domingo, 31 de março de 2019

Sandy & Junior e a memória afetiva




Para a geração Y, Xuxa. Para a geração Z, Sandy & Junior. Antes, nostalgia era coisa do passado. Hoje, parece ser coisa do presente. Sente-se saudades do que ainda se tem, e não, necessariamente, do que se passou. É como se o presente carregasse em si, de modo simultâneo, e também ambíguo, o ter e o não ter, a presença e a distância.

O retorno da dupla Sandy & Junior aos palcos arrebatou a atenção de toda uma geração que ao longo dos anos se distanciou do chamado teen pop da dupla e foi se acostumando com funk, pagode, hip hop, rock, sertanejo e afins. Os jornais e a TV noticiam diariamente o retorno da dupla em uma turnê em várias cidades brasileiras - até agora, basicamente capitais.

Logo de início, aparentemente houve uma espécie de negação do interesse em (re)ver a dupla. Esse sentimento é algo muito comum para a análise psicológica: negar para se afirmar. É como se admitir o interesse no show de Sandy & Junior sugerisse um comportamento infanto-juvenil em um momento em que a geração Z quer se afirmar como adulta. Não obstante, os ingressos para os shows em São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, estão esgotados nas vendas online.

O fato é que a dupla não é uma dupla qualquer, mas sim uma dupla formada por irmãos. Com isso, ou seja, com a irmandade, a dupla é portadora de um símbolo cultural que é universal e que perpassa diferentes esferas da vida cotidiana. Além disso, a turnê a ser realizada tem o título de "Nossa História". Isso é mais do que suficiente para resgatar a memória afetiva de toda uma geração. Quem não tem uma história para contar?

Referências Conexas

Firat, F., & Venkatesh, A. (1995). Liberatory postmodernism and the reenchantment of consumption. Journal of Consumer Research, 22(3), 239-267.

Freud, S. (2000). A psicopatologia da vida cotidiana. Rio de Janeiro: Imago.

Holbrook, M. (1993). Nostalgia and consumption preferences: some emerging patterns of consumer tastes. Journal of Consumer Research, 20(2), 245-256.

Larsen, G., Lawson, R., & Todd, S. (2010). The symbolic consumption of music. Journal of Marketing Management, 26(7-8), 671-685. 

quarta-feira, 27 de março de 2019

A nostalgia do vinil




o vinil veio, ficou durante muitos e muitos anos, e foi embora ... 
depois voltou, após nos acostumarmos com avanços da tecnologia e facilidades do mundo digital ...
parece que está indo embora novamente !

domingo, 24 de março de 2019

Os D's de Brasília, ou sobre o consumo do poder



                                                                1 deslumbramento
                                                                2 desejo
                                                                3 domínio
                                                                4 devaneio
                                                                5 delírio
                                                                6 decepção
                                                                7 desilusão
                                                                8 depressão
                                                                9 desespero
                                                              10 demência

* colhidos, interpretados e organizados a partir de interações com colegas com experiência em cargos executivos em diferentes estruturas de poder e decisão, locais, regionais e nacionais.

quarta-feira, 20 de março de 2019

Maridoteca



Maridoteca! 
Você acredita? 
Calma! 
Não se trata de ilusão de ótica!
Ela existe - ou existiu até recentemente - em vários shopping centers brasileiros.

Salvo engano, trata-se de algo ainda não explorado por pesquisadores de consumo.

* a foto acima é de uma maridoteca de um shopping center na região Sul do Brasil.


domingo, 17 de março de 2019

Construção de mercados



EnANPAD 2019
Divisão de Marketing - Tema 4 - Construção de Mercados

O EnANPAD 2019 será realizado na Universidade Presbiteriana Mackenzie, na cidade de São Paulo, de 02 a 05/10/2019. A Divisão de Marketing traz uma nova possibilidade de submissão de trabalhos acadêmico-científicos, relativa ao tema Construção de Mercados. Os trabalhos poderão ser submetidos até o dia 16/05/2019 às 17h59min. As características dos trabalhos a serem submetidos e o estilo de formatação dos mesmos podem ser encontrados no website da ANPAD. O texto da chamada de trabalhos para o tema Construção de Mercados é o seguinte:

"Este tema visa ampliar a interconexão entre o conhecimento do campo de marketing e a noção de mercado. Prevalente nas discussões do campo de marketing até a década de 1960, essa interconexão tem voltado a tona diante do reconhecimento do papel que o mercado - sua produção e suas dinâmicas - possui na teorização e prática de marketing. O interesse no tema envolve pesquisadores inicialmente conectados com as perspectivas sociocultural do consumo, do marketing industrial, bem como da sociologia e antropologia econômica. A perspectiva ontológica que dá forma aos estudos de mercado envolve desde concepções estruturalistas do mercado, da prática, até ontologias como a Teoria Ator-Rede. Contempla, assim, estudos ou ensaios que abordam  "mercado" - a partir de mais diferentes perspectivas teóricas e metodológicas - como elemento central. Envolve estudos conectados com perspectivas emergentes na descrição dos mercados, como a de estudos construtivistas de mercado, mercado enquanto prática, exercício de agência e modelagem dos mercados, sistemas dinâmicos de mercado, entre outros. Contempla, também, estudos de mercados a partir de diferentes níveis de análise (macro, meso e micro), das noções de sistemas agregados de marketing, e da intersecção entre mercados e sociedade. Como exemplos, possíveis discussões neste tema  envolvem, entre outras, a descrição das dinâmicas que moldam um determinado mercado, formatação de mercados, análise de mercados alternativos, conflitos e papel de diferentes atores na constituição de mercado, estrutura, regulação e institucionalização dos mercados, explicações culturais, sociológicas, históricas e antropológicas para os mercados."

Palavras-chave: Sistemas dinâmicos de mercado, estudos construtivistas de mercado, prática de mercado, estruturas de mercado, relação de produção e consumo.

quarta-feira, 13 de março de 2019

Quebrada, mas à venda - salve a semana do consumidor!



A escada está quebrada. 
Todos podem ver. 
Mas mesmo assim, o supermercado a disponibiliza para venda.
E isso, porque a semana é do consumidor!

domingo, 10 de março de 2019

Carnaval, celebridades e identidade construída




É carnaval. Rio de Janeiro, Salvador, Recife, São Paulo ... enfim, Brasil afora ocorre aquela que é considerada a maior celebração em nosso país. Desde a sua origem, a festa é do povo. No entanto, não parece ser essa a impressão que se tem ao ler os jornais e revistas, ao acessar os portais da internet, ou ao assistir na TV os desfiles de blocos e escolas de samba.

Há uma contradição arquitetada com requinte na mídia de difusão. O povo parece estar lá, mas não está - meramente compõe a cena. A estrutura do enredo e a construção da narrativa tomam emprestado raízes populares, mas são materializadas por meio daquilo que se convencionou chamar de celebridades e sub-celebridades (seja lá o que isso signifique). Essas tais celebridades são quase que onipresentes em todas as telas e todas as páginas.

Quem define quem é ou deixa de ser celebridade? Como é definida a identidade de uma celebridade? Do ponto de vista antropológico, a identidade não é dada, mas sim culturalmente constituída em um determinado contexto social. Observando o carnaval por meio da mídia de difusão, é razoável supor que, paradoxalmente, celebridades são inventadas e construídas em um ambiente de negócios, e que sempre estão ligadas a algum tipo de business. O consumo difuso de diferentes fontes de entretenimento não só permite, como parece fomentar a construção de celebridades. Trata-se de um fenômeno extremamente curioso de ser observado no carnaval, posto que assume uma posição de protagonismo em detrimento daquilo que é de fato popular e que termina apenas fazendo parte da paisagem.

Referências Conexas

Driessens, O. (2013). The celebritization of society and culture: Understanding the structural dynamics of celebrity culture. International Journal of Cultural Studies, 16(6), 641-657.

Kjaegaard, A., Morsing, M., & Ravasi, D. (2011). Mediating identity: a study of media influence on organisational identity construction in a celebrity firm. Journal of Management Studies, 48(3), 514-543.

Rindova, V. P., Pollock, T. G., & Holloway, M. L. A. (2006), Celebrity firms: the social construction of market popularity. Academy of Management Review, 31(1), 50-71.

sábado, 9 de março de 2019

Citações bibliográficas como processo de construção de mercado

Em recente post no Facebook, o professor Luciano Rossoni fez a instigante observação de que está "vendo um movimento interessante nos artigos publicados: a redução no número de referências". Dando continuidade a sua obervação, Rossoni destaca que "há revisores que vêm questionando o número excessivo de referências, especialmente porque muitas delas são citadas cerimonialmente".

Essa é uma questão que realmente me parece relevante. Confesso que não sei qual é o melhor termo para tratá-la - se é que há um específico -, mas creio que deve ser amplamente debatida.

Os primeiros artigos que me chamaram a atenção por trazerem um grande número de citações foram os artigos publicados fora do Brasil. Comecei a ver muitas, mas muitas citações mesmo nos artigos que lia. Pensei se tratar de uma forma de os autores expressarem conhecimento e erudição sobre determinado tema e sinalizarem que fizeram uma boa revisão da literatura sobre determinado assunto. Isso só se ampliou ao longo dos anos.

Continuo lendo artigos publicados em periódicos internacionais repletos de citações. Não tenho um número preciso, mas arrisco dizer que algo próximo a 90% das citações que aparecem no corpo do texto dos artigos estão dentro de parênteses. Em meio as minhas aulas e em reuniões de orientação, convencionei chamar isso de citação tsunami. Passei a dizer aos meus alunos e orientandos que esse tipo de citação tenta mostrar para os editores dos periódicos e para os revisores dos artigos que o autor do texto "sabe" do que está falando e conhece o que foi publicado sobre o assunto.

A ressalva que me habituei a fazer para meus alunos e orientandos é que esse tipo de citação pode parecer positiva por um lado, mas pode trazer um problema por outro, que consiste em que o autor quase sempre perde a sua voz no texto. A uma certa altura, quando se está lendo o texto, não se sabe quem disse o quê; ou seja, até onde vai o pensamento do autor e até onde ele está fazendo paráfrases de outros textos, portanto de outros autores. 

Dentre os textos que costumo ler, essa situação me parece mais facilmente perceptível em textos de Administração. Via de regra, pouco se faz citação direta de autores - refiro-me aqui àquelas citações em que se faz transcrição literal de um trabalho e se usa aspas, etc. 

Avançando e procurando trazer o que acredito ser uma outra parte dessa questão para o debate, parece-me que o "movimento" para se fazer um grande número de citações vai além da possível condição de erudição e domínio sobre o campo. Penso que o grande número de citações pode ser associado a uma questão de mercado. 

Em algum momento no meio do caminho, editores de periódicos podem ter exercido o papel de agentes dos interesses das próprias editoras. Suponho que para as grandes editoras internacionais é importante, e necessário, ver que aqueles artigos publicados em seus periódicos são citados em um maior número possível de outros artigos. Isso confere legitimidade aos periódicos que essas editoras publicam, aumenta a influência dos periódicos e, sobretudo, o valor de mercado dos mesmos. Como esses periódicos são comercializados e têm suas assinaturas vendidas para instituições de ensino e pesquisa mundo afora, é possível compreender esse movimento como uma forma de fazer business. 

Essa expressão de business, que poderíamos entender, no limite, até como uma espécie de construção de mercado, pode ser exemplificada por meio da exigência que alguns periódicos fazem para que no processo de submissão os autores citem um determinado percentual de artigos do tipo X, Y ou Z. Como se não bastasse tudo isso, há ainda, em alguns casos, a exigência de que as citações feitas sejam relativas a publicações realizadas em anos recentes, admitindo-se a citação de artigos publicados em torno de um intervalo de até 5 anos. 

Claramente, isso é também uma forma de reiterar a ideia de mercado. Mais que isso, é uma forma de estabelecer bases não só para a realização, como também para legitimar o próprio processo de cálculo do Fator de Impacto de periódicos, posto que, salvo engano, as métricas principais de cálculo envolvem dois intervalos: um mínimo de 2 anos, e um máximo de 5 anos. E uma outra coisa: o Fator de Impacto é publicado pelo Journal of Citation Report, que pertence a Thomson Reuters, e isso é mercado.

Portanto, para concluir esse post e voltar a questão inicial do debate, penso que a redução no número de referências pode representar um movimento lento, gradual, de maior profundidade na apropriação de conteúdos acadêmico-científicos, mas que provavelmente ainda está longe de se tornar uma realidade. Em uma única frase: no que se refere à realização de citações talvez o nosso maior desafio permaneça sendo compreender as dinâmicas do campo científico e as relações que as mesmas guardam com ações de mercado e expressões de poder.

quarta-feira, 6 de março de 2019

Pizza de frigideira




Shaping market ... vi no supermercado ... não precisa ir ao forno; melhor: não precisa ter forno; é mais rápido e prático; basta preparar na frigideira!  

domingo, 3 de março de 2019

Ditados populares na parede



Tempos atrás estava a procura de um filme já antigo, e que não constava na relação de filmes disponíveis em serviços de streaming a que tenho acesso. Lembrei-me de uma antiga locadora de vídeos ainda em funcionamento na cidade. Ao chegar lá me deparei com vários ditados populares impressos e pregados na parede que ficava atrás do balcão de atendimento. Sempre achei que os ditados populares dizem muito sobre nossa cultura e sobre a maneira que pensamos. Observar os elementos discursivos que usam e tentar desvendar os seus significados e contextos é um desafio sempre presente em estudos de consumo, sobretudo pela natureza simbólica que possuem e pelo caráter de mediação que exercem na comunicação entre as pessoas. Pedi permissão para fotografar os ditados e os transcrevo abaixo, na forma em que se encontravam pregados na parede.

"Uma pequena ajuda é melhor que muita oração."

"Fome e saudades 2 coisas que eu sempre mato ... e nunca morrem."

"Quanto mais eu ouço músicas novas, mais eu gosto das antigas."

"Deus não aponta o dedo estende a mão."

"O hábito de falar com Deus ajuda o nosso jeito de falar com as pessoas."

"As vezes parece que a vida é um teste pra ver se a gente vai cometer suicídio ou homicídio primeiro."

"Para os dias bons: sorrisos, para os dias ruins: paciência, para todos os dias: fé."

"O mal do homem é errar com a mulher certa. E o da mulher é insistir no homem errado."

"Deus não vive em igreja. Vive em você."

  "Muitas pessoas gastam dinheiro que não tem, para comprar coisas que não precisam, para impressionar pessoas que não gostam."

"Quem mata o tempo não é assassino. É um suicida."

"Filho, tem muita gente colocando preço na Fé. Você não tem que pagar ninguém para Deus te ajudar."

"Viver sem ler é perigoso, te obriga a crer no que te dizem."

"Acredite em si mesmo, pois até a sua sombra te abandona no escuro."

"O tempo não muda as pessoas, ele mostra quem elas realmente são."

"Escolha pessoas que te fazem perder a hora e não seu tempo."

"Faça o bem porque o mundo vai mal!"

"Nem teus próprios inimigos podem lhe causar tanto dano quanto os teus pensamentos."

"Quem come do fruto do conhecimento é sempre expulso de algum paraíso."

"As mãos que ajudam são mais sagradas do que os lábios que rezam."

"A fé não dá respostas, só impede perguntas."

"Quem não luta pelo futuro que quer, tem que aceitar o futuro que vier."

"Saia do conforto do cotidiano e entre no conflito da mudança."