quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Em busca de um samaritano

Instituições de ensino superior privadas brasileiras têm adotado um processo curioso para o recrutamento de profissionais para comporem os seus quadros docentes. Nos últimos tempos, a forma mais frequente consiste em enviar mensagens por e-mail para listas acadêmicas e redes sociais, indicando todos os atributos que as instituições desejam e esperam que os candidatos às vagas oferecidas possuam. Desde a formação acadêmica e grau de titulação, até habilidades com o uso de equipamentos ou softwares, incluindo capacidade de interação, relacionamento pessoal e trabalho em equipe, sem esquecer do volume de publicação científica, tudo é listado.

Tais instituições, no entanto, esquecem de informar o que oferecem ou o que pretendem oferecer aos profissionais que eventualmente se candidatem aos postos de trabalho em seus quadros docentes. Elas não comunicam o valor dos salários que pagam aos seus docentes, as condições de trabalho oferecidas, o plano de carreira existente, ou se há plano de saúde ou auxílio creche, por exemplo. Em geral, querem um profissional para trabalhar em tempo integral, mas nem uma sala para ele trabalhar oferecem.

Quando recebo essas mensagens, fico a pensar que instituições de ensino superior privadas não estão recrutando profissionais para serem docentes. Elas estão à procura de bons samaritanos.

Referências Conexas

CUNHA, Luiz A. O ensino superior no octênio FHC. Educação & Sociedade, v. 24, n. 82, p. 37-61, 2003.

LESSARD, Claude; TARDIF, Maurice. O trabalho docente: elementos para uma teoria da docência como profissão de interações humanas. Rio de Janeiro: Vozes, 2005.

SAMPAIO, Helena. Ensino superior no Brasil: o setor privado. São Paulo: Hucitec/Fapesp, 2000.

2 comentários:

  1. Propostas sem sentido também recebem alunos, de empresas que pretendem contratar estagiários. As exigências são muitas: falar pelo menos o inglês fluentemente, conhecer muito bem de internet, informática, pacote office e outros, ter espírito de liderança, dinamismo, saber trabalhar em equipe, ser inovador, ser bom aluno, ter experiência profissional e até experiência internacional.
    Quando um candidato possui todas, ou quase todas essas exigências, se empolga e se inscreve para vaga, fica feliz ao ser contratado, mas ao começar o trabalho executa atividades triviais, como tirar cópias, preencher planilhas, lançar notas, cobrança, resolver pequenos problemas diários entre outras tarefas que não exige nada do que lhe foi solicitado no processo de seleção. Sem contar o auxílio financeiro que muitas vezes é insignificante, sem auxílio transporte, alimentação e etc, não sobra nada.
    Estranho esta conjuntura que falta mão de obra qualificada, mas que ainda possui grandes taxas de desemprego. As organizações de modo geral(universidades privadas, grandes e pequenas empresas) querem bons funcionário mas querem pagar pouco, visam quantidade e pouca qualidade.
    Quanto aos processos de seleção, tanto de estagiários, quanto de docentes em instituições privadas, é necessário antes de abrir uma vaga, planejar quais requisitos serão necessário para o preenchimento da vaga e quais as condições de trabalho para este novo empregado.
    Depois é fácil afirmar:
    - Não tem gente para trabalhar!!!
    - Não para um funcionário nesta empresa!!!
    - Não aguento mais rescindir contrato!!!
    Claro, com os salários oferecidos não aparece e não fica ninguém.

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  2. Vitor,

    Muito bons os seus comentários, especialmente porque são feitos sob uma perspectiva diferente, dos alunos.

    Obrigado pela contribuição ao debate.

    Francisco Giovanni

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