sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Capitalismo preconceituoso

A história do capitalismo sempre foi tecida por meio de ações controversas, incluindo desonestidade, ambição e oportunismo. Ações criativas, inovadoras e até mesmo geniais, no sentido da construção do bem-estar, também fazem parte de sua história. Isso não significa que uma ação exclua a outra. Elas podem co-existir. O sistema econômico é absurdamente complexo e não linear, como a própria natureza humana.

No início desse ano foi possível observar, de forma contundente, mais uma manifestação do pacote de possibilidades do capitalismo em terras brasileiras. Ela está presente em relatório de pesquisa divulgado pelo Instituto Data Popular. Na contramão do aumento do consumo entre as chamadas classes de baixa renda, executivos de companhias brasileiras afirmaram haver preconceito nas empresas no que se refere à criação e oferta de marcas específicas de produtos para os chamados mercados C e D.

Dirigentes empresariais assumem, nesse episódio, uma posição de arrogância ímpar. Isso revela anacronismo e despreparo dentro do sistema. Alguns poderiam dizer má fé. Tecnicamente, trata-se de uma compreensão inadequada do funcionamento da economia de mercado.

Aparentemente, a relação entre a Casa Grande e a Senzala nunca irá sair do imaginário brasileiro. Em muitos lugares, mundo afora, dinheiro não tem cor ou classe social na ação da oferta para o consumo. No Brasil tem. Em alguma medida isso revela a dificuldade da nossa sociedade entender e praticar a distribuição de renda.

Referências Conexas

PARENTE, Juracy; BARKI, Edgard. Oportunidades na baixa renda. GV Executivo, v. 4, n. 1, p. 33-37, 2005.

PRAHALAD, C. K. A riqueza na base da pirâmide: erradicando a pobreza com o lucro. Porto Alegre: Bookman, 2009.

4 comentários:

  1. É assustadora essa realidade, Giovanni. A China tornou-se a segunda economia mundial ao tornar a primeira economia seu principal cliente e seu maior devedor, vendendo o que? Produto barato para a população mais consumista do planeta em todas as classes sociais...

    A propósito, enquanto a Índia desenvolve carros populares assustadoramente baratos, os pop do Brasil estão cada dia menos populares em preço e mais recheados de itens de série, na contramão do desenvolvimento e na busca de atender às reais necessidades das classes predominantes C e D.

    Esse é o Brasil, que orgulha-se do seu desenvolvimento científico mas que ainda é arcaico no desenvolvimento econômico/social.

    Abraços!
    Adriano

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  2. Adriano,

    O que mais me chama a atenção é o fato dos executivos parecerem não entender a lógica do sistema. Preconceito no relacionamento e na oferta de produtos para a baixa renda parece coisa de ficção científica "trash", de tão dfícil que é de acreditar.

    Como falei no post, é a expressão da relação da Casa Grande para com a Senzala, que culturalmente está presente na sociedade brasileira.

    Não há sentido em ter preconceito na oferta de produtos. Numa linguagem coloquial, o dinheiro do pobre é igual ao do rico! Ou deveria ser. Ademais, os resultados de mercado que essas companhias obtêm, depende da relação que possuem com o mercado. Isso inclui a oferta/venda de produtos.

    Um abraço,

    Francisco Giovanni Vieira

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  3. Como citado no post, muito complexo esse tal de Capitalismo. Muitas vezes tirando o dinheiro de quem tem pouco, e agora "recusando" este dinheiro das pessoas que hoje podem e querem gastar um pouco mais.
    Mal sabem estes executivos que este é um nicho de mercado ainda mal explorado, apesar de haver muitas empresas oferecendo produtos e serviços para esta pessoas há muito tempo, poucos estão dispostos a ouvi-los para adequar suas ofertas (produtos e serviços) às necessidades e desejos delas.
    Como citado pelo colega Adriano, China e Índia já saíram na frente. Será que ficaremos para trás mais uma vez?
    Hora por injustiça, hora por corrupção, hora incompetência, hora por azar, hora por descuido, hora por despreparo e agora por preconceito.

    Saudações

    Vitor

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  4. Pois é, Vitor ...

    Não creio que o caso da China é parecido com o nosso. Tenho muitas ressalvas em relação à China. A economia chinesa não opera sob os parâmteros que estamos acostuamdos a analisar. O empreendedor é o Estado e a mão-de-obra é, em parte, escrava. Já a Índia tem um modelo mais próximo ao modelo brasileiro no que se refere à baixa renda.

    Um abraço,

    Francisco Giovanni

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