A cara é o rosto, a face, a imagem que vai no documento Registro Geral (RG) que é chamado de carteira de identidade. No entanto, essa identidade é apenas um número. Apenas mais um dentre tantos outros que parecem ser necessários ao Estado para ordenar e, também, controlar, a vida em sociedade.
A cara é o lugar, o espaço, o pedaço do corpo para onde, via de regra, outras pessoas olham em um primeiro momento, quando veem alguém à distância ou quando se dirigem a alguém de forma mais próxima em um mesmo espaço físico.
A cara é o selfie, o autorretrato formado por um conjunto de milhões e milhões de pixels que formam a imagem digital que é compartilhada e que se vê cotidianamente nas redes sociais e websites que se visita.
Mas, qual é a cara que é cara de rica? Existe uma cara da riqueza? Especialmente, a cara de uma mulher rica? É possível expressar uma identidade relacionada à riqueza?
Se depender da música Cara de Rica, sim! A música foi composta por Erikka Rodrigues e Paula Mattos, e no momento faz sucesso na voz da primeira. Como se pode perceber por meio do vídeo disponibilizado logo acima nesse post, a música sugere que não precisa pertencer a classe "A gargalhada" para expressar uma identidade rica. Isso pode ser feito de outra maneira e com muito menos dinheiro, inclusive por quem pertence a uma classe de rendimento econômico inferior. O que é relevante ressaltar, no caso, é que a identidade rica contida na música é categoricamente afirmada pelo consumo conspícuo - independentemente do valor monetário relacionado aos objetos materiais adquiridos ou serviços contratados e referidos na letra da música.
Em última análise, a cara é tão somente um recurso semântico na música, uma referência para a expressão de uma espécie de identidade do que é ser rica. Conforme a música, para ter a cara de rica basta incorporar alguns gestos e expressões corporais acompanhadas de adornos, formas no cabelo e pinturas no corpo - sobre e sob a pele.
Nesse sentido, é possível destacar três blocos de elementos relativos à música e que moldam a compreensão da formação da identidade rica em seu contexto: (i) perfil do personagem da música, (ii) itens de consumo do personagem e (iii) expressões comportamentais e simbólicas referentes ao personagem. Tais elementos estão na Tabela 1, a seguir.
Tabela 1 - Elementos da música Cara de Rica
Mulher jovem
|
Toda tatuada
|
Manda na cidade
|
É bonita
|
Faz escova no cabelo
| Está dominando |
Pega ônibus às 7 (sete)
|
Anda sempre na moda
| Não tem limite, não tem medo |
Está ralando
|
Usa perfume importado
| Ela se garante, toda poderosa |
Usa sapato 36 de salto
| Faz cara de rica | |
Ela não dá moral | ||
Vai seduzir, fazer passar mal | ||
Provoca porque é bonita | ||
É perigosa | ||
É um veneno | ||
Está causando
| ||
Jeito menina / atitude mulher | ||
É isso que ela quer
|
Referências Conexas
Belk. R. (1988). Possessions and extended self. Journal of Consumer Research, 15(2): 139-168.
Belk. R. (2013). Extended self in a digital world. Journal of Consumer Research, 40(3): 477-500.
Hall, S. (1998). A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A.
McCracken, G. (2008). Transformations: identity construction in contemporary culture. Bloomington: Indiana University Press.
Scanlon, J. R. (Ed.) (2000). The gender and consumer culture reader. New York: NYU Press.
Soutilha, D., Ayrosa, E. A. T., & Cerchiaro, I. B. (2013). Do bom e do melhor: o consumo de bens de luxo na classe C. Sociedade, Contabilidade e Gestão, 8(1):80-97.
Tonini, K. A. D., & Sauerbronn, J. F. R. (2013). Mulheres cariocas e seus corpos: uma investigação a respeito do valor de consumo do corpo feminino. Revista Brasileira de Marketing, 12(3): 77-101.
Veblen, T. (2013). The theory of the leisure class. New York: Penguin Books.
Hall, S. (1998). A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A.
McCracken, G. (2008). Transformations: identity construction in contemporary culture. Bloomington: Indiana University Press.
Scanlon, J. R. (Ed.) (2000). The gender and consumer culture reader. New York: NYU Press.
Soutilha, D., Ayrosa, E. A. T., & Cerchiaro, I. B. (2013). Do bom e do melhor: o consumo de bens de luxo na classe C. Sociedade, Contabilidade e Gestão, 8(1):80-97.
Tonini, K. A. D., & Sauerbronn, J. F. R. (2013). Mulheres cariocas e seus corpos: uma investigação a respeito do valor de consumo do corpo feminino. Revista Brasileira de Marketing, 12(3): 77-101.
Veblen, T. (2013). The theory of the leisure class. New York: Penguin Books.
Oi Professor, bacana este post, pode enviar seu e-mail para comentários?
ResponderExcluirOlá Fernando!
ExcluirObrigado pela visita ao blog.
Fique à vontade para comentar aqui mesmo no espaço de comentários dos posts do/no blog, mas também posso lhe enviar meu e-mail.