domingo, 31 de janeiro de 2016

O ocaso dos grupos de e-mail


Os grupos de discussão, operacionalmente conhecidos como listas de e-mail, durante muito tempo representaram uma forma eficiente de comunicação simultânea entre várias pessoas. Especialmente no chamado mundo acadêmico foi bastante adotado por professores, estudantes e grupos de pesquisa. Yahoo! e Google criaram e mantêm até hoje a oferta desse serviço. A Microsoft, por meio do Skype, também oferece o que seria uma variação na forma de uso de grupos de discussão. O uso de tais grupos, no entanto, parece ter sofrido forte redução. Arrisco afirmar que foi o surgimento do Facebook que motivou o abandono desses grupos, pelo menos nos moldes em que foram criados anteriormente. Isso parece fazer ainda mais sentido no Brasil, posto que é o país com o terceiro maior número de usuários do Facebook: um total acima de 60 milhões, segundo dados da própria companhia. Do modo em que a plataforma do Facebook foi desenvolvida ela permite a criação de inúmeros grupos de interação e o gerenciamento da participação em cada um deles de forma mais eficiente do que aquela até então existente no Yahoo! ou no Google. Dito de outra forma, o Facebook acabou com os grupos de e-mail. 

Referências Conexas

Löwgren, J., & Reimer, B. (2013). Collaborative media: production, consumption, and design interventions. Cambridge: MIT Press.

Watts, D., & Dodds, P. S. (2007). Influentials, networks, and public opinion formation. Journal of Consumer Research, 34(4), 441-458.

Zajc, M. (2015). Social media, prosumption, and dispositives: new mechanisms of the construction of subjectivity. Journal of Consumer Culture, 15(1), 28-47.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Moda evangélica



Moda evangélica. Mas não é qualquer uma. É executiva!
O Brasil tem um fetiche com a ideia de executivo.
É almoço executivo, hotel executivo, curso executivo, ônibus executivo ...  

domingo, 24 de janeiro de 2016

A Grande Aposta



Se você sempre pensou que profissionais de marketing - ou marketeiros, como a imprensa pejorativamente os denomina -  são responsáveis por mentiras, enganações e por criarem produtos que as pessoas não têm necessidade de consumir, não deixe de assistir A Grande Aposta (The Big Short, EUA, 2015), filme dirigido por Adam McKay, atualmente em exibição em vários cinemas brasileiros. Talvez você reveja seus conceitos e passe a colocar os agentes que operam no mercado financeiro no topo da sua lista de bad guys e, quem sabe assim, dê uma folga aos profissionais de marketing como os maiores vilões da História. Mas, não pense que a sugestão que aqui faço para que o filme seja assistido tem como motivação uma mera contenda - ele está além disso.

Estrelado por Steve Carell, Christian Bale, Ryan Gosling e Brad Pitt, A Grande Aposta recebeu várias indicações ao Oscar: melhor filme, melhor diretor, melhor roteiro adaptado, melhor edição e melhor ator coadjuvante (Christian Bale). O filme tem uma pretensão didática, assim como pretende ser uma comédia. Para os padrões estadunidenses pode até ser considerado comédia, mas para os  padrões brasileiros assemelha-se mais a um drama, posto que o gosto e o sentido de comédia no Brasil é um tanto quanto diferente daquele que se tem nos Estados Unidos. 

O filme é baseado em uma história real e desafia a santa ingenuidade da crença na lisura dos agentes do mercado. Ele mostra como o mercado imobiliário estadunidense, que parecia sólido e sem correr o menor risco de se desmanchar, foi a falência em 2008 e arrastou o mundo inteiro em uma crise de mais de 20 trilhões de dólares.

Embora a crise de 2008 já tenha sido tratada em outros filmes, como Margin Call - O Dia Antes do Fim, e em documentários já comentados aqui no próprio blog, como Trabalho Interno, talvez o principal mérito de A Grande Aposta seja demonstrar como o mercado financeiro é pródigo em criar e formatar produtos e serviços. Em geral, produtos e serviços sobre os quais pouca gente entende, mas que são oferecidos como se fossem a solução. E mais ainda, produtos que são avaliados e recomendados por agências de risco que competem entre si em um mercado oligopolista, que fazem um jogo sujo e que legitimam o que não é passível de ser legitimado. 

Referências Conexas

Berman, M. (1986). Tudo o que é sólido desmancha no ar - a aventura da modernidade. São Paulo: Companhia das Letras.

Deville, J. (2014). Consumer credit default and collections: the shifting ontologies of market attachment. Consumption Markets & Culture, 17(5), 468-490.

Knorr-Cetina, K. (2005). From pipes to scopes: the flow architecture of financial markets. In A. Barry & D. Slater (Eds.), The technological economy (pp. 122-141). Abingdon: Routledge. 

MacKenzie, D., Muniesa, F., & Siu, L. (Eds.) (2007). Do economists make markets? On the performativity of economics. Princeton: Princeton University Press.

Rona-Tas, A., & Hiss, S. (2011). Forecasting as valuation: the role of ratings and predictions in the subprime mortgage crisis in the United States. In J. Beckert & P. Aspers (Eds.), The worth of goods: valuation and pricing in the economy (pp. 223-246). Oxford: Oxford University Press.

Sauerbronn, F. F., & Sauerbronn, J. F. R. (2011). Estratégias de responsabilidade social e esfera pública: um debate sobre stakeholders e dimensões sociopolíticas de ações empresariais. Revista de Administração Pública, 45(2), 435-458.

Esse post compõe uma série chamada "Filme". Trata-se de sugestões de filmes.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

5 em 1



Se pensava que já havia visto tudo ao se deparar com um shampoo 3 em 1, 
você não viu nada.
Agora há o creme 5 em 1.
Let's go making market and, obvious, to shape the consumption !

domingo, 17 de janeiro de 2016

O coletivo individual



"Socializar riscos, privatizar lucros". Essa frase que tanto tem se aplicado ao mundo das corporações nas relações com o Estado serve perfeitamente para o futebol. Por que um esporte que é coletivo privilegia tanto o individual? Como um esporte que é coletivo elege um melhor, se cada jogador exerce uma função diferente e, de algum modo, o êxito de um depende do outro? A quem interessa a eleição do melhor? 

O prêmio do melhor jogador é sempre, ou quase sempre, dado a quem é atacante e a quem faz gols - muitos gols. Quem corre, quem faz a cobertura, quem desarma o adversário e quem evita a derrota é chamado de brucutu. Quem faz o gol ser possível, ou seja, quem faz a assistência - a jogada e o passe para o gol - é pejorativamente chamado de garçom. Mesmo Samuel Rosa e Nando Reis, quando dizem que o meio campo é o lugar dos craques, sugerem que o centroavante é o mais importante - e aí o centroavante é sinônimo de gol.

Nunca um desarme será tão aplaudido ou festejado quanto um drible, muito menos uma defesa quase impossível, feita por um goleiro, será celebrada como um gol. Atacante erra várias vezes, perde gol embaixo da trave e praticamente nada acontece. Um zagueiro que não corta uma bola e um goleiro que toma um frango serão sempre criticados ou mesmo estigmatizados.

Em que pesem a magia e alegria de ser o esporte mais praticado em todo o mundo, o futebol é repleto de equívocos criados e geridos por instituições como a FIFA (Fédération Internationale de Football Association) e as federações nacionais. Tais equívocos são largamente apoiados pela indústria cultural. A eleição do melhor jogador do mundo, ao transformar o coletivo em individual, parece ser um deles.

Referências Conexas

Blumrodt, J., Bryson, D., & Flanagan, J. (2012). European football team's CSR engagement impacts on customer-based brand equity. Journal of Consumer Marketing, 29(7), 482-493.

Brendan, R. (2004). New consumers and football fandom: the role of social habitus in consumer behaviour. Irish Journal of Management, 25(1), 88-100.

Chade, J. (2015). Política, propina e futebol: como o "padrão FIFA" ameaça o esporte mais popular do planeta. Rio de Janeiro: Objetiva.

Ferraz, P. (2011). Futebol e comunicação, um processo de consumo chamado paixão. Organicom, 8(15), 107-123.

Ribeiro Jr., A., Cipoloni, L., Azenha, L. C., & Chastinet, T. (2014). O lado sujo do futebol: a trama de propinas, negociatas e traições que abalou o esporte mais popular do mundo. São Paulo: Planeta do Brasil. 

Wicks, P. G., Nairn, A., & Griffin, C. (2007). The role of commodified celebrities in children's moral development: the case of David Beckham. Consumption Markets & Culture, 10(4), 401-424.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

domingo, 10 de janeiro de 2016

Brasil: uma biografia


Sabe aqueles propósitos de final de ano? Aquelas famosas quase-promessas de que se vai fazer isso, aquilo e não sei mais o que? Pois bem, uma das minhas proposições foi a de voltar a ler sobre o Brasil. Mas não ler sobre o Brasil em Veja ou Carta Capital. Ler sobre o Brasil em livros, obras escritas por gente que se dedicou a procurar compreender - talvez explicar - esse país tão amplo e complexo que teimamos, reiteradas vezes, em achar que é simples e facilmente decifrável. 

Muitos já tive o prazer de acessar, como Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Jr., e Darcy Ribeiro, entre outros. Mais recentemente tive contato com textos de Bernardo Sorj, bem como com a trilogia de Laurentino Gomes. Seria impreciso dizer que todos são rapidamente compreensíveis. Tampouco seria razoável afirmar que convergem em uma única direção. Aliás, não seria necessário, nem recomendável, um mesmo olhar sobre um país tão diverso.

Brasil: uma biografia, escrito por Lilia Schwarcz e Heloisa Starling, publicado no ano passado pela Companhia das Letras, 694p., R$ 59,90, certamente ajudará na tentativa de cumprir o meu propósito. Boa parte das minhas expectativas repousa no fato de o livro ser escrito em co-autoria por uma antropóloga (Schwarcz) e uma historiadora (Starling). A maior parte do que foi escrito antes sobre o Brasil foi escrita por sociólogos, antropólogos, economistas e historiadores, em obras de autoria única. Pelo menos agora, de cabeça, não me lembro de uma obra desse fôlego escrita em co-autoria.

A contracapa do livro chama a atenção para o uso da palavra "biografia" em lugar de "história" do Brasil. Aparentemente, já de saída tal escolha produz um significado sobre a abordagem a ser encontrada no livro. A construção da narrativa de uma biografia, e não de uma história, sugere estrutura e estilo distintos, embora não menos rigorosos e documentados.

O livro contem introdução, 18 capítulos, mais conclusão. Traz, ainda, 137 imagens e fotografias. A primeira delas revela dois homens - aparentemente de classes bem distintas de rendimento econômico - conversando em um banco de praça, enquanto que a última mostra uma imagem das manifestações ocorridas em nosso país em junho de 2013. O período histórico tratado no livro vai da descoberta do Brasil até o fim da ditadura militar, com o primeiro presidente eleito pelo voto direto no processo de redemocratização do país, no caso, Fernando Collor.

Mesmo que seja uma tarefa árdua, ler sobre o Brasil e buscar compreender quem somos e como somos é uma empreitada necessária para a realização de estudos de marketing, comportamento do consumidor e cultura de consumo (CCT) produzidos a partir da realidade brasileira. 

Esse post compõe uma série chamada "Olhar Acadêmico". Trata-se de observações realizadas sobre trabalhos acadêmicos na forma de artigos, dissertações, teses ou livros, relacionados direta ou indiretamente ao campo de cultura e consumo.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Para onde olhar?



Para onde olhar? Para as motos ou para os aparelhos de ar condicionado?
Aprendendo sobre padrões de consumo ao caminhar pela rua ...

domingo, 3 de janeiro de 2016

Réveillon na praia e consumo


Sagrado para alguns e profano para muitos, o Réveillon na praia é repleto de significados e embalado pelo consumo simbólico e material. As ondas do mar e os fogos de artifício  são os principais elementos da narrativa. As ondas emprestam o sentido de levar e trazer, limpar e renovar, enquanto que os fogos conferem o sentido de iluminar e celebrar. Em um momento ritual, em outro rito. 

Há pouca coisa tão pós-moderna quanto celebrar a chegada do Ano Novo na praia. Especialmente se for considerada a materialidade necessária para compor a expressão dos seus significados. O consumo ocorre no lugar, em nome do devir, entretanto, paradoxalmente, não parece haver lugar para o lugar nos significados do Novo.  


Roupas, acessórios, calçados, bebidas, copos, alimentos, recipientes, toalhas, velas, adornos, objetos e mais objetos. Significados construídos. Restos, lixo. O Estado que cuide, limpe tudo. Afinal, não há lixeiras para todos, tampouco espaços onde se possa descartar as sobras do consumo material. É como se  o Natal fosse a casa e o Réveillon fosse a rua.


Referências Conexas

Almeida, A. C. (2007). A cabeça do brasileiro. Rio de Janeiro: Record.

Campbell, C. (2001). A ética romântica e o espírito do consumismo moderno. Rio de Janeiro: Rocco.

DaMatta, R. A. (2003) (1984). A casa e a rua: espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil. Rio de Janeiro: Rocco.

Durkheim, E. (2003) (1912). As formas elementares da vida religiosa. São Paulo: Martins Fontes. 

Firat, A. F., & Venkatesh, A. (1995). Liberatory postmodernism and the reenchantment of consumption. Journal of Consumer Research, 22(3), 239-267.

Lipovetsky, G. (2007). A felicidade paradoxal: ensaio sobre a sociedade de hiperconsumo. São Paulo: Companhia das Letras.