segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Avatar, mas pode chamar de rua sem saída

Serão anunciados amanhã os candidatos ao Oscar 2010. Aparentemente, não há ameaças para Avatar, que já ganhou o Globo de Ouro 2010 de melhor filme de 2009. O Globo de Ouro serve como uma prévia do Oscar, e se não oferece o mesmo prestígio, oferece maior credibilidade, posto que, pelo menos a princípio, não envolve o sentimentalismo que cerca a premiação do Oscar, mas sim a avaliação crítica da Associação de Correspondentes Estrangeiros de Hollywood, que é quem concede o prêmio. De qualquer modo, sentimentalismos ou críticas à parte, cinema é business e a própria existência da Associação apenas revela o interesse e a penetração que a indústria do cinema tem no mundo inteiro.

O diretor de Avatar, James Cameron, é um cineasta canadense que entende como poucos a indústria do cinema. Se havia alguma dúvida sobre o seu lugar na história dessa indústria por ter dirigido Titanic, agora é uma missão árdua imaginar que se trata de um acaso. Em 1998, com Titanic, ele recebeu 14 indicações ao Oscar e ganhou 11, incluindo melhor diretor e melhor filme de 1997. Ele faz filme para estadounidense ver e o resto do mundo também.

Avatar tem apelos de ordem universal e absolutamente contemporâneos. O principal deles, e que perpassa todo o filme, relaciona-se ao meio ambiente. Apresenta-se a noção de interdependência entre os seres vivos, foca-se na relação homem-natureza e, por conseguinte, faz-se uma defesa do conceito de homeostase. Os heróis do filme arriscam contrariar as ordens de uma grande corporação para salvar os habitantes de Pandora, uma espécie de planeta distante que contém um minério raro, capaz de resolver os problemas de energia da Terra.

A causa ambiental é universal, todavia sensibiliza mais os consumidores das classes média e alta do que os de baixa renda. Isso pode ser bem ilustrado por meio da personagem da cientista vivida por Sigourney Weaver em Avatar, ainda que as convicções profissionais da personagem a aproximem da causa ambiental. A propósito, ao usar em uma das cenas de Avatar uma camiseta da Stanford University, onde estudou no início dos anos 1970, Sigourney Weaver remete o espectador aos tempos em que ela militava como estudante em Stanford e era próxima do movimento hippie. Os hippies de antes e os de hoje continuam tentando salvar o planeta.

Independente de ter se tornado um fenômeno nas bilheterias, mesmo a despeito de que o custo do ingresso seja maior pelo fato do filme ser 3D, Avatar é uma rica experiência para aqueles que gostam de ir ao cinema. Parte do seu sucesso, talvez a maior, deve-se à tecnologia cinematográfica nele empregada. Parte, mesmo que pequena, pode ser atribuída ao seu apelo ambiental. Defender o meio ambiente é, no mínimo, ser politicamente correto. Por outro lado, salvar os habitantes de Pandora é uma forma simbólica de salvar Pandora. Ocorre que o único lugar em que organizações ou pessoas conseguem salvar algum planeta é na tela do cinema ou da televisão. Parece não haver saída para essa questão. Para perceber isso, basta observar o resultado da COP 15, a Conferência do Clima de Copenhague, realizada sob os auspícios da ONU em dezembro do ano passado.

Referências Conexas

GUEDES, Ana L. Empresas transnacionais e questões ambientais: a abordagem do realismo crítico. Revista de Sociologia e Política, n. 20, p. 25-42, 2003.

HOLBROOK, Morris B. Popular appeal versus expert judgments of motion pictures. Journal of Consumer Research, v. 26, n. 2, p. 144–155, 1999.

OLIVEIRA, Josiane S. de; VIEIRA, Francisco G. D. Produção simbólica e sustentabilidade: discutindo a lógica da salvação da sociedade pela mudança nos modos de consumo. Caderno de Administração, v. 16, n.2, p. 35-43, 2008.

4 comentários:

  1. Caro Francisco,

    gostei do seu texto... Vou assistir ao filme... Ah! Também é legal a sua idéia de incluir as "referências conexas" após cada post. Parabéns!!!

    Abraços e tudo de bom,

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  2. Professor,

    Assisti o filme e realmente existe esse apelo para as causas ambientais.
    O que me parece é que essas questões viraram "moda", em alguns momentos todo mundo começa a falar sobre isso, como vemos no filme, mas com certeza o que está faltando é agir e colocar em prática (na realidade) o que ainda parece apenas discussão.

    Ótima abordagem do tema!

    Parabéns, pois o Blog é um ótimo espaço para reflexão e estou gostando muito.

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  3. Olá Giovanni!
    Adorei o filme! Independentemente das questões ambientais, sociais, ou de qualquer outro tipo de reflexão que o filme propõe, o melhor mesmo, pra mim, foi ir ao cinema nas férias, estar com meus amigos, rir muito, comer pipoca....Isso não tem preço, assim como a sua amizade!

    Parabéns pelo seu blog! Adorei!!!

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  4. Olá prezado amigo.

    Assisti ao filme, em 3D. Filme muito bom, mas que repete cliches já antigos no cinema (principalmente extraídos, se não me engano, de Star Wars). Há, paralelamente há questão ambiental, um fundo panteísta no filme, também evidente em Star Wars. Neste sentido, a divindade é colocada no mesmo plano da natureza, isto é, como parte do grande todo ao qual se dá o nome de Natureza (se não me engano também, a antiga Physis, do primeiros filósofos gregos). O pensamento judaico e, depois, o cristianismo, foram os responsáveis por colocar a divindade em uma ordem superior ao plano da natureza. Daí vai uma sugestão de leitura (se me permite), isto é, o livro ´Milagres´, do C.S. Lewis, que discute a questão do naturalismo versus sobrenaturalismo.
    No demais, vai também um grande abraço a você do João Marcelo.

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