segunda-feira, 13 de junho de 2011

O consumo do conceito de gestão

Na língua portuguesa, o substantivo gestão denota o ato de gerir ou gerenciar que, por sua vez, é sinônimo de administrar. Pelo menos a princípio, e por questões de campo de formação e responsabilidade profissional, a gestão de organizações, lugares, recursos ou pessoas, entre outras possibilidades, deveria estar relacionada à administração. Mas, não é o que acontece.

O conceito de gestão adquiriu vários desdobramentos e passou a ser apropriado de inúmeras maneiras. Os verbos administrar, gerir ou gerenciar, não são singulares, mas sim plurais. E isso não é uma questão de inter ou multidisciplinaridade! Conselhos de classe profissionais sucumbem à fragmentação e à interpenetração, características próprias da sociedade pós-moderna. Simplesmente não demarcam formalmente quais os limites e condições em torno do exercício profissional do gestor.

Tais limites apenas recrudesceram nos últimos 20 anos. Na esteira da difusão do modo neoliberal de conduzir as organizações e estabelecer suas relações com os mercados, o conceito de gestão ganhou centralidade. Essa realidade chegou, inclusive, às universidades, onde o conceito de gestão tem sido largamente consumido.

Em um espaço cujo modelo de produção de conhecimento, via de regra, é constituído por estruturas departamentalizadas, é bastante comum se deparar com o uso do conceito e a oferta de atividades vinculadas à gestão por parte de cursos como, por exemplo, Economia, Zootecnia, Engenharia Química, Engenharia de Produção e Odontologia. Todos são gestores!

Referências Conexas

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

DRUCKER, Peter. Gestão. Rio de Janeiro: Agir, 2011.

FAYOL, Henry. Administração industrial e geral. São Paulo: Atlas, 1994.

3 comentários:

  1. Meu caro amigo Giovanni, vai aqui o meu desabafo. Administrar é o mesmo que politicar: basta estar vivo, ser alfabetizado e serás um candidato potencial para exercer... Em breve vejo um futuro não menos ingrato que o de jornalista para os administradores, que serão balizados pelo simples fato de serem capazes de pensar e agir, com formação regulamentada ou não. Infelizmente corremos o risco de entrar em extinção como profissionais especialistas... Os Conselhos de Administração que se apressem em garantir a legitimidade e a longevidade da categoria! Pois hoje não disputamos o mercado de trabalho com profissionais de Economia, Zootecnia, Engenharia Química, Engenharia de Produção e Odontologia em suas profissões. Mas a recíproca não é verdadeira...

    Grande abraço!
    Adriano

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  2. Caro professor, vai aqui meu desabafo também.
    Na minha opinião o Administrador sofre (talvez sempre sofreu) uma crise de identidade.
    No primeiro ano da graduação um professor perguntou a turma: Por que vocês escolheram o curso de Administração. Apenas 30% (ou menos) dos alunos afirmaram que escolheram porque tinham o desejo de exercer a profissão de administrar, gerir, gerenciar. Os outros 70% disseram que estavam ali porque não sabiam ainda o que queriam da vida, porque administração tem ampla oportunidades de trabalho, porque a concorrência no vestibular era razoavelmente baixa entre outras besteiras. (Exigir que um jovem de 16, 17 anos escolha uma profissão tão cedo é problemático, mas não cabe essa discussão agora)
    O fato de os próprios alunos de administração não "vestirem a camisa" da sua própria profissão colabora para que economistas, contadores, zootecnistas, engenheiros entre outros exerçam a função de administrar, gerir e gerenciar.
    Finalizando o desabafo, no último ano da graduação outro professor fez a mesma pergunta. Depois de um leve amadurecimento alguns daqueles indecisos do primeiro ano (70%) afirmaram se identificar com o curso e que continuariam no ramo, mas ainda ouvimos casos como: "não faço a mínima ideia do que vou fazer quando sair daqui...".

    Vitor Nogami

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  3. Prezados Adriano e Vitor,

    Grato pelas visitas ao blog interações quanto ao assunto do post. De fato, há um problema sério de regulamentação de profissões no Brasil. Talvez a Administração possa ser tomada como um caso emblemático. Penso que uma regulamentação, para ser bem sucedida, deveria ter acontecido tempos atrás. Nesse momento, é difícil. De fato, todos concorrem no mercado de trabalho com o administrador. E não há nada que vá mudar iso no curto prazo. O pior é que atualmente há uma faculdade de administração em quase toda esquina. É um dos cursos mais baratos para serem oferecidos por uma instituição de ensino. Além do mais, não há exames posteriores à conclusão do curso que atestem a capacidade do conclunte para o exercício da profissão.

    Abraços,

    Vieira

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