domingo, 8 de novembro de 2015

Publicação Open, porém paga



Acadêmicos precisam publicar. Sim! Não há nada de novo nisso. Acadêmicos precisam produzir conhecimento. Sim! Mais do que esperado, isso é algo desejado, sobretudo para aqueles que estão envolvidos com atividades na chamada pós-graduação stricto sensu, ou seja, com cursos de mestrado e doutorado. Na pós-graduação stricto sensu não é permitido passar todo o tempo de trabalho repetindo o sinal dos outros. É preciso produzir o próprio sinal. Mais que isso, é preciso publicar tal sinal.

Grandes editoras internacionais sabem disso e não só resolveram facilitar os trâmites para a publicação de artigos, como também perceberam que podem ganhar dinheiro criando uma espécie de novo mercado e produzindo periódicos para o mesmo, especificamente do tipo Open Journal. A Sage e a Elsevier, editoras científicas que atuam em vários países, sobretudo países de língua inglesa, fizeram exatamente isso.



O Sage Open publica artigos de ciências sociais, comportamentais e humanas. A Sage promete rápida tramitação dos artigos entre a submissão e a publicação e cobra US$ 395.00 para cada artigo que os autores submetem e que é aceito para publicação. 



A Elsevier, por meio da Science Direct, tem o MethodsX, que é focado em experimentos e Psicologia. A taxa de publicação é de US$ 520.00 por artigo. O autor pode fornecer os nomes de três possíveis avaliadores do artigo.




Outro periódico, lançado recentemente, é o Heliyon, também publicado pela Elsevier. Segundo informa a Elsevier, o Helyion publica artigos de qualquer disciplina ou campo do conhecimento humano e a taxa de publicação é de US$ 1,250.00. Os artigos são publicados em até 72 horas após o aceite.

Resta saber como pesquisadores e, sobretudo, as agências de fomento e de regulação lidarão com a existência desses periódicos a médio e longo prazo. Eles serão avaliados e classificados? Passarão a fazer parte de rankings? Os artigos neles publicados serão aceitos e citados ou serão considerados artigos menores, de baixa qualidade e estarão fadados a serem esquecidos? Com a palavra, a chamada comunidade acadêmica.

domingo, 25 de outubro de 2015

Que Horas Ela Volta?




Se você ainda não viu, não deixe de assistir. Que Horas Ela Volta é um filme raro, daqueles que divertem e fazem pensar. Dirigido por Anna Muylaert, tem Regina Casé e Camila Márdila interpretando as principais personagens, Val e Jéssica, mãe e filha, respectivamente. A propósito, Regina Casé, que é carioca, está simplesmente sensacional no papel de uma pernambucana que trabalha como empregada doméstica na casa de uma família de classe média alta de São Paulo.

Muitos observam no filme as relações sociais no Brasil contemporâneo. Particularmente, observam a relação entre a casa grande e a senzala, tendo como pano de fundo a mobilidade social recente ocorrida no país. Mas o filme é mais que isso. É a narrativa quase silenciosa da cumplicidade.    

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Guerra é moda


 

(Quase) todos querem a paz, mas alguns se vestem (como se fossem) para a guerra !

[fotos feitas das páginas de uma revista de bordo da Gol Linhas Aéreas]

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Mister Brau




Deu na edição de hoje do The Guardian: nunca antes, na história da televisão brasileira, houve um seriado com um casal de negros como protagonistas. Trata-se do seriado Mister Brau, exibido pela TV Globo às terças-feiras, às 22 horas, que tem os atores Lázaro Ramos e Taís Araújo representando os principais personagens. A narrativa do seriado sugere que os protagonistas tiveram uma trajetória de superação de dificuldades em suas vidas pessoais em direção ao sucesso. Em que pese parecer espelhar a mobilidade econômico-social acontecida em anos recentes no Brasil, é uma narrativa própria para consumo no universo da TV e do entretenimento, sobretudo tendo a música como fio condutor. Ver negros em posição de destaque na TV brasileira é algo basicamente restrito ao âmbito da música e do futebol. A rigor, a sociedade brasileira continua veladamente segregacionista, com inúmeros episódios de preconceito e intolerância racial. 

Referências Conexas

Lamont, M., & Molnar, V. (2001). How black use consumption to shape their collective identity. Journal of Consumer Culture, 1(1), 31-45.

Oliveira, J. S., & Vieira, F. G. D. (2009). Os bens de consumo como mecanismo de mediação da reprodução cultural das mulheres negras. Comunicação, Mídia e Consumo, 6(17), 73-99. 

Suarez, M. C., Motta, P. C., & Barros, C. (2009). Consumo e castigo: um retrato das relações de consumo no seriado "A Diarista". Anais do Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração, São Paulo, SP, Brasil, 33.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Ode de resistência ao consumo



Escrita por Humberto Gessinger, líder da banda Engenheiros do Hawaii, 3a. do Plural é uma canção que denuncia a corrida desenfreada para se vender as coisas. De modo inteligente e em forma de contraposição, a letra da canção ilustra dilemas relacionados a oferta de produtos e faz alusão ao poder implícito de atores econômicos que operam no mercado. Em dado momento a canção afirma que eles "não querem te deixar pensar". Por outro lado, particularmente em seu refrão, a canção insiste na pergunta: "Quem são eles? Quem eles pensam que são?"

Referências Conexas

Barros, D. F., Sauerbronn, J. F. R., Costa, A. M., Darbilly, L. V. C., & Ayrosa, E. A. T. (2010). Pirataria, não! Resistência. Um estudo sobre as práticas de resistência do consumidor brasileiro de música digital. Comunicação, Mídia e Consumo, 7(18), 125-151.

Kraemer, F., Silveira, T., & Rossi, C. A. V. (2012). Evidências cotidianas de resistência ao consumo como práticas individuais na busca pelo desenvolvimento sustentável. Cadernos EBAPE.BR, 10(3), 677-700.

domingo, 13 de setembro de 2015

Consumo do atraso ou um país sem memória?


 

Segunda-feira passada, 7 de setembro, foi celebrado mais um dia da independência do Brasil. À margem dos desfiles comemorativos foi possível observar a presença de várias pessoas, em diferentes cidades, reivindicando intervenção militar no país. Ainda não foi inventado um regime político melhor que a democracia e nele todos são livres para expressar o que bem entenderem. Todavia, é lamentável que se considere a possibilidade de intervenção militar no Brasil. Trata-se do consumo do atraso, ignorância e estupidez ou de um país sem memória?

terça-feira, 21 de julho de 2015

Entretenimento em lugar de informação e análise



Parece que esqueceram que o Jornal Nacional da Rede Globo de Televisão é um jornal - ou deveria ser um jornal. Se já não tinha análise, o jornal agora confunde informação com uma espécie de entretenimento de mau gosto. 

Ao tratar do nível de emprego (ou desemprego) no país, em uma reportagem que foi ao ar na noite de ontem (20/07/2015), o repórter trouxe São Longuinho para a reportagem, deu pulos e imprimiu um tom a sua fala como se estivesse fazendo uma matéria para o Fantástico - programa de final de semana da mesma emissora. Aparentemente, a ideia do repórter é que, considerando a queda no nível de emprego que atualmente ocorre no país, ao recuperar, ou no caso, achar o emprego de volta, o indivíduo deveria agradecer aquilo que estava perdido e foi recuperado dando três pulinhos para agradecer ao santo da Igreja Católica chamado São Longuinho - uma simpatia brasileira para quando se acha alguma coisa que estava perdida.

O jornalismo brasileiro pratica um mimetismo em relação às emissoras de TV estadounidenses com apresentadores falando em pé e circulando pelo estúdio e não mais ficando apenas sentados por trás das bancadas como antes. Agora é a vez das reportagens, em alguns casos, virarem peças de entretenimento. Pelo que se observa, pedir contextualização e análise seria pedir muito.

terça-feira, 14 de julho de 2015

Marqueteiros para o consumo ético da Filosofia


"(...) Vai pegar lá o Kotler, tem um solzinho, né? Vai lá ... é ... prá você é o máximo que dá, velho. Num, num ... você tem o teto, num tem jeito ... num, né, é ... o vento venta, a maré mareia, o sapo sapeia e você é marqueteiro. Você ... dali prá cima você não passa. Você tá dando razão pros gregos, sabe? Nasceu pá, pá, pá coió ... num, num é da, da ,,, não pode". (Clóvis de Barros Filho)
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 atesta em seu Artigo 5o., Incisos IV e IX, que é livre a manifestação do pensamento, bem como é livre a expressão de atividade intelectual, artística, científica e de comunicação. Talvez por isso algumas pessoas acreditem ter licença para falar mal de profissionais que trabalham com marketing. E não é apenas falar mal por falar ou fazer um comentário à toa. É falar mal e falar de forma agressiva.

Em alguns momentos marketing é tratado como sinônimo de enganação e manipulação, sobretudo em períodos eleitorais. De modo simplista, confunde-se marketing com comunicação, notadamente de caráter eleitoral, e por extensão julga-se o profissional de marketing como um mentiroso contumaz. Em outros momentos, toma-se o profissional de marketing como um sujeito funcionalista, reducionista. 

Agora é a vez até mesmo de um professor de Ética e Filosofia Corporativa se referir aos profissionais de marketing como profissionais limitados. Mais do que isso, como pessoas intelectualmente pobres e que encontraram em marketing uma espécie de teto máximo até onde podem ir e entender o mundo em que vivem. É o que se assiste aos 3 minutos e 22 segundos em um vídeo de um curso ministrado pelo Prof. Dr. Clóvis de Barros Filho (USP, HSM) e que foi disponibilizado no YouTube em nome do Espaço Ética - é esse mesmo o nome: Espaço Ética; você não leu errado; não se surpreenda! 

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Paredes de vidro



Já há algum tempo que uma nova possibilidade de parede é ofertada ao mercado como opção para a separação entre jardins e calçadas em residências. Trata-se da parede de vidro que tem sido usada em substituição às grades e ao tradicional uso de alvenaria - um movimento e tanto de market-shaping por parte da indústria de vidros. Clareza, transparência e luz parecem ser os principais atributos que tais paredes oferecem, além de um novo padrão de estética para a arquitetura das casas. O consumo das mesmas, no entanto, em nada lembra aquilo que se chama de consumo consciente. Pelo contrário, é um consumo que vai na contramão de ações e políticas em defesa do meio ambiente, posto que essas paredes pressupõem o uso de grande quantidade de água para serem mantidas limpas, livres de poeira, manchas, pichações e toda a sorte de sujeira que nelas possam grudar. Algo difícil de se pensar como razoável em tempos de racionamento no consumo de água.

domingo, 28 de junho de 2015

True Detective



Waking up is harder than it seems ...

Esqueça o Comissário Maigret, Hercule Poirot e Sherlock Holmes. Eles são sempre infalíveis na ficção policial, mas perfeitos demais para o mundo pós-moderno em que vivemos. Os fãs do gênero nunca conseguiram perceber uma fresta de insegurança em suas condutas, uma sombra em suas suposições, tampouco um traço de tormenta em seus cotidianos.

A ficção policial atual parece ser moldada à luz da hiper-realidade, em torno de sujeitos descentrados, com base na fragmentação cotidiana e, sobretudo, para a linguagem da TV. Aquilo que antes repousava nas páginas dos livros e apelava para a imaginação do leitor, agora vem empacotado na forma de imagens e sons. True Detective, uma série de TV, de gênero policial, exibida pela HBO, é bem assim.

Com a sua segunda temporada recentemente lançada em rede mundial, True Detective possui personagens factíveis, erráticos, com defeitos e problemas. Não há super heróis na série. Pelo contrário, eles encarnam as vicissitudes e limitações humanas, mundanas. Tais características apenas fazem a narrativa dos episódios serem mais fascinantes e cheias de mistérios e mazelas em torno das ações policiais para desvendar crimes.

As séries de TV tornaram-se um fenômeno de consumo mundial com muitos produtos e subprodutos delas decorrentes. Muitas delas converteram-se em uma espécie de franquia, com várias temporadas subsequentes. True Detective foi criada e tem o seu roteiro escrito por Nic Pizzolatto. Em sua segunda temporada tem a direção de vários diretores, como Justin Lin, por exemplo, e a participação dos atores Colin Farrell, Rachel McAdams, Taylor Kitsch, Vince Vaughn, Kelly Reilly e Michael Irby, entre outros. 

True Detective é exibida às 22 horas, aos domingos, na HBO. A bela música que foi usada no teaser da segunda temporada, e que pode ser ouvida no link que abre esse post, é cantada por Lera Lynn e foi escrita por ela, Rosanne Cash e TBone Burnett.  

Referências Conexas

Barwise, T. P., & Ehrenberg, A. S. C. (1987). The liking and viewing of regular TV series. Journal of Consumer Research, 14(1), 63-70.

Chitakunye, P., & Maclaran, P. (2014). Materiality and family consumption: the role of the television in changing mealtime rituals. Consumption, Markets & Culture, 17(1), 50-70.

Firat, A. F., & Venkatesh, A. (1995). Liberatory postmodernism and the reenchantment of consumption. Journal of Consumer Research, 22(3), 239-267.

Freitas, H., & Moscarola, J. (2002). Da observação à decisão: métodos de pesquisa e de análise quantitativa e qualitativa de dados. RAE-Eletrônica, 1(1), 1-30. 

O'Guinn, T. C., & Shrum, L. J. (1997). The role of television in the construction of consumer reality. Journal of Consumer Research, 23(4), 278-294.

Proctor, S., Papasolomou-Doukais, I., & Proctor, T. (2002). What are television advertisements really trying to tell us? A postmodern perspective. Journal of Consumer Behaviour, 1(3), 246-255. 

Way, W. L. (1984). Using content analysis to examine consumer behaviors portrayed on television: a pilot study in a consumer education context. Journal of Consumer Affairs, 18(1), 86-98.

domingo, 17 de maio de 2015

Pop Zen: o que é seu é seu?




O que, de fato, é meu, seu, nosso, dele ou dela? Nada! Não há expressão objetiva de posse humana na materialidade das coisas. Há apenas contratos, condições prévias estabelecidas entre agentes, e que mesmo assim estão sujeitos - ambos, coisas e agentes - às mudanças e transformações do tempo. Tão simples e orgânico, mas árduo de admitir, sobretudo porque parte da identidade é definida por meio da posse. Talvez o que é meu, seu, nosso, dele ou dela, esteja exatamente na condição de circularidade e movimento, onde, paradoxalmente, a identidade não estaria no reter, mas sim no transferir. De algum modo, isso é o que está poeticamente expresso na música Pop Zen, de autoria de Alexandre Leão, Manuca Almeida e Lalado, cantada por Arnaldo Antunes em especial acústico para a MTV, acompanhado pela brilhante participação do trompetista Guizado. 

Referências Conexas

Barros, D. F., & Costa, A. M. (2010). Consumo consciente e resistência. In M. A. Chauvel & M. Cohen (Org.), Ética, sustentabilidade e sociedade (pp. 175-192). Rio de Janeiro: Mauad.

Belk, R. (1988). Possessions and the extended self. Journal of Consumer Research, 15(2), 139-168.

Richins, M. L., & Chaplin, L. N. (2015). Material parenting: how the use of goods in parenting forsters materialism in the next generation. Journal of Consumer Research, 41(6), 1333-1357. 

Rousseau, J-J. (2013). Do contrato social: princípios do direito político. São Paulo: Pillares.

Scaraboto, D. (2012). From co-creation to cultures of circulation: understanding market dynamics in value-creating networks (Ph.D. Dissertation). Schulich Business School, York University, Canada.