segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Se quiser beber, venha buscar

Durante a realização de eventos no Brasil e em vários outros países é bastante comum os participantes serem servidos por garçons que se dirigem diretamente até os lugares em que estão ou até as mesas que ocupam. Esse hábito não é necessariamente uma regra na Escócia. Lá, durante a realização de eventos sociais, é possível que convidados e participantes que quiserem desfrutar de bebidas precisem se deslocar dos seus lugares até o local onde elas são servidas. Esse hábito desperta a atenção porque, entre outras coisas, sinaliza a pouca propensão para hábitos serviçais entre os britânicos.

Obs.: na foto acima é possível observar garçons e garçonetes no centro do salão do Aberdeen Beach Ballroom, na cidade de Aberdeen, Escócia.

Esse post compõe uma série chamada “Nota de Viagem”. Trata-se de um conjunto de pequenas observações realizadas durante viagens.

domingo, 28 de novembro de 2010

Buy nothing day

Há um movimento que propõe o dia 28 de novembro como o dia mundial para não se comprar nada, absolutamente nada. A rigor, a ideia do movimento é levar as pessoas a refletirem sobre o nível de consumo e gastos que realizam em suas vidas cotidianas. Acredita-se que, em geral, consome-se mais do que o necessário para se viver.

Ainda que o movimento seja voltado para consumidores cujo perfil está relacionado à classe média e a um maior nível de instrução formal, bem como seja um movimento centrado especialmente na realidade estadounidense, onde o consumo alcançou proporções ímpares na vida social, trata-se de algo oportuno.

Naturalmente, há inúmeros desdobramentos associados à reflexão proposta, qualquer que seja a posição que se adote perante a proposição do movimento. Não comprar nada durante um dia inteiro não significa não gastar, já que se consome água, energia, espaço físico e alimentos para se viver. Por outro lado, o que se consome hoje pode ter sido comprado ontem ou pode vir a ser pago amanhã. Em ambos os casos há o ato da compra e o dispêndio de dinheiro.

Tais limitações, contudo, não obscurecem o “buy nothing day”. Em uma sociedade fragmentada, ansiosa e veloz, parar por um dia para pensar sobre o consumo desnecessário é algo culturalmente significativo.

Referências Conexas

BAUMAN, Zygmunt. Collateral casualties of consumerism. Journal of Consumer Culture, v. 7, n.1, p. 25–56, 2007.

FEATHERSTONE, Mike. Cultura de consumo e pós-modernismo. São Paulo: Studio Nobel, 1995.

KLEIN, Jill G.; SMITH, N. Craig; JOHN, Andrew. Why we boycott: consumer motivations for boycott participation. Journal of Marketing, v. 68, n. 3, p. 92-109, 2004.

KOZINETS, Robert V.; HANDELMAN, Jay M. Adversaries of consumption: consumer movements, activism, and ideology. Journal of Consumer Research, v. 31, n. 3 p. 691-704, 2004.

sábado, 27 de novembro de 2010

Papai Noel virou papel higiênico

Algum tempo atrás Papai Noel parecia significar mais do que hoje em dia. Invenção comercial, fato é que, de forma admitida ou não, foi incorporado às tradições cristãs, particularmente católicas, de celebração do Natal. Nos dias atuais, junto com árvores de Natal, Papai Noel está em quase todos os lugares, e logo cedo, desde a segunda quinzena do mês de outubro. Até papel higiênico é possível encontrar com imagens impressas de Papai Noel.

Todas as organizações sociais, coletivas, por definição, precisam de símbolos. Em alguma medida, eles ajudam a compor e dar forma aos rituais. O que acontece atualmente, contudo, é uma espécie de assassinato de símbolos do Natal.

Entre outros exemplos, isso tem ocorrido, pelo menos em parte, em função da perda da ingenuidade cada vez mais cedo, do processo de transformar crianças em adultos e de se diminuir o espaço do que é lúdico em grupos de referência como família e escola. Por outro lado, ocorre especialmente devido à intensidade dos padrões de consumo e comercialização de produtos relacionados ao Natal e seus símbolos. O curioso é que tal fenômeno produz uma espécie de paradoxo: o consumo excessivo e antecipado de símbolos do Natal faz com que tais símbolos se esvaziem em seus significados e, por conseguinte, esvaziem o próprio Natal. Papai Noel é apenas a face mais visível deles.

Referências Conexas

BELK, Russel W. Materialism and the modern U.S. Christmas. In HIRSCHMAN, Elizabeth C. (Ed.). Interpretive Consumer Research. Provo: Association for Consumer Research, 1989. pp.75-104.

BENOIST, Luc. Signos, símbolos e mitos. Lisboa: Edições 70, 1999.

McKECHNIE, Sally; TYNAN, Caroline. Social meanings in Christmas consumption: an exploratory study of UK celebrants' consumption rituals. Journal of Consumer Behaviour, v. 5, n. 2, p. 130-144, 2006.

OLIVEIRA, Josiane S. de; VIEIRA, Francisco G. D. Com os pés na Igreja e as mãos nas compras: compreendendo a influência religiosa na constituição dos significados atribuídos ao consumo de presentes de Natal por jovens cristãos. In: IV ENCONTRO DE MARKETING (2010: Florianópolis). Anais ... Rio de Janeiro: ANPAD, 2010. (Versão integral em CD-ROM do Evento)

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Consumindo a céu aberto


A ideia do consumo a céu aberto é tão antiga quanto às primeiras aglomerações realizadas para a prática de escambo entre artesãos e camponeses. Na sociedade moderna, ela se caracteriza notadamente pelas feiras livres organizadas nos bairros das cidades. Recentemente, agentes de mercado incorporaram essa concepção em torno do que chamam de open shopping, um nome palatável aos consumidores de alta e média renda. A rigor, o que hoje se define como open shopping lembra muito os calçadões que foram construídos nos centros de várias cidades brasileiras nos anos 1980.

Obs.: a foto acima é do Jurerê Open Shopping, na Praia de Jurerê Internacional, Florianópolis, Brasil.

Esse post compõe uma série chamada “Nota de Viagem”. Trata-se de um conjunto de pequenas observações realizadas durante viagens.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Com Jesus no pára-brisa e o pé no acelerador

Eles dirigem a toda a velocidade pelas ruas e avenidas. Não estão preocupados em fazer um indicativo de direção por meio da seta e tampouco respeitam a sinalização do trânsito. Pedestres devem pensar pelo menos duas vezes para atravessar a faixa quando eles estão trafegando em uma das milhares de vias urbanas. Eles são os motoristas que possuem o hábito de colocar adesivos com passagens da Bíblia ou com o nome de Jesus Cristo nos pára-brisas traseiros de seus automóveis. Tais adesivos, com dizeres como “Só o Senhor Salva”, “Jesus é o Senhor”, “Jesus me Ama”, “Guiado por Jesus” e“Deus é Fiel”, entre outros, ao mesmo tempo em que fornecem uma identidade para esses motoristas, funcionam como uma espécie de licença para fazerem o que quiserem e bem entenderem, inclusive baixarem o pé no acelerador.

Referências Conexas

BARBOSA, Lívia; CAMPBELL, Colin. Cultura, consumo e identidade. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 2006.

MARIN, Letícia; QUEIROZ, Marcos S. A atualidade dos acidentes de trânsito na era da velocidade: uma visão geral. Cadernos de Saúde Pública, v. 16, n. 1, p. 7-21, 2000.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Boicote à Harrods


A Harrods é uma das maiores referências mundiais em lojas de departamentos. Suas origens remontam ao século XIX. Nos dias de hoje possui mais de 300 departamentos e é a única loja de departamentos da Inglaterra que continua a vender roupas e casacos que têm pele de animal como matéria-prima. Ativistas do movimento contra a matança de animais costumam portar cartazes e fazer protestos em frente à Harrods conclamando as pessoas a promoverem boicote e não comprarem nenhum produto na Harrods até que ela interrompa a venda desses produtos. Por enquanto, ainda não conseguiram sucesso. Certamente, menos por seus esforços e mais pelo fato de que ainda existem consumidores para esse tipo de produto. E não são consumidores de baixa renda ou analfabetos!

Obs.: a foto acima, onde é possível se observar pessoas portando cartazes contra a matança de animais, é de uma entrada lateral da loja de departamento Harrods, em Brompton Road, Londres, Inglaterra.

Esse post compõe uma série chamada “Nota de Viagem”. Trata-se de um conjunto de pequenas observações realizadas durante viagens.

domingo, 7 de novembro de 2010

Você não pode emprestar seu e-book

Uma das boas coisas que o livro impresso em papel proporciona é a possibilidade de compartilhá-lo com alguém por meio do simples ato do empréstimo. Às vezes, por restrição orçamentária de uma das partes, como diriam os economistas, às vezes pelo prazer de dividir impressões ou, ainda, para promover uma transferência de significados, entre outras razões, o empréstimo de livros sempre representou uma possibilidade de interação entre as pessoas. Com o e-book, pelo menos a princípio, essa interação não existe!

A indústria em torno dos e-Readers e e-books entende que pode acontecer com os arquivos eletrônicos dos e-books o mesmo que tem acontecido com os arquivos de músicas obtidos por meio da internet: uma cópia em proporções incontroláveis e a praticamente certa redução ou mesmo perda da venda dos e-books. Desse modo, cria um mecanismo que impede que o e-book comprado e adicionado a um determinado e-Reader possa ser compartilhado, acessado e lido por um usuário de um outro e-Reader.

O argumento recai sobre os direitos autorais, mas a indústria preocupa-se mais com os seus ganhos, enquanto indústria, do que efetivamente com a propriedade intelectual das obras comercializadas. Os direitos autorais terminam por representar o componente chamado de politicamente correto no discurso feito para o mercado consumidor e para as agências governamentais em torno da necessidade de se evitar o compartilhamento.

A Amazon, que entre as empresas que comercializam e-Readers, é aquela que mais sucesso teve até agora, decidiu recentemente que os seus clientes poderão emprestar os e-books que possuem baseados em seus aplicativos. O detalhe é que tal empréstimo só poderá ocorrer apenas uma vez e por um período de no máximo 14 dias. Para piorar, nem todos os e-books poderão ser emprestados. Isso ainda dependerá de uma avaliação e disponibilização por parte dos agentes do mercado editorial relacionado aos e-books.

Os usuários de e-Readers podem até pagar menos pelo acesso ao conteúdo de um livro, na forma de e-book, bem como podem desfrutar de mobilidade e, ainda, encontrarem uma extrema facilidade em armazená-los, dispensando estantes, prateleiras e espaço físico em geral. Por outro lado, não poderão escrever seus nomes em seus livros e datá-los de próprio punho, assim como não poderão fazer sublinhados, setas, asteriscos, observações ou notas de leitura no canto da página. Mais ainda, não poderão compartilhá-los com quem quiserem e quantas vezes quiserem. Também não poderão doá-los a uma biblioteca se julgarem conveniente. Além disso, se estiverem precisando de dinheiro, não poderão comercializá-los em um sebo. Quanta restrição!

Referências Conexas

DENEGRI-KNOTT Janice; MOLESWORTH, Mike. ‘Love it. Buy it. Sell it’: consumer desire and the social drama of eBay. Journal of Consumer Culture, v. 10, n. 1, p. 56-79, 2010.

FURTADO, José A. O papel e o pixel – do impresso ao digital: continuidade e transformações. Florianópolis: Escritório do Livro, 2004.

McCRACKEN, Grant. Cultura e consumo: uma explicação teórica da estrutura e do movimento do significado cultural dos bens de consumo. Revista de Administração de Empresas, v.47, n.1, p.99-115, 2007.

MILLER, Daniel. The confort of things. Cambridge: Polity Press, 2009.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Literatura e moda na Cultura

 

Em suas possibilidades de construção textual, a literatura expressa e reflete, a um só tempo, as diversas dimensões da vida cotidiana. Entre elas, estão aquelas relacionadas aos artefatos e indumentárias que diferentes tempos e sociedades usam para vestir os corpos.


O aspecto material dessas indumentárias sinaliza claramente as condições de organização e estrutura produtiva das sociedades, mas é o aspecto simbólico imbricado em tais indumentárias que é capaz de proporcionar uma compreensão mais acurada das sociedades. A literatura, com efeito, captura essa sutileza por meio dos universos e personagens que constrói e reconstrói em diferentes tempos. 



Obs.: as fotos acima são do desfile “Moda e Literatura”, realizado por alunos e professores da FMU na Livraria Cultura, em 22 de outubro de 2010, na cidade de São Paulo, Brasil.

Esse post compõe uma série chamada “Nota de Viagem”. Trata-se de um conjunto de pequenas observações realizadas durante viagens.