segunda-feira, 25 de julho de 2011

Mirante da Paz, casa para a paz

 
A paz está no imaginário de todos. Simbolicamente, assume inúmeras possibilidades. Entre elas, junções como morro-asfalto, favela-bairro, pobre-rico. Tais junções sugerem uma espécie de compreensão de que a paz está nos segundos elementos: asfalto, bairro, rico. A violência, seria o oposto. A junção, portanto, engendraria uma síntese: paz. Governos e gente desavisada pensam assim.

 
Unidades de Polícia Pacificadora no Rio de Janeiro operam dentro dessa lógica. O discurso é o da ocupação, quando, a rigor, o que parece resolver é a presença do Estado com serviços básicos e não apenas com polícia.

 
A paisagem estonteante de alguns lugares do Rio de Janeiro até comungam para promover essa síntese. A paz pode até ser representada por meio do anúncio da venda de residências na favela, afixado em cima do grafite que faz parte do ponto turístico. Comércio e, sobretudo, consumo não imaginados em outras circunstâncias. O bom é que, nesse contexto, a paz pode ser tomada por meio de uma de suas principais metáforas: a casa.

Obs.: as fotos acima são do Mirante da Paz, instalado entre o bairro de Ipanema e a Comunidade do Pavãozinho, no Rio de Janeiro.

Esse post compõe uma série chamada “Nota de Viagem”. Trata-se de um conjunto de pequenas observações realizadas durante viagens.

sábado, 23 de julho de 2011

As Copas, o Paraguai, Larissa e a construção de “celebridades”

Ela estava lá. Na Copa do Mundo. Na África do Sul. Vestida com a camisa da seleção paraguaia, usando um decote generoso e com um telefone entre os seios, Larissa atraiu lentes de fotógrafos e câmeras de televisão. Um jogo, dezenas de imagens e se fez uma celebridade. Dessas que editores da mídia de difusão agradecem quando vêem aparecer e leitores e espectadores têm prazer em consumir.

A mídia, que nessas horas não recebe a denominação de imprensa, transforma o inusitado em um produto. Produto para sobrevivência. Para venda e para consumo. Depende apenas da perspectiva com que se olha.

Virou celebridade. Ganhou páginas de revistas masculinas e contratos do que popularmente se chama de publicidade. Dois anos se passaram e uma outra Copa, que não a do mundo, mas a da América do Sul, faz com que o inusitado se transforme em algo já esperado. A história se repete. E celebridades, pelo próprio modus operandi, são sinônimo de repetição. Construções midiáticas efêmeras na sociedade do espetáculo.

Referências Conexas

GOLDSMITH, Ronald E.; LAFFERTY, Bárbara A.; NEWELL, Stephen J. The impact of corporate credibility and celebrity credibility on consumer reaction to advertisements and brands. Journal of Advertising, v. 29, n. 3, p. 43-54, 2000.

MARSHALL, P. David. Celebrity and power: fame and contemporary culture. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1997.

NEWMAN, George; DIESENDRUCK, Gil; BLOOM, Paul. Celebrity contagion and the value of objects. Journal of Consumer Research, v. 38, n. 2, p. 215-228, 2011.

SLATER, Don; TONKISS, Fran. Market society. Cambridge: Polity Press, 2001.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

A amizade é um fenômeno infantojuvenil

Hoje é o dia do amigo e o dia internacional da amizade. Muito antes de a indústria cultural querer fazer crer que a amizade é algo nobre e definir uma data no calendário para sua comemoração, Platão e Aristóteles já tentavam explicar mecanismos de relacionamentos e de construção de laços entre as pessoas. Isso seria o caminho inicial para o que veio a se chamar de amizade. Antropólogos procuraram explicar como em tempos primitivos havia um processo de agrupamento entre os homens como um meio para a proteção contra riscos e ameaças. Sociólogos, posteriormente, demonstraram formas de aproximação por meio de grupos de referência como igreja, escola e família. De uma forma ou de outra, ao longo da história, a amizade é simbolicamente consumida a cada dia. No Brasil, em particular, todos são amigos, mesmo aqueles que se conhecem a menos de um dia. Ocorre que, como conceituada na modernidade, a amizade é um fenômeno infantojuvenil. Não há amizade entre adultos. Adultos apenas têm interesses em comum.

Referências Conexas

HIRSCHMAN, Elizabeth C. Comprehending symbolic consumption: three theoretical issues. In: HIRSCHMAN, Elizabeth C.; HOLBROOK, Morris B. (Ed.) Symbolic Consumer Behavior. Duluth: Association for Consumer Research, 1981. pp 4-6.

RUBIN, Lillian B. Just friends: the role of friendship in our lives. New York: Harper & Row, 1985.

WATTANASUWAN, Kritsadarat. The self and symbolic consumption. Journal of American Academy of Business, v. 6, n. 1, p. 179-184, 2005.