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quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Abandono de produtos como forma de anticonsumo

Os estudos publicados no campo de cultura e consumo nos reportam fenômenos de consumo e procuram analisá-los em inúmeros eixos temáticos, desdobramentos teóricos e situações empíricas. Em geral, tais estudos abordam o processo de aproximação, aquisição, posse, uso e incorporação de objetos materiais. São pouco frequentes, ou até mesmo raros, estudos, dentro do próprio campo, que tratam de abandono de produtos ou anticonsumo. Publicado recentemente, o artigo “Motivações e significados do abandono de categoria: aprendizado a partir da investigação com ex-fumantes e ex-proprietários de automóveis” (Cadernos EBAPE.BR, v.10, n. 2, p. 411-434, 2012), de autoria de Maribel Suarez, Marie Agnes Chauvel e Letícia Casotti, de algum modo procura preencher essa lacuna. Tomando como referência para análise duas categorias de produtos, automóvel e cigarro, o artigo destaca e diferencia três tipos de abandonos: o abandono contingencial, o posicional e o ideológico. Trata-se de uma ótima contribuição no sentido de melhor entendermos como o anticonsumo pode ocorrer por meio do processo de abandono de produtos.
 
 
Marie Agnes Chauvel
 
 
Uma das autoras do artigo, a Professora Marie Agnes Chauvel, deixou-nos no último mês de julho. Francesa radicada no Brasil desde jovem, Marie realizou sua formação acadêmica em nosso país. Trabalhou como assistente e analista na área de administração em empresas brasileiras e foi professora e pesquisadora de instituições como a UFRJ, o IBMEC, a Universidade Estácio de Sá, o ISAE/FGV, a PUC-RJ e a Universidade Federal de São João Del-Rei. Escreveu vários artigos e orientou dezenas de trabalhos acadêmicos. Marie era uma referência em estudos sobre consumo no Brasil e sua ausência será sentida.

Esse post compõe uma série chamada "Olhar Acadêmico". Trata-se de observações sobre trabalhos na forma de artigos, dissertações, teses ou livros relacionados direta ou indiretamente ao campo de cultura e consumo.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

O interior paga a conta

Algo que pouca gente comenta, diz respeito à espécie de subsídio que cidades do interior do país proporcionam às grandes cidades, notadamente capitais, por meio da compra de alguns produtos. É o caso, a propósito, de revistas e automóveis.

É comum que revistas de circulação nacional, como a Veja, circulem em capitais com exemplares de conteúdo local encartados em suas edições. Veja Rio, Veja São Paulo, são exemplos. Nessas cidades o consumidor paga o preço normal da revista na banca e leva junto a edição local com programação cultural, dicas gastronômicas, etc. Já em cidades do interior, o consumidor paga o mesmo preço que o consumidor da capital, mas leva apenas o exemplar normal da edição nacional da revista. O consumidor do interior, desse modo, subsidia o consumidor da capital. Ele paga a mesma coisa, mas leva bem menos para casa.

No caso do mercado de automóveis, uma lógica semelhante tem sido empregada pelas empresas. Devido à chegada dos veículos chineses ao mercado brasileiro e a instalação de suas concessionárias em grandes centros, onde existe maior volume de consumo, outras montadoras que aqui operam há várias décadas resolveram baixar os preços praticados nos grandes centros para fazer frente aos preços, menores, oferecidos pelos chineses. Essa situação se aplica especialmente para aqueles veículos que se situam na faixa de preço entre 30 mil e 40 mil reais. Tal prática, contudo, ocorre apenas nas capitais. A justificativa é que ela não tem como ser seguida no interior porque ainda é bem reduzido o número de concessionárias chinesas em cidades menores. Isso significa que o consumidor do interior paga mais caro pelo automóvel do que o consumidor da capital.

Referências Conexas

ABREU, Cláudia B. O comportamento do consumidor diante da promoção de vendas: um estudo da relação preço-qualidade percebida. Revista de Administração de Empresas, v. 34, n. 4, p. 64-73, 1994.

WALTERS, Rockney G. Assessing the impacto of retail price promotions on product substitution, complementary purchase, and interstore sales displacement. Journal of Marketing, v. 55, n. 2, p. 17-28, 1991.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Com Jesus no pára-brisa e o pé no acelerador

Eles dirigem a toda a velocidade pelas ruas e avenidas. Não estão preocupados em fazer um indicativo de direção por meio da seta e tampouco respeitam a sinalização do trânsito. Pedestres devem pensar pelo menos duas vezes para atravessar a faixa quando eles estão trafegando em uma das milhares de vias urbanas. Eles são os motoristas que possuem o hábito de colocar adesivos com passagens da Bíblia ou com o nome de Jesus Cristo nos pára-brisas traseiros de seus automóveis. Tais adesivos, com dizeres como “Só o Senhor Salva”, “Jesus é o Senhor”, “Jesus me Ama”, “Guiado por Jesus” e“Deus é Fiel”, entre outros, ao mesmo tempo em que fornecem uma identidade para esses motoristas, funcionam como uma espécie de licença para fazerem o que quiserem e bem entenderem, inclusive baixarem o pé no acelerador.

Referências Conexas

BARBOSA, Lívia; CAMPBELL, Colin. Cultura, consumo e identidade. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 2006.

MARIN, Letícia; QUEIROZ, Marcos S. A atualidade dos acidentes de trânsito na era da velocidade: uma visão geral. Cadernos de Saúde Pública, v. 16, n. 1, p. 7-21, 2000.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Preço do estacionamento

As cidades brasileiras experimentam uma grande expansão da oferta de estacionamentos privados. Tal expansão é fruto do considerável aumento da frota de veículos em circulação no país, a qual decorre tanto das políticas governamentais favoráveis à indústria automobilística, quanto das ações de mercado empreendidas por essa indústria. Os preços para se usar estacionamentos no Brasil, contudo, são muito caros. É possível que esses preços reflitam o oportunismo do mercado em relação à “paixão” do brasileiro por carro, assim como é possível que sejam apenas resultado objetivo da expansão da frota ou, ainda, que se vinculem à violência das grandes cidades e suas ameaças, entre elas a depredação e o roubo de automóveis. Apenas a titulo de ilustração, o preço do estacionamento na região de Lake District, Inglaterra, é algo em torno de R$ 2,80 por 4 horas. Em muitas cidades brasileiras, o preço do estacionamento, pelo mesmo tempo, é em média o dobro desse valor. Detalhe: Lake District é considerado o principal parque nacional da Inglaterra, lugar para onde convergem milhares de pessoas durante o verão europeu.


Obs.: a foto acima é do principal estacionamento da Vila de Cartmel, pertencente ao município de Lancashire, região de Lake District, Inglaterra.

Esse post compõe uma série chamada “Nota de Viagem”. Trata-se de um conjunto de pequenas observações realizadas durante viagens.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Recall de automóveis no Brasil

O que está acontecendo com a indústria automobilística? Motivo de orgulho e ao mesmo tempo considerado um ícone de eficiência, o padrão de produção dessa indústria tem mostrado inúmeras falhas. Nunca foi realizado tanto recall para se reparar problemas e erros na fabricação de automóveis como nos últimos tempos. É fato que os órgãos fiscalizadores têm sido mais diligentes, assim como é fato que a imprensa anda mais atenta e crítica com o mercado. Todavia, é possível que parte das explicações possa ser atribuída à a expansão acelerada da produção em anos recentes e aos desdobramentos que tal expansão acarreta.

Realizados devido a rodas que se desprendem, rodas que travam devido ao mau funcionamento de rolamentos, aceleradores que ficam presos ou airbags que não são acionados quando necessários, entre outros motivos, os números acerca dos recalls são alarmantes. No Brasil, a Vokswagen fez um recall de quase 200 mil automóveis dos modelos Voyage e Novo Gol. A Fiat também teve problemas com o seu modelo Stilo. Até mesmo as consagradas Toyota e Honda apresentaram problemas com os modelos Corola e Fit, respectivamente. Estima-se que no primeiro caso o recall seja para 100 mil e no segundo para quase 200 mil. São números por demais eloquentes.

Costuma-se dizer que “brasileiro adora carro”. De fato, o consumo de automóveis como um símbolo imediato de mobilidade e ascensão social está presente na cultura do país. Talvez, entretanto, isso não seja tão diferente daquilo que ocorre em outros países. O que é bem provável ser diferente é o rigor da legislação dos países do hemisfério norte. Via de regra, as montadoras que operam no mercado brasileiro tendem a negar e desmentir os problemas, assim como postergar as soluções para os mesmos até o momento em que se tornam insustentáveis. Para isso, por um lado fazem uso da cultura do silêncio que lhes é própria, e por outro contam com a cultura da omissão do Governo brasileiro.

Referências Conexas

HOFFER, George E.; PRUITT, Stephen W. ; REILLY, Robert J. When recalls matter: factors affecting owner response to automotive recalls. Journal of Consumer Affairs, v. 28, n. 1, p. 96-106, 1994.

MATOS, Celso A. de; ROSSI, Carlos A. V. Consumer reaction to product recalls: factors influencing product judgement and behavioural intentions. International Journal of Consumer Studies, v. 31, n. 1, p. 109-116, 2007.

VIEIRA, Francisco. G. D. ; CRUBELLATE, João M.; SILVA, Ilse G. ; SILVA, Wânia. R. Silêncio e omissão: aspectos da cultura brasileira nas organizações. Revista de Administração de Empresas – Eletrônica, v. 1, n. 1, p. 1-14, 2002.