Cara de Rica 

 Perfil do Personagem
Itens de Consumo 
Expressões  Comportamentais e Simbólicas
Mulher jovem
Toda tatuada
Manda na cidade
É bonita
Faz escova no cabelo
Está dominando
Pega ônibus às 7 (sete)
Anda sempre na moda
Não tem limite, não tem medo
Está ralando
Usa perfume importado
Ela se garante, toda poderosa

Usa sapato 36 de salto
Faz cara de rica


Ela não dá moral


Vai seduzir, fazer passar mal


Provoca porque é bonita


É perigosa


É um veneno

Está causando


Jeito menina / atitude mulher

É isso que ela quer
Fonte: Música Cara de Rica, de autoria de Erikka Rodrigues e Roberta Mattos, capturada no Youtube, 17/09/2014.

Referências Conexas

Belk. R. (1988). Possessions and extended self. Journal of Consumer Research15(2): 139-168.

Belk. R. (2013). Extended self in a digital world. Journal of Consumer Research, 40(3): 477-500.

Hall, S. (1998). A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A.

McCracken, G. (2008). Transformations: identity construction in contemporary culture. Bloomington: Indiana University Press.

Scanlon, J. R. (Ed.) (2000). The gender and consumer culture reader. New York: NYU Press.

Soutilha, D., Ayrosa, E. A. T., & Cerchiaro, I. B. (2013). Do bom e do melhor: o consumo de bens de luxo na classe C. Sociedade, Contabilidade e Gestão, 8(1):80-97.

Tonini, K. A. D., & Sauerbronn, J. F. R. (2013). Mulheres cariocas e seus corpos: uma investigação a respeito do valor de consumo do corpo feminino. Revista Brasileira de Marketing, 12(3): 77-101.

Veblen, T. (2013). The theory of the leisure class. New York: Penguin Books.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

O consumo da diversidade em Aberdeen



Aberdeen é uma cidade que está situada no nordeste da Escócia, região litorânea do Mar do Norte, e foi constituída ainda no século VIII. A cidade se orgulha de ser um lugar onde reina a diversidade. Em 2008, diversos órgãos a ela relacionados, e com o intuito de promovê-la, lançaram um cartaz (imagem que se vê acima, nesse post) explorando exatamente essa noção.

A diversidade, contemplada e explorada no cartaz, é destacada pelo fato de Aberdeen possuir, à época, 212.125 pessoas que falavam 60 línguas e professavam 14 fés diferentes. O slogan cunhado para tamanha diversidade foi o seguinte: "Todos diferentes; Todos iguais; Todos juntos; Nós somos Aberdeen"

Do ponto de vista de estudos de cultura e consumo, Aberdeen deve ser um verdadeiro laboratório a céu aberto. No presente momento, no entanto, considerando o plebiscito que ocorrerá no próximo dia 18, em que os escoceses decidirão se querem permanecer como parte integrante do Reino Unido ou se a Escócia será um estado completamente independente e autônomo, é bem possível que Aberdeen esteja em meio a um grande dilema: reafirmar a sua diversidade por meio de uma identidade continuamente relacionada ao Reino Unido ou reafirmar sua diversidade por meio de uma nova identidade meramente escocesa.