segunda-feira, 22 de março de 2010

O Google saiu da China

Finalmente aconteceu. O Google saiu da China. Simplesmente abandonou a economia que mais cresce em todo o mundo. As previsões são de que em pouco tempo a China ultrapasse os Estados Unidos e se torne a maior economia do mundo. Talvez quando isso acontecer, ou mesmo antes, o Google volte a operar na China. Infelizmente, não saiu porque a China remunera mal a mão-de-obra que possui, porque não preserva o meio ambiente, porque desenvolve práticas comerciais abusivas, porque seus produtos não têm a qualidade desejada, porque não respeita os direitos individuais, porque pratica a censura, porque persegue pessoas que expressam livremente seus pensamentos ou porque é um regime autoritário. Saiu porque se sentiu ameaçado por espionagem industrial. E não foi para tão longe assim: está em Hong Kong.

Referências Conexas

BATTELLE, John. The search: how Google and its rivals rewrote the rules of business and transformed our culture. New York: Portfolio Trade, 2006.

SLEVIN, James. The internet and society. Oxford: Blackwell Publishers, 2001.

Água apropriada

O dia 22 de março é o dia mundial da água. A AmBev aproveita a ocasião e lança o Movimento CYAN. Uma ação politicamente correta em um mundo de negócios politicamente incorretos. Nesse movimento, a AmBev afirma que cuidar da água do planeta é seu único sonho!

A sustentabilidade está na moda e a AmBev apregoa que tem a preocupação de reduzir o impacto ambiental e preservar os recursos naturais. Mas aderir à moda da década não é condição suficiente. Invertendo a ordem, é condição necessária que o movimento busque se legitimar perante a chamada sociedade civil organizada. Para tanto, o movimento se ancora em uma parceria com uma universidade, a USP – São Carlos, e com uma ONG, a WWF-Brasil. Curioso é que a ONG parceira é uma organização ecocêntrica e não antropocêntrica.

O lema do movimento é o de que “quem vê a água enxerga seu valor”. Não é a toa que a AmBev já há algum tempo adentrou o mercado da água e passou a oferecer a H2OH!, a qual se caracteriza por ser água com sabor de frutas. Fica difícil mesmo não enxergar o valor da água dessa maneira.

Referências Conexas

BREI, Vinícius A. Da necessidade ao desejo de consumo: uma análise sobre o papel do marketing na transformação do significado da água. In: XXXI ENCONTRO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO (2007: Rio de Janeiro). Anais ... Marketing. Rio de Janeiro: ANPAD, 2007. (Versão integral em CD-ROM do Evento)

TUNDISI, José G. Água no século XXI: enfrentando a escassez. São Carlos: Rima, 2005.

quarta-feira, 17 de março de 2010

O PIB e as maiores cidades brasileiras

No final de 2008 o IBGE informava que os cinco estados com maior concentração do PIB brasileiro eram São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná. Já ao término de 2009 o mesmo IBGE informou que cinco cidades concentram 25% do PIB: São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte e Curitiba.

Observando-se, contudo, não apenas os dados do PIB, mas os dados sobre a população, também divulgados pelo IBGE em 2009, verifica-se que São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Brasília e Fortaleza são as maiores cidades brasileiras em termos de população. Os dados são curiosos e instigantes, pois revelam, para uns, e comprovam, para outros, que não há uma vinculação direta entre o que se chama de riqueza e o tamanho da cidade.

Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre não estão entre as cinco maiores cidades, mas são capitais de três dos cinco estados mais ricos da federação. Entre outras coisas, isso sugere que os padrões de consumo em Salvador e Fortaleza, terceira e quinta maiores cidades do país, são distintos daqueles de Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre. Talvez isso explique, pelo menos em parte, o interesse que o consumo de baixa renda tem despertado em anos recentes.

Referências Conexas

SOUZA, Celina. Intermediação de interesses regionais no Brasil: o impacto do federalismo e da descentralização. Dados, v. 41, n. 3, p. 1-16, 1998.

LOPES, Luiz M.; LANZANA, Antonio E. T. Economia brasileira: da estabilização ao crescimento. São Paulo: Atlas, 2009.

domingo, 14 de março de 2010

O Senado e a gorjeta dos garçons

O Brasil é um país que faz leis para não serem cumpridas! São vários e diversos os exemplos: o Código de Trânsito Brasileiro é ignorado, pois ninguém é multado por atravessar a rua fora da faixa do pedestre; o uso do bafômetro para viabilizar a aplicação da Lei seca é facultativo; há regulamentação contra a exibição de anúncios comerciais de cigarros na TV, mas se permite o anúncio de bebidas alcoólicas nessa mesma TV. Há, enfim, diferentes motivos para se fazer piada sobre as leis do país.

Agora é a vez da gorjeta. O Código de Defesa do Consumidor dispõe que o consumidor é obrigado a pagar por aquilo que consome conforme o valor discriminado no cardápio (menu) de bares e restaurantes. O pagamento da gorjeta é opcional. Presume-se que o consumidor bem atendido irá acrescentar o valor de 10% sobre o pagamento daquilo que consumiu como uma forma de demonstrar sua satisfação.

Mas o que está acontecendo? O Senado Federal aprovou, durante essa última semana, um Projeto de Lei que permite a cobrança de gorjetas no valor de até 20% das contas apresentadas em bares e restaurantes entre as 23 e 6 horas; ou seja, o período que compreende a chamada vida noturna para uns ou balada para outros.

O Projeto de Lei agora tramitará na Câmara dos Deputados onde também poderá ser aprovado. Ocorre que o projeto contraria frontalmente o que dispõe o Código de Defesa do Consumidor, que por sinal é uma Lei Federal de 11 de setembro de 1990, ou seja, que já existe há quase 20 anos.

Caso o projeto se transforme mesmo em uma lei, será mais uma que poderá ser de direito, mas não de fato. Todo o trabalho merece respeito e é digno. Não é correto criticar os garçons. Nem todos são iguais ao Boris Casoy.

Em um primeiro momento, uma lei como a que está sendo proposta poderá aumentar o rendimento dos garçons, mas certamente gerará problemas e mal entendidos em bares e restaurantes. A gorjeta é uma construção cultural, coletiva. Pode ser usada, inclusive, como um mecanismo para aperfeiçoamento da prestação de serviços em bares e restaurantes. Deve ser espontânea e não obrigatória. Além disso, estima-se que muitas vezes a gorjeta nem chega às mãos dos garçons. Ela fica no meio do caminho, nas mãos dos proprietários dos estabelecimentos.

Referências Conexas

BARBOSA, Maria de L. de A.; FARIAS, Salomão A. de; KOVACS, Michelle H. Entre a fome e a vontade de comer: os significados da experiência de consumo em restaurantes. In: III ENCONTRO DE MARKETING (2008: Curitiba). Anais ... Rio de Janeiro: ANPAD, 2008. (Versão integral em CD-ROM do Evento)

IPIRANGA, Ana S. R. A cultura da cidade e os seus espaços intermediários: os bares e os restaurantes. Revista de Administração Mackenzie, v. 11, n. 1, p. 65-91, 2010.

VIEIRA, Francisco G. D. Marketing: casos do cotidiano. Maringá: Unicorpore, 2007.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Consumo de MBAs

No início da década de 1990, quase como uma decorrência da abertura da economia e do maior nível de competição que empresas brasileiras começavam a experimentar, instituições de ensino superior intensificaram a oferta de cursos de MBA – Master in Business Administration. A nomenclatura, no idioma inglês, decorre da origem estadounidense do curso.

No caso brasileiro, o MBA é um curso voltado basicamente para o treinamento, capacitação ou atualização de executivos ou profissionais, de um modo geral, que atuam em organizações privadas e públicas. Alguns desses profissionais não tem a área de negócios – administração e economia, por exemplo – como área de formação básica, e muitas vezes essa é a principal razão para frequentarem um curso de MBA, ou seja, a oportunidade de adquirirem conhecimentos sobre negócios sob uma perspectiva que não apenas aquela do cotidiano das organizações em que trabalham.

Em tese, o MBA é um bom curso e pode, de fato, contribuir significativamente para a formação profissional daqueles que o frequentam. O problema é que atualmente sofre um processo de banalização desenfreada. Até mesmo a condição do grau de especialização que é conferido àqueles que o concluem fica sob suspeição devido ao tipo e formato de cursos que tem sido oferecido no mercado da educação.

Instituições de ensino, de caráter privado, tem oferecido cursos de MBA pelo Brasil afora, com um único encontro por mês para a realização de aulas, e prometem que seus alunos alcançarão posição de destaque em suas organizações, como também alcançarão a excelência. Via de regra, tais cursos são oferecidos por meio de parcerias com empresas locais ou regionais de consultoria que resolveram adentrar o ramo da educação continuada e que não tem tradição ou know how em educação ou ensino superior.

O resultado desses cursos, para quem passou da fase da ingenuidade, é que eles criam a expectativa de entregar um produto que de fato não entregam. Profissionais que se tornam alunos, cheios de boa vontade, criam uma expectativa que não chega a se concretizar, pois, entre outras coisas, os cursos são oferecidos como commodities para todo o país.

Referências Conexas

ANTONELLO, Cláudia S.; RUAS, Roberto. Formação gerencial: pós-graduação lato sensu e o papel das comunidades de prática. Revista de Administração Contemporânea, v. 9, n. 2, p. 35-58, 2005.

DATAR, Srikant; GARVIN, David A.; CULLEN, Patrick G. Rethinking the MBA: business education at a crossroads. Boston: Harvard Business Press, 2010.

FRENCH, Robert; GREY, Christopher. (Eds.) Rethinking management education. London: Sage, 2009.

sábado, 6 de março de 2010

O consumidor obeso e o avião

Demorou mas aconteceu: as companhias aéreas irão cobrar um valor adicional para pessoas obesas que viajam de avião e precisam usar um assento extra. A Air France e a KLM anunciaram essa decisão no início do ano e adotarão a prática a partir do próximo mês. Dizem, no entanto, que se o vôo não estiver lotado e houver assentos livre lado a lado, onde o passageiro obeso possa se sentar, o dinheiro recebido a mais será devidamente reembolsado.

Constrangedor e oneroso, não? Os obesos já sofrem diversos preconceitos no dia-a-dia e agora se tornam objeto de tratamento diferenciado por parte de companhias aéreas. No chamado mundo dos negócios, muitas vezes o que uma companhia faz, as outras também fazem. Apenas esperam um tempo para ver se determinada ação é bem sucedida e também passam a adotá-la. Alguns conhecem isso como benchmarking, outros como mimetismo.

Para as empresas, trata-se de uma tentativa de maximizar receitas ou reduzir custos – como queira. Para o consumidor, trata-se de um abuso. Companhias aéreas parecem estar menos preocupadas em constranger os usuários de seus serviços do que em discutir hábitos de consumo de alimentos ou políticas públicas de alimentação.

Referências Conexas

BURTON, John R.; ZICK, Cathleen D.; MAYER, Robert N. Consumer views of the need for government intervention in the airline market. Journal of Consumer Affairs, v. 27, n. 1, p. 1-22, 1993.

CASOTTI, Letícia. À mesa com a família: um estudo do comportamento de consumidor de alimentos. Rio de Janeiro: Mauad, 2002.

LAZZARINI, Sérgio G.; JOAQUIM, Thiago A. Z. A formação de constelações: o caso da indústria global de transporte aéreo. Revista de Administração de Empresas, v. 44, n. 2, p. 11-25, 2004.

quinta-feira, 4 de março de 2010

A Blockbuster não é mais a mesma

A festa de premiação e entrega do Oscar será no próximo domingo, dia 7. O Oscar parece ser o mesmo, ou quase isso. A Blockbuster, porém, já não é mais a mesma. Não, pelo menos no Brasil. Desde que foi comprada pelas Lojas Americanas por quase R$ 200 milhões, no início de 2007, a Blockbuster perdeu sua identidade e pouco restou do conceito relativo a disponibilizar lançamentos e filmes de grande bilheteria.

A fusão das Lojas Americanas com a Blockbuster resultou em uma loja com um mix desbalanceado e, aparentemente, confuso, onde se pode encontrar diferentes produtos, mas se tem dificuldade em estabelecer uma associação clara com categorias de produtos que uma vez lembrados remetam o consumidor à loja.

Há algum tempo as Lojas Americanas tem oferecido DVDs e CDs por um preço considerado acessível para os padrões do mercado. Esses produtos, pelo volume e frequência de venda, terminam por oferecer uma razoável contribuição para o fluxo de caixa das Lojas Americanas. Todavia, a mistura dos produtos de conveniência com o serviço de aluguel dos DVDs não tem sido oportuna para aqueles que procuram à loja.

Os antigos freqüentadores da Blockbuster têm hábitos vinculados ao consumo de produtos culturais e demandam atenção e interação no aluguel de DVDs, para as quais as equipes da nova loja não estão preparadas. A ideia de alavancar a venda de produtos das Lojas Americanas por meio de mais de 100 novos pontos de venda adquiridos com a incorporação da Blockbuster pode ter sido bastante atraente à época da realização do negócio, mas ainda está longe de parecer funcional e de oferecer um bom serviço para o consumidor.

Referências Conexas

SUTTON, David; WOGAN, Peter. Hollywood blockbusters: the anthropology of popular movies. Oxford: Berg Publishers, 2010.

MONGA, Alokparna B.; JOHN, Deborah R. Cultural differences in brand extension evaluation: the influence of analytic versus holistic thinking. Journal of Consumer Research, v. 33, n. 4, p. 529–536, 2007.