Os arquitetos de operações de mercado como aquisições, joint ventures, holdings e, especialmente, fusões, frequentemente lançam mão do argumento de que são boas para o país ou para o consumidor. Será?
De forma rápida e simples, resgatemos alguns casos recentes ocorridos no mercado brasileiro ou a ele relacionados. Houve uma fusão da Antarctica com a Brahma e constituiu-se a AmBev (momento 1). Posteriormente, ocorreu nova fusão entre a AmBev e a Interbrew, empresa belga, e formou-se a InBev (momento 2). Mais adiante, aconteceu uma outra fusão, dessa feita entre a InBev e a Anheuser-Busch, empresa estadounidense, criando-se a AB InBev (momento 3).
Em todos os momentos, os argumentos foram os mais nobres possíveis: desde o fortalecimento do mercado interno contra a entrada de grandes marcas internacionais à ideia de que já era hora de internacionalizar marcas brasileiras como, no caso, a Brahma. Seria bom perguntar àqueles que operam em pontos de vendas de bebida, especialmente no varejo de rua, o que acharam disso tudo! Ademais, é possível encontrar Stella Artois e Budweiser no Brasil, mas, aparentemente, o mesmo não ocorre com a Brahma na Europa e nos Estados Unidos.
Em outros casos, não no setor de bebidas, mas no varejo de eletrodomésticos, várias aquisições foram realizadas em tempos recentes: o Grupo Pão de Açúcar comprou as Casas Bahia e também o Ponto Frio, enquanto a Magazine Luiza comprou as lojas do Baú da Felicidade. Todo esse movimento no varejo de eletrodoméstico tem resultado em preços semelhantes. Em um trabalho de campo, conversei pessoalmente com uma vendedora de uma dessas lojas e ela me informou que após passarem a pertencer a um mesmo grupo, o Ponto Frio e as Casas Bahia não competem como antes e os descontos a serem repassados aos consumidores por meio de preços menores não ocorrem com a mesma frequência.
A fusão entre o Pão de Açúcar e o Carrefour não deverá criar um cenário diferente daquele criado por outras fusões e aquisições. Qualquer que seja a razão que tenha motivado a fusão, ela implica em excessivo poder de mercado. Lamentavelmente, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) não parece ter feito muita coisa para intervir nesse tipo de situação, assim como agências governamentais têm demonstrado pouca capacidade de regulação. Afora isso, fusões e aquisições ainda contam com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que poderia muito bem fomentar a pequena e média empresa em lugar de intensificar o já conhecido capitalismo de estado no país.
Aquisições, joint ventures, holdings e, especialmente, fusões, interessam mais às organizações empresariais do que aos consumidores. Esses últimos são constantemente usados como justificativa para as embrulhadas de mercado. Porém, sempre perdem. Quase tanto quanto os empregados das empresas que passam por fusão. Uma forte concentração prejudica a indústria e mais ainda os consumidores, que têm pequeno poder de agência. Fusões e aquisições como essa ocorrida entre o Pão de Açúcar e o Carrefour apenas recrudescem o caráter assimétrico das relações de consumo no mercado brasileiro.
Adendo, 29 de junho de 2011:
A manchete de primeira página no dia de hoje do principal jornal do país está na imagem abaixo. O que poderia ser feito para e por pequenas e médias empresas com R$ 4 bilhões ? O que isso significaria em termos de alavancagem da economia como um todo e na criação de novas oportunidades, tanto de negócios quanto de consumo?
Esse post compõe uma série chamada “Web News”. Trata-se de observações realizadas acerca de notícias relacionadas à temática de cultura e consumo publicadas na World Wide Web.