Nos dias de hoje, as editoras fazem pouco ou quase nenhum esforço para publicar poesia. Fácil de constatar. Basta olhar o catálogo de livros das editoras brasileiras e de outros cantos do mundo. Poesia não gera lucro. Livros de poesia não estão nas vitrinas das livrarias. Poetas não produzem bestsellers.
Qual o último livro de poesia que foi lido? Onze entre cada dez pessoas dirá que não lembra. A poesia ficou confinada aos concursos. Está restrita às aulas do ensino básico. Faz parte da linguagem e do universo conhecido como politicamente correto. Compõe a cena, mas ninguém vê, tampouco lê.
Lidar com poesia é ter imaginação, ser sonhador. Coloquialmente, é viver com a cabeça nas nuvens. Algo pejorativo em uma sociedade que reivindica pragmatismo, racionalidade, rapidez, objetividade. Não há interesse em poesia. Escrever poesia é perder tempo. Falar em poesia é soar estranho. Não se consome poesia.
Referências Conexas
MORICONI, Italo. Como e porque ler poesia brasileira do século XX. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.
PETER, Middleton. Distant reading: performance, readership, and consumption in contemporary poetry. Tuscaloosa: University of Alabama Press, 2005.
SHERRY Jr., John F.; SCHOUTEN, John W. A role for poetry in consumer research. Journal of Consumer Research, v. 29, n. 2, p. 218-234, 2002.
O leitor de poesia precisa ter a habilidade de conectar-se com o surreal...
ResponderExcluirConsiderando a lida diária do trabalhador que enfrentou horas de trabalho, sofreu no transporte público, venceu os mais diversos humores. Ele não terá ânimo para ler poesia. Seu corpo preferirá chacoalhar-se nos ritmos populares.
Aliás penso que o problema já começa pela música, como afirmou Ruy Castro "... se as pessoas comessem a música que a mídia lhes serve para ouvir, já estariam mortas há muito tempo."
Perdemos muito com isso, quantas pérolas deixamos de desfrutar? Ler poesia inspira obras de arte como, por exemplo, a bela interpretação de Fagner cantando Fanatismo da talentosa Florbela Espanca.
Prezada Liciane,
ResponderExcluirObrigado por visitar o blog e por seus comentários.
Essa do Ruy Castro é ótima, não?
Francisco, como há muito tempo não visitava seu blog, estou colocando a leitura em dia.
ResponderExcluirExcelente e verdadeiro esse post sobre o não-consumo da poesia.
Quando você diz "ter imaginação, ser sonhador. Coloquialmente, é viver com a cabeça nas nuvens. Algo pejorativo..." Deixo aqui meu testemunho de que várias vezes, apesar de todos me reconhecerem como "aquela que nasceu com Duracell" etc, já tive o desprazer de ouvir assim, "na lata", que eu era uma sonhadora e que a selva em que vivemos necessita de gente "pé no chão". Isso me foi dito num contexto no qual eu não admitia calar-me perante transações, como posso dizer?... Obscuras. Pois é isso. Os atuais homens e mulheres do mundo corporativo não leem poesia. Graças a Deus, sabe?! A poesia não os merece.
Para lermos uma poesia, precisamos estar sintonizados na frequência dos ideais de justiça e bem-comum. Esse ideário pertence aos "sonhadores". Será?
Essa do Ruy Castro é ótima, não? (2) :)
Abraços,
Eliane Bonotto
Boa tarde, acabei de conhecer seu blog de um jeito bem peculiar, estou fazendo uma pesquisa sobre poesia para um seminário que irei apresentar na faculdade, faço pedagogia e não me surpreendi com suas colocações a respeito da cultura brasileira na atualidade e da maneira que o individuo tem levado sua vida. É verdade que estamos todos cada vez mais apressados em busca de realizações próprias cada vez mais ambiciosas e os sentimentos de amor, compaixão, solidariedade tem ficados para depois, num eventual momento que nunca chega. A poesia é toda sentimento em cada verso ou estrofe só se fala em sentimentos e a objetividade não nos deixa perceber a necessidade que estamos adquirindo desses sentimentos e isso me deixa muito triste e preocupada, por que de alguma forma é preciso mante-los vivos para que possamos passa-los adiante para nossos filhos, netos, amigos e conhecidos.
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