quinta-feira, 28 de abril de 2011

O terceiro setor ainda está na moda?

Em 1998 foi sancionada a Lei 9.637/98, que qualificou organizações para o exercício de atividades sociais. Em 1999 foi aprovada a Lei 9.790/99, que instituiu as chamadas organizações da sociedade civil de interesse público e passou a ser conhecida como o Marco Legal do Terceiro Setor. De lá para cá, mais de uma década depois, o terceiro setor recebeu atenção, despertou considerável interesse e tem sido consumido na forma de estudos, empreendimentos e mercado de trabalho. Não obstante, mesmo a despeito da profusão de debates a seu respeito, especialmente em um momento em que se procura rediscutir o seu Marco Legal, o terceiro setor parece ter saído do radar acadêmico. Já não se publica estudos sobre o assunto como antes.

Referências Conexas

FERNANDES, Rubem C. Privado porém público: o terceiro setor na América Latina. 2ª. ed. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1994.

FISCHER, Rosa M. Estado, Mercado e Terceiro Setor: uma análise conceitual das parcerias intersetoriais. Revista de Administração, v. 40, n. 1, p. 5-18, 2005.

SZAZI, Eduardo. Terceiro setor: regulação no Brasil. 4ª. ed. São Paulo: Peirópolis, 2006.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Pacientes são consumidores

Na semana passada, o Professor Paul Krugman escreveu no The New York Times que “pacientes não são consumidores”. Ele está completamente contrariado sobre como o mercado de serviços médicos tem sido moldado nos Estados Unidos. Infelizmente, o Professor Krugman está equivocado! Ele ganhou um prêmio Nobel, mas enganou-se nesta questão. O mercado tem ultrapassado diferentes fronteiras ao longo da história e a transformação de pacientes em consumidores não é uma surpresa. O conceito de consumo está além da compra de coisas materiais e a relação entre médicos e pacientes está longe de ser a mesma de antes. Por diferentes razões, o sistema de assistência médica tem sido visto como um mercado. Essa visão é compartilhada por diferentes agentes, entre eles os governos de vários países. Hoje em dia, a noção de welfare state parece ser uma piada ou ideia do passado. A rigor, o Estado não tem condições de oferecer serviços integrais de saúde às pessoas, mesmo que os responsáveis pelos governos costumem dizer que sim. Todos nós podemos estar envergonhados ou contrariados, mas é isso que tem acontecido. Voltando ao ponto inicial, um exemplo simples sobre a noção de pacientes como consumidores está relacionada ao mercado de cirurgia plástica. A maioria das pessoas que procura a cirurgia plástica não faz isso como paciente, mas como consumidor que procura fornecedores. O conceito de assistência médica, portanto, tem mudado substancialmente. Dessa forma, o resultado da compreensão e da concepção de pacientes como consumidores não é uma surpresa. Naturalmente, tal concepção pode ter inúmeras questões éticas a serem debatidas, mas não se trata de uma surpresa.

Referências Conexas


CHAVEAU, Sophie. Between gift and commodity: blood products in France. Economic Sociology Newsletter, v.11, n. 1, p. 24-29, 2009.

ROTH, Alvin. E. The art of designing markets. Harvard Business Review, v. 85, n. 10, p. 118-126, 2007.

SLATER, Don; TONKISS, Fran. Market society. Cambridge: Polity Press, 2001.

domingo, 24 de abril de 2011

Culinária na TV e delivery em casa

Na televisão, especialmente nos canais que são por assinatura, temos inúmeros programas e personagens – chefs – em torno da culinária: Diário do Olivier (Olivier Anquier), Receitas da Nigella (Nigella Lawson), Jamie Oliver (Jamie Oliver), Kitchen Nightmares (Gordon Ramsay), Menu Confiança e Que Marravilha (Claude Troisgros), Chefe G. Garvin e Receitas de Chuck, para citar alguns. Esses programas fazem sucesso e estão em um patamar superior em acabamento, edição e sofisticação, em relação àqueles que foram pioneiros na TV brasileira por sinal aberto, como A Cozinha Maravilhosa de Ofélia (Ofélia), por exemplo. Se Ofélia fazia um programa para a dona de casa comum, que ficava em casa preparando a comida da família, Olivier, Nigella e Claude, entre outros, fazem programas para as classes média e alta. Há toda uma indústria em torno desses programas. Vinhos, ingredientes, panelas, eletrodomésticos, etc. Eles deram um novo impulso a um mercado que estava praticamente estagnado e têm o mérito de aproximar os homens da cozinha. Em que pese esse fato, a dimensão prática do cotidiano revela que os restaurantes nunca tiveram tanto serviço de delivery como nos últimos anos.

Referências Conexas

HYMAN, Gwen. The taste of fame: chefs, diners, celebrity, class. Gastronomica: The Journal of Food and Culture, v. 8, n. 3, p. 43-52, 2008.

KELLY, Peter. Working in Jamie’s kitchen: salvation, passion and young workers. Prahran: Palgrave Macmillan, 2009.

SOUTHERTON, Dale. Consuming kitchens: taste, context, and identity formation. Journal of Consumer Culture, v. 1, n. 2, p. 179-203, 2001.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Mary e Max – Uma Amizade Diferente

Chocolate! Essa poderia ser a palavra-chave. Mas, não é! Talvez a palavra improvável exprima melhor o filme Mary e Max – Uma Amizade Diferente. Trata-se de um filme de animação baseado em uma história real, cuja produção é de 2009. Escrito e dirigido por Adam Elliot, o filme tem dois personagens centrais: Mary Daisy Dinkle (voz de Toni Collette) e Max Jerry Horowitz (voz de Philip Seymour Hoffman). Ela vive em Melbourne, Austrália; ele, em Nova York, Estados Unidos. Ela, uma criança; ele, um adulto. Há um oceano inteiro a separá-los. Contudo, e paradoxalmente, as dúvidas dela e as convicções dele, unem-os. O filme propõe o entendimento de que a interação entre indivíduos é uma maneira de (re)definir a própria identidade pessoal – ao longo dos 92 minutos do filme, tal interação é sinônimo de amizade. Improvável, mas não impossível em sua narrativa, esse belo filme resgata uma certeza: pensar é um ato doloroso!


Esse post compõe uma série chamada “Filme”. Trata-se de sugestões de filmes.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Bônus de boates

O consumo de entretenimento e lazer por meio de serviços prestados por boates tem uma característica bastante peculiar: o aproveitamento de bônus regularmente oferecidos como incentivo para se comparecer às chamadas baladas. Os bônus representam uma concessão das boates, mas nada, claro, é concedido apenas pelos belos olhos do freguês.

Muitos apelos são usados como artifícios para procurar garantir um bom número de frequentadores. Os principais concernem ao horário de chegada à boate, bem como à presença de mulheres que, em grupos, possam decidir prestigiar o local. Outro dia, vi um fly em que informavam os seguintes bônus: “chegou cedo ganha bebidas grátis: até 22:30 ganha 1 cerveja 600ml; grupo de 7 mulheres até 00:30h ganha 1 garrafa de Vodka; 50% off até 0:30h!”.

Segundo o IBGE, a participação na população brasileira do grupo entre 0 e 24 anos caiu de 46,3%, em 2004, para 41,6%, em 2009. É uma redução importante e que confirma o envelhecimento da população. As boates poderiam estar preocupadas com a redução desse grupo etário, posto que parte dele constitui importante mercado para a oferta dos seus serviços. Isso ajudaria a explicar, por exemplo, a agressividade na oferta de bônus. Mas, não parece ser esse o caso. O intuito principal da oferta dos bônus é garantir a presença do maior número possível de pessoas nas pistas de dança e nos bares das casas noturnas. A concepção é que gente atrai gente e que muita gente junta consome mais e gera receita.

Referências Conexas

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Pesquisa nacional por amostra de domicílios – síntese de indicadores, 2009. Rio de Janeiro: IBGE, 2010.

SÁ, Simone P. de. Notas sobre a indústria do entretenimento musical e identidade no Brasil. Comunicação, Mídia e Consumo, v. 1, n. 2, p. 1-15, 2004.

UNGER, Lynette S.; KERNAN, Jerome B. On the meaning of leisure: an investigation of some determinants of the subjective experience. Journal of Consumer Research, v. 9, n. 4, p. 381-392, 1983.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

A quem interessa o boicote (virtual) à Petrobrás?

Boicote não é algo que faça parte da cultura brasileira. Se puxarmos pela memória, perceberemos o quão é difícil lembrarmos de um caso de boicote, bem sucedido ou não, do qual participamos pessoalmente ou que alguém que nos é conhecido participou. Simples assim: brasileiro não boicota. Fala mal, reclama, mas não boicota. Pelo menos, não de uma forma organizada, coletiva, que cause repercussão e traga algum resultado social e econômico.

Desde o início do ano passado tem circulado mensagens pela internet conclamando as pessoas a fazerem boicote à Petrobrás, interrompendo o consumo de combustíveis da rede de postos BR. O argumento é o de que os preços dos combustíveis irão baixar se os postos Petrobrás tiverem seu movimento de vendas significativamente reduzido. Como a rede BR é a maior do país em termos de distribuição de combustível, precisará baixar os seus preços para recuperar o mercado perdido em função de um boicote. A mensagem informa que na medida em que a Petrobrás diminuir os seus preços, outras companhias, como Shell, Esso, Ipiranga, Texaco, etc., serão forçadas a fazerem o mesmo. Logo, os combustíveis terão os preços reduzidos em todo o país.

Bastante sutil, não? Quem inicialmente escreveu essa mensagem esqueceu pelo menos uma coisa: a falta de hábito do brasileiro em realizar boicotes. Por outro lado, quem recebeu essas mensagens precisa se perguntar a quem interessa promover um boicote (virtual) contra a Petrobrás. O preço do combustível será mesmo reduzido ou apenas aumentará a venda de combustível das companhias concorrentes da Petrobrás?

Referências Conexas

BARDA, Constantia; SARDIANOU, Eleni. Analysing consumers' ‘activism’ in response to rising prices. International Journal of Consumer Studies, v. 34, n. 2, p. 133-139, 2010.

BELL, Carolyn S. Consumer economic power. Journal of Consumer Affairs, v. 2, n. 2, p. 155-166, 1968.

IZBERK-BILGIN, Elif. An interdisciplinary review of resistance to consumption, some marketing interpretations, and future research suggestions. Consumption Markets & Culture, v. 13, n. 3, p. 299-323, 2010.

JUBAS, Kaela. Conceptual con/fusion in democratic societies: understandings and limitations of consumer-citizenship. Journal of Consumer Culture, v. 7, n. 2, p. 231-254, 2007.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Fotos para o imaginário no mundo do tênis

Dizem que uma imagem vale por mil palavras. Com uma foto é possível dizer o mesmo – desde que ela não seja produto para consumo oriundo do Photoshop, claro! Além de mostrarem e revelarem, fotos também sugerem e insinuam. Em algumas, o que não é completamente visto pode ser imaginado. E isso é mais do que suficiente para que não seja esquecida. Tem-se aí uma sutil junção entre memória e imaginário.

Dois casos no mundo do tênis ilustram bem essa situação. O primeiro refere-se à foto que recebeu o título de “Tennis Girl”, feita por Martin Elliot em 1976. De modo surpreendente, a identidade da pessoa fotografada foi revelada agora em 2011. Trata-se de Fiona Walker, a quem o fotógrafo namorava à época em que a foto foi feita.

O segundo caso diz respeito a uma foto tirada após uma invasão de quadra feita por uma mulher durante uma partida de tênis do torneio de Wimbledon em 1996. Nessa segunda foto, a mulher é escoltada por dois membros da Scotland Yard – como é chamada a polícia de Londres.

Em ambas as fotos as mulheres aparecem de costas. O que delas se vê, contudo, tem alimentado o imaginário de diferentes pessoas no mundo do tênis ao longo de décadas.

Referências Conexas

DURAND, Gilbert. A imaginação simbólica. Lisboa: Edições 70, 1995.

GROIS, Boris. The border between word and image. Theory, Culture & Society, v. 28, n. 2, p. 94-108, 2011.

HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Vértice, Editora Revista dos Tribunais, 1990.