quarta-feira, 30 de março de 2011

Cinemas no interior do Brasil

Com a chegada da televisão ao Brasil, nos anos 1950, e com sua popularização nos anos 1960 e, especialmente, 1970, os cinemas de cidades do interior do Brasil passaram a enfrentar grandes dificuldades para manterem a exibição regular de filmes em suas salas. Mesmo a despeito do sucesso do cinema nacional nos anos 1970, época da chamada pornochanchada, os cinemas do interior encontravam dificuldades para obter público.

Com a chegada das locadoras de vídeo nos anos 1980 e com a introdução da TV por assinatura nos anos 1990, a dificuldade desses cinemas apenas foi recrudescida. Um grande número deles foi vendido e se transformou em minimercados e quitandas. Um outro tanto foi transformado em igrejas pentecostais.

Recentemente, para o prazer dos cinéfilos, tem havido um aumento na oferta de salas de cinema em todo o Brasil. Esse movimento tem sido associado à expansão da oferta de shoppings centers. Por outro lado, há, também, uma tentativa de resgate dos cinemas do interior. Alguns deles têm sido recuperados e restaurados, incorporando ambientes que funcionam como cafeterias e choperias, maximizando a oportunidade de situações de consumo de lazer e entretenimento.

Obs.: as fotos acima são do Cine São José na cidade de Brotas, Estado de São Paulo. Esse cinema foi adquirido e restaurado recentemente por ilustre personagem nascido na cidade, o cantor de músicas sertanejas Daniel.

Esse post compõe uma série chamada “Nota de Viagem”. Trata-se de um conjunto de pequenas observações realizadas durante viagens.

sábado, 26 de março de 2011

O consumo de enciclopédias

Três ou quatro décadas atrás, era praticamente impossível ser estudante ou acadêmico sem usar uma enciclopédia. Trabalhos escolares ou consultas de conhecimentos gerais, no próprio cotidiano, eram feitas lançando-se mão desse maravilhoso tipo de publicação que reúne grande volume do saber até então acumulado.

Hoje em dia, a enciclopédia caiu em desuso. O consumo de consultas online, feitas no Yahoo! e, sobretudo, no Google, desestimulou o mercado editorial ao lançamento de novas edições. A Enciclopédia Britânica em edição impressa, que era um ícone do mercado editorial, virou peça de museu. Restou a Wikipedia, que é construída coletivamente e que pode ser acessada por meio da internet – as concorrentes não têm a mesma intensidade de consumo.

Fora do Brasil, particularmente no mercado anglo-saxão, as editoras ainda insistem na publicação de enciclopédias, apesar de nem sempre darem exatamente esse nome para suas publicações. Os chamados handbooks e obras de referência são, em última análise, espécies de enciclopédias.

Um exemplo desse tipo de produto para consumo técnico, acadêmico ou geral, pode ser visto por meio das publicações da SAGE, editora britânica. A propósito, a SAGE está oferecendo acesso livre para várias de suas enciclopédias e obras de referência até o dia 23 de abril desse ano (veja imagem acima, no início deste post). Clique aqui, caso queira fazer o registro e posterior acesso ao conteúdo.

Referência Conexa

CAVEDON, Neusa R.; CASTILHOS, Rodrigo B.; BIASOTTO, Lívia D.; CABALLERO, Indira N.; STEFANOWSKI, Fabiana de L. Consumo, colecionismo e identidade dos bibliófilos: uma etnografia em dois sebos de Porto Alegre. Horizontes Antropológicos, v. 13, n. 28, p. 345-371, 2007.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Onde está o vinho em caixa?

O mercado brasileiro ainda não é maduro para o consumo do vinho. Nesse sentido, muito tem sido feito e investido para aumentar o consumo de vinho no país. Uma das medidas foi o lançamento do vinho Onorabile, cerca de seis meses atrás, pela Wine Park.

A novidade no lançamento concerniu ao uso da embalagem Tetra Pak para comercializar o vinho. A ideia inicial da empresa era promover um processo de distribuição em larga escala para a venda em supermercados.

Decorridos, no entanto, mais de seis meses do lançamento, ainda não é possível encontrar facilmente o vinho nas gôndolas dos supermercados. Resta saber se o produto na nova embalagem não está sendo distribuído como anunciado ou se há resistência para o consumo do vinho em caixa.

Referências Conexas

GARCIA-PARPET, Marie-France. Dinâmica de mercado e trajetória de produtores em face do sistema de classificação de vinhos. Revista de Administração de Empresas, v. 47, n. 2, p. 26-36, 2007.

KNIAZEVA, Maria; BELK, Russell W. Packaging as vehicle for mythologizing the brand. Consumption Markets & Culture, v. 10, n. 1, p. 51 – 69, 2007.

WRIGHT, James T. C.; JOHNSON, Bruce B.; SANTOS, Silvio A. dos. Estratégias tecnológicas para a competitividade: a indústria vinícola brasileira. Revista de Administração, v. 28, n.1, p. 44-52, 1993.

domingo, 20 de março de 2011

Produtos retrô

Por quê gostamos tanto do passado – embora nem sempre admitamos isso? Por quê temos, frequentemente, um forte sentimento de nostalgia? Será que a nossa capacidade de criar e inventar coisas novas está próxima de seu limite? Essas são perguntas que podem vir à mente quando nos deparamos com os lançamentos dos chamados produtos retrô.

Há uma tendência, por parte da indústria, ao lançamento de produtos que sugerem uma espécie de volta ao passado ou às lembranças que esse pode suscitar. Pesquisadores da área de cultura e consumo associam tais lançamentos ao fato de que uma das características mais marcantes da sociedade pós-moderna é a fragmentação do cotidiano associada a um sentimento de reconstrução do passado.

A Brastemp e a LG, por exemplo, estão entre as empresas que aderiram à onda retrô. Dentro da linha de eletrodomésticos, elas lançaram geladeira, fogão e TV com design e características físicas externas típicas de décadas passadas. Os produtos são retrô por fora, mas modernos por dentro.

Certamente, a nossa capacidade criativa não está esgotada. As empresas apenas perceberam que existe um nicho de mercado formado por consumidores que têm um sentimento nostálgico.

Referências Conexas

BROWN, Stephen. Marketing pós-moderno: vale tudo! In: BAKER, M. J. (Org.) Administração de Marketing. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. pp. 13-23.

HOLBROOK, Morris B. Nostalgia and consumption preferences: some emerging patterns of consumer tastes. Journal of Consumer Research, v. 20, n. 2, p. 245-256, 1993.

SLATER, Don. Cultura do consumo e modernidade. São Paulo, Nobel, 2002.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Um Professor em Apuros

A vida de professores universitários nunca foi tão difícil quanto em anos recentes. É preciso publicar. Paradoxalmente, publicar mesmo sem ter necessariamente o que dizer. No Brasil, as agências de fomento, como o CNPq e a CAPES, exigem produção. Produção, no caso, é sinônimo da publicação de inúmeros artigos. Há professores que conseguem tal proeza. Se são originais, frutíferos, consistentes ou se contribuem efetivamente com as suas áreas de atuação acadêmica, é uma outra coisa.

Há um filme estadounidense que aborda muito de perto essa questão da produção acadêmica por parte de professores. Lá, nos Estados Unidos, há uma forma ou sistema de avaliação que se chama “tenure track”. Em uma tradução aproximada, quer dizer caminho para a estabilidade. Em geral, são cinco anos de trabalho por parte de professores universitários, que deverão publicar de forma consistente e continuada para conseguir a estabilidade.

O filme Um Professor em Apuros não é exatamente um primor da chamada sétima arte – pelo contrário, é uma comédia até certo ponto atrapalhada –, mas ajuda a entender como funciona o sistema em busca da estabilidade. O personagem central do filme chama-se Charles, um professor de Inglês, que é interpretado pelo ator Luke Wilson. Há, ainda, dois outros personagens importantes no enredo: um professor de antropologia, interpretado por David Koechner, e uma professora de Inglês, interpretada por Gretchen Mol. O antropólogo é completamente ridicularizado durante o filme, enquanto a professora de Inglês é colocada na posição de uma boa moça. A direção é de Mike Million. O filme foi produzido em 2009.

Esse post compõe uma série chamada “Filme”. Trata-se de sugestões de filmes.

terça-feira, 15 de março de 2011

O consumidor abandonado

Empresas e associações empresariais querem fazer crer que o consumidor é respeitado nas relações de consumo no mercado brasileiro. Seria bom se não fosse uma ilusão. O poder da estrutura é completamente desproporcional à capacidade de agência, nesse caso. Consumidores são muito mais seguidores de regras do que qualquer outra coisa. A apologia em torno do código de defesa do consumidor não se sustenta diante de inúmeras situações em que consumidores são desrespeitados e empresas permanecem impunes.

Em caso de necessidade, para reclamar, acesse os seguintes websites: Denuncio, Idec, Nunca Mais, Portal do Consumidor, Proteste ou Reclame Aqui.

Referência Conexa

FILOMENO, José G. B. Manual de direitos do consumidor. São Paulo: Atlas, 2010.

terça-feira, 8 de março de 2011

Desrespeito e constrangimento causados pela Editora Abril


A Editora Abril, tradicional editora brasileira na publicação de revistas semanais e mensais, não só invade a privacidade de eventuais consumidores, como os constrange por meio do seu sistema de mailing eletrônico.

O desrespeito da Editora Abril consiste em enviar mensagens de e-mail contendo ofertas de seus produtos, sem o consentimento ou aprovação prévia por parte daqueles ou daquelas que recebem tais mensagens; ou seja, as pessoas simplesmente recebem mensagens sem terem sido consultadas previamente se autorizariam ou não o envio dessas mensagens.

Já o constrangimento se dá pela maneira como a Abril disponibiliza a possibilidade de que alguém possa retirar o seu nome do mailing (cadastro) da editora. Esse constrangimento está documentado e pode ser visto na imagem logo acima.

A Abril oferece a oportunidade de que alguém remova o seu nome do mailing porque, certamente, está ciente da legislação nacional sobre o uso de spam. Ocorre que os passos a serem seguidos para completar o descadastramento do mailing da Abril foram definidos para coagir as pessoas a desistirem no meio do processo.

São feitas 6 (seis) perguntas ao todo. Tais perguntas são absolutamente desnecessárias. Bastava que alguém respondesse algo do tipo “quero retirar meu nome do mailing”. Pronto! Isso já seria suficiente.

Aumentando o percurso do caminho, a Abril faz perguntas que parecem fazer parte de uma pesquisa de mercado – a rigor, ela aproveita a oportunidade para fazer algo semelhante. Chama a atenção no formulário eletrônico usado para o descadastramento o fato das perguntas serem feitas com o uso de linguagem subliminar. Como se não bastasse, ao final do formulário há a seguinte informação: “pense bem antes de clicar aqui”, que, em última análise, caracteriza-se como uma espécie de ameaça velada.

Desrespeito e constrangimento! É o mínimo que se pode dizer sobre a maneira como a Abril opera por meio da Internet com mailing eletrônico para a comunicação de promoções e vendas de seus produtos.

Referências Conexas

CAMPOS, Cristiane Gracia. A ilegalidade do marketing eletrônico, spam e listas de e-mails. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 56, 1 abr. 2002. Acesso em: 8 mar. 2011.

LACERDA, Tales S.; VEIGA, Ricardo T. O envio da mala direta eletrônica como condição facilitadora para o consumo: um estudo teórico-empírico. GEPROS- Gestão da Produção, Operações e Sistemas, v. 3, n. 2, p. 63-73, 2008.

SPROULL, Lee S. Using electronic mail for data collection in organizational research. Academy of Management Journal, v. 29, n. 1, p. 159-189, 1986.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Somos todos belos

Nessa época de carnaval, um fato curioso ocorre em relação à publicação das imagens de beldades na mídia: devido à enxurrada de fotos que são feitas, não há tempo nem parece haver disposição de se usar o famoso software Photoshop para a correção de imperfeições ou para o realce de detalhes do corpo.

Referências Conexas

GITLIN, Todd. Media unlimited: how the torrent of images and sounds overwhelms our lives. New York: Metropolitan Books, 2001.

ROSA, Mário. A reputação na velocidade do pensamento: imagem e ética na era digital. São Paulo: Geração Editorial, 2006.

sábado, 5 de março de 2011

A onipresença da televisão

Ela está aqui. Ela está lá. Ela está acolá. A TV, o aparelho de TV, está em todos os lugares. É praticamente impossível ir a algum lugar e não se deparar com um aparelho de TV. Ligado. Sintonizado. Invadindo os ambientes e hipnotizando a audiência.

Olha-se, mas não se vê. Ouve-se, mas não se escuta. A TV se transformou em companhia na lanchonete, no bar, no restaurante, na rodoviária, no aeroporto. Atrapalha o diálogo. Impede o silêncio. Disfarça a solidão.

Não se consome mais apenas os programas, novelas, jogos, shows e noticiários exibidos na TV. Atualmente, consome-se a TV enquanto objeto; ou melhor, consome-se a presença da TV.

Obs.: a foto acima é de um aparelho de TV em um dos restaurantes da Universidade de Lancaster,  Inglaterra.

Esse post compõe uma série chamada “Nota de Viagem”. Trata-se de um conjunto de pequenas observações realizadas durante viagens.