sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Avatares da sustentabilidade visitam o Brasil

 
Al Gore é um sujeito bem intencionado. James Cameron é um cineasta para pouca gente colocar defeito. Os dois vêm ao Brasil para falar sobre sustentabilidade no Fórum Internacional de Sustentabilidade que ocorrerá dentro de exatamente um mês em Manaus, Amazonas. Um estadounidense e um canadense no Brasil para ensinar brasileiros e não-brasileiros a preservarem a Amazônia. Que ideia!

Referências Conexas

BURSZTYN, Marcel. (Org.) Ciência, ética e sustentabilidade: desafios ao novo século. São Paulo: Cortez; Brasília: UNESCO, 2001.

FERREIRA, Leila da C. A questão ambiental: sustentabilidade e políticas públicas no Brasil. São Paulo: Boitempo, 1998.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Pirulitos bizarros

Os britânicos conquistaram o mundo e construíram um império tão amplo que diziam sempre haver sol em algum lugar desse império. Como uma das decorrências da conquista de tantas terras longínquas e da convivência com tantas culturas diferentes, os hábitos alimentares e os produtos usados na sua culinária são bastante variados e, por conseguinte, deram origem a novos gostos não só na própria Grã-Bretanha, como também nos países que foram por ela colonizados.

Algo que ilustra bem essa variedade, e que para nós brasileiros pode parecer no mínimo bizarro, é a produção de balas, doces e guloseimas da fábrica Hotlix, que fica em Grover Beach, Califórnia, Estados Unidos. Um exemplo da produção dessa fábrica é o pirulito no sabor morango, com um recheio na forma de um escorpião. Uma caixa desse pirulito, com 36 unidades, custa 81 dólares, o que corresponde a cerca de R$ 4,00 a unidade. Fico pensando se algo do gênero seria bem recebido se fosse lançado no mercado brasileiro.

Referências Conexas

FRANZÃO, Elizabeth; ALLSHOUSE, Jane E. Novos atributos dos alimentos e o comportamento do consumidor. Revista de Administração da USP, v. 30, n. 4, p. 65-76, 1995.

LEE, Mira; CHOI, Yoonhyeung; QUILLIAM, Elizabeth T.; COLE, Richard T. Playing with food: content analysis of food advergames. Journal of Consumer Affairs, v. 43, n. 1, p. 129-154, 2009.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Cinderelas do carnaval

Outro dia li uma reportagem da BBC Brasil sobre um livro que foi lançado na Espanha em que personagens antológicos da literatura infanto-juvenil se rebelam e desempenham papéis completamente distintos daqueles que lhe foram atribuídos em histórias originais. Trata-se do livro “La Cenicienta Que No Queria Comer Perdices”, de autoria de Nunila López Salamero (texto) e Myriam Cameros Sierra (ilustrações), cuja tradução é “a Cinderela que não queria comer perdizes”.

O livro, que está disponível no formato pdf na web, retrata a mudança de comportamento da Cinderela. Ela se rebela ao perceber que era maltratada, que tinha que fazer constantes regimes para caber nas roupas com manequins de baixa numeração, e que tinha que enfrentar um marido que deixou de ser um príncipe e virou um machão. No livro, Cinderela deixa o baile após a meia noite e ainda se separa do príncipe encantado. As autoras do livro quiseram, assim, e de uma forma bem humorada, apontar um novo patamar de ação feminina e da atmosfera da suas relações para com os homens no Século XXI.

Eu lembrei dessa reportagem e do livro porque vi cenas do último carnaval em que algumas mulheres tatuaram os nomes de seus parceiros em parte íntima de seus corpos e, ao mesmo tempo, fizeram questão de exibi-los para a mídia de difusão. O que será que Nunila e Myriam, autoras do livro, teriam a dizer sobre isso se estivessem passando o carnaval no Brasil?

Referências Conexas

INFANTE, Anelise. Cinderela larga príncipe e Branca de Neve toma Prozac em livro na Espanha. BBC Brasil, Cultura & Entretenimento, 14 jan. 2010.

SALAMERO, Nunila L.; SIERRA, Myriam C. La cenicienta que no queria comer perdices. Barcelona: Planeta, 2009.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Conveniência das farmácias

A Resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para que as farmácias, a partir de hoje, vendam apenas medicamentos e produtos de higiene pessoal, coloca em debate diversas questões, entre elas, a eficiência dos agentes de mercado, a ética do livre comércio e a capacidade de regulação e controle do mercado por parte do Estado Brasileiro. Tais questões estão no centro da atividade econômica e não necessariamente seguem percursos convergentes.

Sob a perspectiva das farmácias tipicamente inseridas na categoria de pequenas empresas, que possuem pequeno capital de giro e estrutura operacional reduzida, a decisão da Anvisa é um verdadeiro bálsamo. Ela resgata, mesmo que restrita, a possibilidade de maior competição em um segmento de mercado cujo nível de concorrência acirrou-se substancialmente na última década.

Para farmácias de maior porte ou inseridas em redes locais ou regionais, por outro lado, a determinação da Anvisa é sinônimo de franco retrocesso e diminuição de faturamento. A venda de produtos de conveniência tornou-se parte importante da estratégia de relacionamento com o mercado e as levou a um reposicionamento perante os consumidores. O conceito de farmácia como conhecíamos antes, não existe mais já faz algum tempo. Tanto é que, de modo bizarro, tais farmácia, especialmente aquelas que funcionam no regime de 24 horas por dia, muitas vezes recebem telefonemas durante a madrugada com pedidos para a entrega não de medicamentos, mas sim de refrigerantes, sorvetes e biscoitos, entre outros diferentes produtos de conveniência.

A decisão da Anvisa procura reafirmar que o foco de mercado das farmácias é, ou deveria ser, a venda de produtos farmacêuticos e de higiene pessoal. Ocorre que o mercado é dinâmico, produz e reproduz novas formas de interação e comercialização, as quais não são equânimes. Parte da eficiência do mercado, e também da sua ineficiência, decorre dessa dinâmica – é o típico caso da incorporação de produtos de conveniência ao mix de produtos das farmácias. A ação de regulação e controle do mercado por parte do Estado, portanto, não deveria ser flagrantemente tão morosa.

A grande indústria de produtos de conveniência, que curiosamente ainda não veio à baila nesse debate, certamente não está satisfeita com a Resolução da Anvisa. A efetivação da medida implicará em significativa redução no número de pontos de venda para os produtos da indústria e, consequentemente, em menor volume de negócios. Produtos de conveniência, em geral, oferecem reduzida margem de lucro individual e precisam de grande giro de estoque para se tornarem rentáveis para quem os vende. Logo, as farmácias tornaram-se importantes agentes para a indústria de produtos de conveniência, mesmo a despeito do dissabor inicialmente causado em quitandas e supermercados.

Diante dessa situação, há que se avocar princípios éticos que deveriam balizar a venda de produtos de conveniência por farmácias. A regulação e o controle do Estado, definindo, por exemplo, subcategorias de produtos de conveniência passíveis de comercialização pelas farmácias, e não todo e qualquer produto, pode ajudar nesse sentido. Seria uma forma de não obscurecer o fato de que para os consumidores a existência de inúmeros pontos de venda de produtos é um ótimo negócio, pois proporciona comodidade e rapidez para a aquisição do que precisam, seja um medicamento ou um produto de conveniência. Nesse caso teríamos não farmácias de conveniência, mas sim a conveniência das farmácias.

Referências Conexas

BARROS, José A. C. Estratégias mercadológicas da indústria farmacêutica e o consumo de medicamentos. Revista de Saúde Pública, v. 17, n. 5, p. 377-386, 1983.

MONTE, Edmar F.; SOUZA FILHO, José C. de. Varejo de medicamentos no Brasil: uma visão comparativa com a tendência mundial. In: III SEMEAD - SEMINÁRIOS DE ADMINISTRAÇÃO (1998: São Paulo). Anais ... São Paulo: FEA-USP, 1998.

PEREIRA FILHO, Edson. Proibição de conveniências divide o setor farmacêutico. O Diário do Norte do Paraná, Maringá, 11 fev. 2010. Zoom, p. A3.

VIEIRA, Francisco G. D.; CRUBELLATE, João M.; SILVA, ILse G.; SILVA, Wânia R. Silêncio e omissão: aspectos da cultura brasileira nas organizações. RAE– Eletrônica, v. 1, n. 1, p. 1-14, 2002.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Pena Branca

O falecimento de Pena Branca na última segunda-feira traz tristeza para os amantes da música caipira e para os que apreciam a viola como instrumento musical. Nunca gostei de música caipira, mas, paradoxalmente, sempre gostei do som da viola. Quando criança, costumava ouvir sons de viola nas feiras livres e no mercado central, quando acompanhava minha mãe nas compras, geralmente nas manhãs de sábado.

Pena Branca pertenceu a uma geração de músicos, considerados caipira de raiz, que não foram alavancados profissionalmente por meio do trabalho desenvolvido por assessores poderosos ou que lançavam mão do jabaculê. Passa para a história da música brasileira por talento e autenticidade, que foram construídos e compartilhados com seu irmão Xavantinho, falecido pouco mais de dez anos atrás.

A indústria musical sempre aproveita essas ocasiões para relançar CDs constantes em seus catálogos musicais e para reunir artistas com o objetivo de prestar uma “homenagem” àqueles que já se foram. Tal “homenagem”, a rigor, não passa de um eufemismo, pois, seja feita por gravadoras ou por artistas individuais, tem sobretudo o sentido de aproveitar a ocasião da morte de alguém para lançar um novo produto no mercado fonográfico.

Pena Branca foi o nome artístico escolhido por José Ramiro. Um nome bastante simbólico para um músico negro que se insere entre aqueles que nos ajudam a lembrar que, como diz Fernando Brant em bela letra escrita para uma música de Milton Nascimento, “o Brasil não é só litoral”.

Referências Conexas

CALDAS, Waldenyr. Acorde na aurora: música sertaneja e indústria cultural. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1977.

SOUZA, Walter. Moda inviolada: uma história da música caipira. São Paulo: Quiron, 2005.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Um carro brasileiro

Brasileiro adora carro. É o sonho de consumo. Não necessariamente se dirige bem nas ruas e rodovias, mas o país tem campeões mundiais de Fórmula 1 e mais um tanto de pretendentes a títulos importantes no automobilismo. A redução no IPI para automóveis aumentou consideravelmente a procura de carros em todos os recantos, e mais ainda em regiões com menor poder aquisitivo como o norte e o nordeste, que proporcionalmente compraram mais carros do que as regiões sudeste e sul. O ano de 2009 foi pródigo em vendas.

O aquecimento do mercado parece ter ressuscitado o sonho de um carro brasileiro, o qual se configura no lançamento do Stark, um jipe off-road. Tendo em vista, contudo, o modo de produção da indústria automobilística, é difícil imaginar um carro exclusivamente brasileiro, pois os componentes têm diferentes origens e não é de todo simples fechar o ciclo de produção de um veículo de forma própria. Há questões de excelência técnica, produtividade ou custo mais baixo, que aconselham a buscar fontes externas. É assim que tem sido.

A Gurgel Motores, entre os anos 1969 e 1995, tentou produzir carros genuinamente brasileiros. A exceção ficava por conta dos motores que equipavam os veículos, os quais eram fornecidos pela Volkswagen. Naquela época, especialmente durante os anos 1970, algumas pessoas viviam o ufanismo de dirigir um carro brasileiro. Hoje, os sentimentos são diferentes. O mercado foi aberto e há muitas opções. O Stark parece estar fadado a ficar restrito a um pequeno nicho de mercado - não mais que isso.

Referências Conexas

BAPTISTELLA FILHO, Humberto; MAZZON, José A.; GUAGLIARDI, José A.; POPADIUK, Silvio. Fatores determinantes na preferência por marcas de automóveis. Revista de Administração da Universidade de São Paulo, v. 15, n. 2, p. 66-72, 1980.

CONSONI, Flávia L.; CARVALHO, Ruy de Q. Desenvolvimento de produtos na indústria automobilística brasileira: perspectivas e obstáculos para a capacitação local. Revista de Administração Contemporânea, v. 6, n. 1, p. 39-61, 2002.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

SS solidariedade


Duas atrizes estadounidenses, Sandra Bullock e Scarlett Johansson, resolveram ajudar o Haiti. Sandra anunciou a doação de US$ 1 milhão e Scarlett leiloou um encontro com um fã. Sandra está no filme “Um Sonho Possível” e Scarlett está na peça de teatro “A View from the Bridge”. Sandra está no circuito mundial do cinema e Scarlett está na Broadway, meca do teatro em Nova Iorque. Sandra concorre ao prêmio de melhor atriz no próximo Oscar pela sua atuação no filme e Scarlett busca credibilidade como atriz por meio da peça escrita por Arthur Miller.

Referências Conexas

ALBERT, Steven. Movie stars and the distribution of financially successful films in the motion picture industry. Journal of Cultural Economics, v. 22, n. 4, p. 249-270, 1998.

GOLD, Lorna. The sharing economy: solidarity networks transforming globalization. Hants: Ashgate Publishing, 2004.

MARCHESINI, Fernando R. de A. O processo de gerenciamento de impressões como instrumento de busca de legitimidade no ambiente sócio-cultural. Rio de Janeiro: FGV-EBAPE, 2002. (Dissertação de Mestrado em Gestão Empresarial)

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Repatriados para entretenimento e consumo

Impressiona a que ponto chegou a indústria do futebol e o seu alcance em todo o mundo. A cadeia de negócios que o envolve diretamente ou que se estabelece em seu entorno é extraordinária. Desde produtos simples e elementares para a sua prática, como bola, chuteiras e uniformes, passando pela pesquisa e desenvolvimento de tratamentos médicos para a recuperação de atletas, até contratos de satélites de comunicação para a transmissão das partidas, quase tudo no futebol parece desfrutar de magnitude. O jogador, todavia, continua sendo elemento central nessa cadeia de negócios.

A FIFA sugere que a indústria do futebol gira mais de US$ 250 bilhões por ano e que uma a cada seis pessoas em todo o mundo está envolvida, direta ou indiretamente, com a indústria do futebol. São números muito eloquentes e que explicam o espaço que o futebol ocupa em diferentes órgãos de imprensa. Nos últimos dias, a mídia tem repercutido de modo retumbante a volta de jogadores brasileiros que atuavam no exterior e agora compõem o elenco de clubes do país. Alimenta-se a esperança do aumento da audiência, de mais cotas de publicidade e, assim, mais recursos para e na indústria. Em ano de copa do mundo o futebol torna-se superlativo. Espetáculo para entretenimento e para consumo.

Referências Conexas

CLEMENTE, Claudelir C. Redes transnacionais entre profissionais “expatriados” ou expats. Ponto-e-Vírgula, n. 3, p. 13-137, 2008.

GONÇALVES, Julio C. de S.; CARVALHO, Cristina A. A mercantilização do futebol brasileiro: instrumentos, avanços e resistências. Cadernos EBAPE.BR, v. 4, n. 2, p. 1-27, 2006.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Um livro por ano

Um fenômeno de mercado despertou a minha atenção entre o final do ano passado e o início desse ano. Os livros têm sido objeto de um trabalho bem mais articulado de lançamento e divulgação para consumo no período que compreende as festividades de final de ano e o verão que, como sabemos, coincide com o período das férias escolares. Antes havia destaque quase que exclusivo para os filmes que seriam lançados e exibidos nos cinemas nesse período, bem como para os DVDs que chegariam às locadoras visando ampliar os catálogos e oferecer mais opções de escolha para locação.

A indústria editorial está mais madura e adota técnicas mais arrojadas para a relação com o mercado, mas os resultados ainda deixam a desejar no que se refere à formação do hábito de leitura no país, o qual também depende de ações governamentais. Segundo dados da pesquisa Retratos da Leitura, realizada pelo Instituto Pró-Livro, os brasileiros lêem um livro por ano. É muito pouco! E issso, somando-se toda a espécie de livros disponíveis, desde romances e didáticos, até religiosos, o que inclui a Bíblia.

De acordo com a pesquisa, livros significam conhecimento, crescimento profissional e desenvolvimento cultural, entre outras representações simbólicas. Curioso é que, ainda conforme a pesquisa, uma entre cada quatro pessoas não fazem a menor ideia sobre o papel da leitura. Talvez isso esteja relacionado ao alto índice de analfabetismo no país, o qual circula em torno de 10%. De qualquer modo, lembra-me o caso que certa feita ouvi sobre uma universidade paulista que definiu “a importância do laser na vida do homem” como tema de redação para o vestibular. Na oportunidade, mais de 50% dos vestibulandos foram reprovados logo de saída ao fazerem redação no primeiro dia de exames. Lamentavelmente, confundiram laser com lazer e, assim, como se diz na linguagem dos cursinhos pré-vestibulares, zeraram a redação.

Referências Conexas

ADKINS, Natalie R.; OZANNE, Julie L. The low literate consumer. Journal of Consumer Research, v. 32, n. 1, p. 93-105, 2005.

HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil. São Paulo: EDUSP, 2005.

LAJOLO, Marisa; ZILBERMAN, Regina. A formação da leitura no Brasil. São Paulo: Ática, 1998.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Avatar, mas pode chamar de rua sem saída

Serão anunciados amanhã os candidatos ao Oscar 2010. Aparentemente, não há ameaças para Avatar, que já ganhou o Globo de Ouro 2010 de melhor filme de 2009. O Globo de Ouro serve como uma prévia do Oscar, e se não oferece o mesmo prestígio, oferece maior credibilidade, posto que, pelo menos a princípio, não envolve o sentimentalismo que cerca a premiação do Oscar, mas sim a avaliação crítica da Associação de Correspondentes Estrangeiros de Hollywood, que é quem concede o prêmio. De qualquer modo, sentimentalismos ou críticas à parte, cinema é business e a própria existência da Associação apenas revela o interesse e a penetração que a indústria do cinema tem no mundo inteiro.

O diretor de Avatar, James Cameron, é um cineasta canadense que entende como poucos a indústria do cinema. Se havia alguma dúvida sobre o seu lugar na história dessa indústria por ter dirigido Titanic, agora é uma missão árdua imaginar que se trata de um acaso. Em 1998, com Titanic, ele recebeu 14 indicações ao Oscar e ganhou 11, incluindo melhor diretor e melhor filme de 1997. Ele faz filme para estadounidense ver e o resto do mundo também.

Avatar tem apelos de ordem universal e absolutamente contemporâneos. O principal deles, e que perpassa todo o filme, relaciona-se ao meio ambiente. Apresenta-se a noção de interdependência entre os seres vivos, foca-se na relação homem-natureza e, por conseguinte, faz-se uma defesa do conceito de homeostase. Os heróis do filme arriscam contrariar as ordens de uma grande corporação para salvar os habitantes de Pandora, uma espécie de planeta distante que contém um minério raro, capaz de resolver os problemas de energia da Terra.

A causa ambiental é universal, todavia sensibiliza mais os consumidores das classes média e alta do que os de baixa renda. Isso pode ser bem ilustrado por meio da personagem da cientista vivida por Sigourney Weaver em Avatar, ainda que as convicções profissionais da personagem a aproximem da causa ambiental. A propósito, ao usar em uma das cenas de Avatar uma camiseta da Stanford University, onde estudou no início dos anos 1970, Sigourney Weaver remete o espectador aos tempos em que ela militava como estudante em Stanford e era próxima do movimento hippie. Os hippies de antes e os de hoje continuam tentando salvar o planeta.

Independente de ter se tornado um fenômeno nas bilheterias, mesmo a despeito de que o custo do ingresso seja maior pelo fato do filme ser 3D, Avatar é uma rica experiência para aqueles que gostam de ir ao cinema. Parte do seu sucesso, talvez a maior, deve-se à tecnologia cinematográfica nele empregada. Parte, mesmo que pequena, pode ser atribuída ao seu apelo ambiental. Defender o meio ambiente é, no mínimo, ser politicamente correto. Por outro lado, salvar os habitantes de Pandora é uma forma simbólica de salvar Pandora. Ocorre que o único lugar em que organizações ou pessoas conseguem salvar algum planeta é na tela do cinema ou da televisão. Parece não haver saída para essa questão. Para perceber isso, basta observar o resultado da COP 15, a Conferência do Clima de Copenhague, realizada sob os auspícios da ONU em dezembro do ano passado.

Referências Conexas

GUEDES, Ana L. Empresas transnacionais e questões ambientais: a abordagem do realismo crítico. Revista de Sociologia e Política, n. 20, p. 25-42, 2003.

HOLBROOK, Morris B. Popular appeal versus expert judgments of motion pictures. Journal of Consumer Research, v. 26, n. 2, p. 144–155, 1999.

OLIVEIRA, Josiane S. de; VIEIRA, Francisco G. D. Produção simbólica e sustentabilidade: discutindo a lógica da salvação da sociedade pela mudança nos modos de consumo. Caderno de Administração, v. 16, n.2, p. 35-43, 2008.