domingo, 28 de novembro de 2010

Buy nothing day

Há um movimento que propõe o dia 28 de novembro como o dia mundial para não se comprar nada, absolutamente nada. A rigor, a ideia do movimento é levar as pessoas a refletirem sobre o nível de consumo e gastos que realizam em suas vidas cotidianas. Acredita-se que, em geral, consome-se mais do que o necessário para se viver.

Ainda que o movimento seja voltado para consumidores cujo perfil está relacionado à classe média e a um maior nível de instrução formal, bem como seja um movimento centrado especialmente na realidade estadounidense, onde o consumo alcançou proporções ímpares na vida social, trata-se de algo oportuno.

Naturalmente, há inúmeros desdobramentos associados à reflexão proposta, qualquer que seja a posição que se adote perante a proposição do movimento. Não comprar nada durante um dia inteiro não significa não gastar, já que se consome água, energia, espaço físico e alimentos para se viver. Por outro lado, o que se consome hoje pode ter sido comprado ontem ou pode vir a ser pago amanhã. Em ambos os casos há o ato da compra e o dispêndio de dinheiro.

Tais limitações, contudo, não obscurecem o “buy nothing day”. Em uma sociedade fragmentada, ansiosa e veloz, parar por um dia para pensar sobre o consumo desnecessário é algo culturalmente significativo.

Referências Conexas

BAUMAN, Zygmunt. Collateral casualties of consumerism. Journal of Consumer Culture, v. 7, n.1, p. 25–56, 2007.

FEATHERSTONE, Mike. Cultura de consumo e pós-modernismo. São Paulo: Studio Nobel, 1995.

KLEIN, Jill G.; SMITH, N. Craig; JOHN, Andrew. Why we boycott: consumer motivations for boycott participation. Journal of Marketing, v. 68, n. 3, p. 92-109, 2004.

KOZINETS, Robert V.; HANDELMAN, Jay M. Adversaries of consumption: consumer movements, activism, and ideology. Journal of Consumer Research, v. 31, n. 3 p. 691-704, 2004.

9 comentários:

  1. Olá, Francisco. Seu post está muito bom. Permita-me ser um pouco mais ousada na análise desse tema.

    No meu modo de ver, se o ser humano não parar de seguir esse modelo doentio de consumismo exacerbado dos estadunidenses, não haverá ambientalista, Green Peace, ou ecologia que nos salve da auto-destruição. O que faz as grandes empresas fazerem qualquer coisa por mais e mais lucro é o consumismo além do normal.

    A sociedade precisa repensar essa coisa horrível de comprar aquilo de que não necessita, só porque todos já compraram, ou porque a propaganda está lavando seus neurônios. É isso.

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  2. Olá, Eliane!

    Obrigado pelos comentários. A sociedade, de fato, consome mais do que precisa e isso está nos levando à exaustão. Porém, isso acontece apenas com uma parte dela. Outra parte consome abaixo do que precisa para viver. Há uma questao econômica aí.

    Por outro lado, vejo que a propaganda influência, mas ela não é determinante. Essa coisa do consumo exacerbado está ligada, ao meu ver, à própria natureza humana. Talvez isso seja pior ainda.

    Um abraço,

    Francisco Giovanni

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  3. Sei lá... acho que seria mais produtivo parar um dia para pensar em tantas outras coisas, do tipo: não compre, mas também não use energia elétrica, não use água encanada, não utilize o esgoto e não se alimente de produtos industrializados, para que sinta na pele (pelo menos por um dia) o mesmo que milhões de pessoas que vivem nessa condição...

    O mal não está em comprar, mas em não compartilhar e não repartir. O egoismo é mais grave que o consumismo.

    Grande abraço!
    Adriano

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  4. Adriano,
    No fundo, penso que o egoísmo e o consumismo vivem num "parasitismo e simbiose", sabe?! Um alimenta o outro.

    Abraços

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  5. Francisco,
    Você está certíssimo. Há os que consomem demais, e é exatamente por isso que existem aqueles que pouco têm para poder consumir.
    No meu comentário eu me referi às classes mais favorecidas, que vivem num afã de comprar como se fossem adoecer caso não consumissem. Comprar aquilo de que precisamos, mesmo que seja uma roupa de festa, nada tem de pecaminoso. rsrs O problema é o que está acontecendo cada vez mais nas grandes cidades, os shoppings cheios de pessoas comprando sapatos, roupas etc, pagando em trocentas prestações, e depois nem têm espaço para guardar tanta coisa. Aí já penso no conceito do descartável (o que é outra história).

    Continua...

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  6. Continuando...

    Consumir com consciência não é ruim. Eu gostaria muito que esses "exagerados dos shoppings" consumissem mais cultura em vez de roupinhas e sapatos. Isso me incomoda bastante.

    Falo isso pois vejo minha filha, que nasceu quando o 1º grande shopping do Rio estava inaugurando. Ela não sabe o que é comprar em lojas de rua. Vejo suas amigas e o comportamento é o mesmo. Tudo que posso fazer, além de dar o exemplo, é não desistir de mostrar a ela que o caminho não é esse. Não penso que o consumismo seja apenas da natureza humana, Francisco. Também o é, mas não apenas. Vejo que em outras culturas, na europa, por exemplo, as pessoas consomem, sim, mas não é como em SP, Rio, NYC e mesmo em Tóquio (não conheço a cidade), que infelizmente, do pós-guerra pra cá, incorporou de vez o jeito McDonald's e Coca-Cola de ser. Posso estar totalmente errada, mas falou em consumismo, o que me vem à mente são os criadores do marketing, os EUA.

    Abraços

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  7. A realidade, Eliane, é que o mercado já se tornou refém do consumismo, de modo que estancar esse processo de compra além do necessário seria provocar um caos econômico. Muitos negócios já se formaram em torno desse comportamento, e a queda no consumo deverá provocar um problema em cadeia.

    Vou citar um exemplo tosco, e provavelmente polêmico: já imaginou se o governo do RJ conseguir reduzir o crime do narcotráfego em pelo menos 50%, o que deve acontecer? O mercado de trabalho carioca está preparado para absorver os novos "desempregados"? O mercado de consumo das grandes favelas conseguirá sobreviver sem o capital do crime organizado circulando por alí, vendendo apenas para a população assalariada? A perda de capital circulando (muito capital!!) deve desarticular a economia carioca, provocando uma redução de ganhos em escala com menos dinheiro circulando. Estamos preparados para isso? As dívidas já contraídas, contando com o ganho de capital, vão transformar-se em inadimplência, e assim por diante... a crise vai pegando um setor de cada vez.

    Esse exemplo de uma provável queda de consumo como consequência indireta de uma ação necessária deve se repetir numa possível queda consciente e articulada para que as pessoas simplesmente parem de consumir com baboseiras. Mas a minha pergunta é: quem ganha com isso?!

    Abraços!

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  8. Esse exemplo, Adriano, é mesmo polêmico. Porém é, também, bastante lúcido e coerente na sua exposição. É uma questão da cadeia econômica, incluído aí o consumo. A esse propósito, já há indicações de que problemas irão acontecer no Rio de Janeiro em relação a situação mencionada em seu comentário.

    Por outro lado, Eliane, não penso que o problema é relativo aos EUA ou, muito menos, aos profissionais de marketing. Penso que a questão do consumo é bem mais complexa. A rigor, as pessoas possuem livre arbítrio. Nenhum profissional de marketing, por exemplo, irá fazer alguém comprar aquilo que não queira comprar. Por isso, de algum modo, referi-me à natureza humana no comentário anterior.

    Abraços,

    Francisco Giovanni

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  9. Francisco e Adriano,

    Vejam, eu penso que a longo prazo, o consumo além do normal, de um modo ou de outro, acabará acontecendo. Caso contrário, o planeta não resistirá a vários fatores, como quantidade de lixo produzida no mundo, emissão de CO2 e efeito estufa etc etc.

    Eu concordo com o Adriano que o mercado já se tornou refém do consumo. Só que, repito, a longo prazo, a tendência é que haja uma redução sim. Estamos preparados pra isso? Óbvio que não. E, exatamente por isso é que deveríamos começar a refletir e debater mais, pois como disse o Francisco, com toda a razão, o consumo é um assunto complexo. Implica em muitas variáveis. Certamente não serão alguns comentários que esgotarão todas.

    Ainda na minha insistência, Francisco, sei que todos temos "livre arbítrio". A pergunta é: quantos SABEM QUE O TÊM? O fato de surfar na onda do marketing, propagandas etc é uma coisa inconsciente. Muitas das vezes as pessoas nem percebem, quando se dão conta, já compraram.

    Eu penso que, repito, a longo prazo, essa onda de consumo se reverterá, de um modo ou de outro. E muita gente vai sofrer com isso, sim. Foi assim quando passamos da fase agrícola para a industrial, da industrial para a da informação e o próximo passo eu ainda não sei. Mas apostaria todas as minhas fichas numa reversão de valores, passando, principalmente, pelo consumo. A cada uma dessas ondas do Alvin Toffler, muita gente sofreu com desemprego, é claro. Quantas pessoas não ficaram desempregadas com o advento dos computadores? Em contrapartida, algum tempo depois, havia inúmeras vagas de trabalho para pessoas especializadas em computadores. Eu acho que as pessoas acabam se adaptando, pois nada mais é que uma mudança. Entretanto, se o planeta não puder sustentar uma dessas mudanças, não haverá gente para se adaptar. Estou certa ou errada?

    Abraços

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