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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Super Bowl: campeão dos EUA é campeão do mundo



Domingo passado foi disputado o Super Bowl 50, ou seja, a decisão de número 50 a respeito de quem seria o campeão da temporada de futebol americano nos Estados Unidos. A disputa se deu entre Denver Broncos e Carolina Panthers, com a vitória da primeira equipe. 

O campeonato de futebol americano dos Estados Unidos é organizado pela National Football League (NFL). Como o próprio nome diz, uma liga nacional. Ocorre que a NFL considera que o campeão dos Estados Unidos é o campeão mundial. A prova disso está no que é cunhado nos anéis que são entregues aos atletas da equipe vencedora de cada Super Bowl. Neles se pode ler: campeões mundiais !! 

Em tempo 1: a imagem acima é do anel que foi entregue aos jogadores do New England Patriots, vencedores do Super Bowl 49 no ano de 2015.

Em tempo 2: nunca vi no Brasil tanto interesse por futebol americano como nesses anos mais recentes. É algo curioso o que está acontecendo. Não aprendemos futebol americano na escola. Não aprendemos no clube. Não aprendemos na igreja. E muito menos aprendemos nas ruas. Não obstante, já há a organização de uma confederação e de um campeonato brasileiro de futebol americano. É impressionante o papel da internet e da TV por assinatura na formação do interesse, gosto e preferências das pessoas. A propósito, no domingo passado o Facebook e os portais brasileiros da internet estavam repletos de comentários e alusões acerca do Super Bowl 50. Theodor Adorno continua certo: é incontestável o poder da indústria cultural, especialmente no que se refere àquilo que é oferecido para consumo por meio de uma forma que contenha glamour. 

Referências Conexas

Adorno, T. W. (2009). Indústria cultural e sociedade. São Paulo: Paz e Terra.

Kellner, D. (2003). A cultura da mídia e o triunfo do espetáculo. Líbero, 6(11), p. 4-15.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Qual é a cara que é cara de rica?



A cara é o rosto, a face, a imagem que vai no documento Registro Geral (RG) que é chamado de carteira de identidade. No entanto, essa identidade é apenas um número. Apenas mais um dentre tantos outros que parecem ser necessários ao Estado para ordenar e, também, controlar, a vida em sociedade.

A cara é o lugar, o espaço, o pedaço do corpo para onde, via de regra, outras pessoas olham em um primeiro momento, quando veem alguém à distância ou quando se dirigem a alguém de forma mais próxima em um mesmo espaço físico.

A cara é o selfie, o autorretrato formado por um conjunto de milhões e milhões de pixels que formam a imagem digital que é compartilhada e que se vê cotidianamente nas redes sociais e websites que se visita.

Mas, qual é a cara que é cara de rica? Existe uma cara da riqueza? Especialmente, a cara de uma mulher rica? É possível expressar uma identidade relacionada à riqueza?

Se depender da música Cara de Rica, sim! A música foi composta por Erikka Rodrigues e Paula Mattos, e no momento faz sucesso na voz da primeira. Como se pode perceber por meio do vídeo disponibilizado logo acima nesse post, a música sugere que não precisa pertencer a classe "A gargalhada" para expressar uma identidade rica. Isso pode ser feito de outra maneira e com muito menos dinheiro, inclusive por quem pertence a uma classe de rendimento econômico inferior. O que é relevante ressaltar, no caso, é que a identidade rica contida na música é categoricamente afirmada pelo consumo conspícuo - independentemente do valor monetário relacionado aos objetos materiais adquiridos ou serviços contratados e referidos na letra da música.

Em última análise, a cara é tão somente um recurso semântico na música, uma referência para a expressão de uma espécie de identidade do que é ser rica. Conforme a música, para ter a cara de rica basta incorporar alguns gestos e expressões corporais acompanhadas de adornos, formas no cabelo e pinturas no corpo - sobre e sob a pele.

Nesse sentido, é possível destacar três blocos de elementos relativos à música e que moldam a compreensão da formação da identidade rica em seu contexto: (i) perfil do personagem da música, (ii) itens de consumo do personagem e (iii) expressões comportamentais e simbólicas referentes ao personagem. Tais elementos estão na Tabela 1, a seguir.

Tabela 1 - Elementos da música Cara de Rica 

 Perfil do Personagem
Itens de Consumo 
Expressões  Comportamentais e Simbólicas
Mulher jovem
Toda tatuada
Manda na cidade
É bonita
Faz escova no cabelo
Está dominando
Pega ônibus às 7 (sete)
Anda sempre na moda
Não tem limite, não tem medo
Está ralando
Usa perfume importado
Ela se garante, toda poderosa

Usa sapato 36 de salto
Faz cara de rica


Ela não dá moral


Vai seduzir, fazer passar mal


Provoca porque é bonita


É perigosa


É um veneno

Está causando


Jeito menina / atitude mulher

É isso que ela quer
Fonte: Música Cara de Rica, de autoria de Erikka Rodrigues e Roberta Mattos, capturada no Youtube, 17/09/2014.

Referências Conexas

Belk. R. (1988). Possessions and extended self. Journal of Consumer Research15(2): 139-168.

Belk. R. (2013). Extended self in a digital world. Journal of Consumer Research, 40(3): 477-500.

Hall, S. (1998). A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A.

McCracken, G. (2008). Transformations: identity construction in contemporary culture. Bloomington: Indiana University Press.

Scanlon, J. R. (Ed.) (2000). The gender and consumer culture reader. New York: NYU Press.

Soutilha, D., Ayrosa, E. A. T., & Cerchiaro, I. B. (2013). Do bom e do melhor: o consumo de bens de luxo na classe C. Sociedade, Contabilidade e Gestão, 8(1):80-97.

Tonini, K. A. D., & Sauerbronn, J. F. R. (2013). Mulheres cariocas e seus corpos: uma investigação a respeito do valor de consumo do corpo feminino. Revista Brasileira de Marketing, 12(3): 77-101.

Veblen, T. (2013). The theory of the leisure class. New York: Penguin Books.

sábado, 17 de julho de 2010

Brincos no futebol, inclusive do Maradona

Os primeiros relatos do uso de brincos remontam à Pérsia e à Grécia antigas. De forma mais próxima à experiência brasileira, a observação do uso de brincos como simples peça de adorno corporal ou portadora de significados ocorreu em relação aos índios sul-americanos e aos povos africanos, em que pese o fato de que piratas que navegavam na nossa costa também fizessem uso dos mesmos.

Na sociedade ocidental contemporânea, o uso cotidiano de brincos entre homens se tornou popular a partir dos anos 1980, particularmente devido ao seu uso por artistas e atletas de alta performance. De lá para cá, a indústria apenas ampliou a oportunidade de exploração do uso (e da venda) de brincos. A própria indústria cultural, em suas diversas frentes, incluindo talvez aquela que hoje é a mais popular delas, a televisão, tratou não só de apropriar como legitimar o uso dos brincos aos seus ícones e personagens. O resultado é que aquilo que antes era rústico, selvagem até, tornou-se algo fashion e objeto de desejo. Desde garotos até senhores da chamada melhor idade usam brincos.

Os jogadores de futebol, entretanto, parecem ter especial predileção pelo uso de brincos. Se observamos, por exemplo, a jovem geração de futebol do Santos Futebol Clube, que foi campeão paulista esse ano, veremos que suas principais estrelas, digamos assim, usam brincos do tipo que não deixam dúvida quanto à possibilidade de serem vistos. Essa parece ser uma lógica que orienta o processo de formação da personalidade pública do jogador de futebol em direção à fama.

Uma situação curiosa com relação ao uso de brincos por jogadores de futebol aconteceu com o Maradona. Ao desembarcar na Itália em setembro do ano passado, os brincos que ele usava foram confiscados devido a enorme dívida que possui junto ao fisco italiano por sonegação de impostos à época em que ele jogava no Napoli, clube de futebol do sul da Itália. O fisco italiano conseguiu arrecadar 25 mil Euros após realizar um leilão dos brincos, o que representou uma quantia insignificante tendo em vista o montante de mais de 35 milhões de Euros estimados para a dívida.

A despeito do confisco dos brincos e do forte debate que tem havido nos últimos dias na imprensa brasileira sobre formação profissional e preparo psicológico dos jogadores de futebol para lidarem com a fama e a fortuna que dela decorre, a indústria da moda e o mercado de luxo se empenharão para que jogadores e ex-jogadores não deixem de usar brincos. Que o diga Maradona, uma das estrelas da última copa do mundo de futebol!

Referências Conexas

DUBOIS, Bernard; DUQUESNE, Patrick. The market for luxury goods: income versus culture. European Journal of Marketing, vol. 27, n. 1, p. 35-44, 1993.

ERNER, Guillaume. Vítimas da moda? Como criamos, por que a seguimos. São Paulo: SENAC, 2005.

HELAL, Ronaldo. Passes e impasses: futebol e cultura de massa no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1997.

MASCETTI, Daniela; TRIOSSI, Amanda. Earrings: from antiquity to the present. London: Thames & Hudson, 1999.

ROOK, Dennis W. The ritual dimension of consumer behavior. Journal of Consumer Research, v.12, n. 3, p. 251-264, 1985.