quinta-feira, 22 de julho de 2010

O falso rigor inglês

Durante anos, talvez décadas ou mesmo séculos, a Inglaterra construiu uma imagem de rigor, pontualidade e precisão perante a opinião pública mundial. Tal imagem tornou-se admirada de diferentes maneiras e se constituiu em uma das referências da cultura inglesa. No ocidente, talvez ela tenha rivalizado apenas com as culturas germânica e, possivelmente, a suíça – que ademais, tem muito em comum.

A imagem de tal rigor, contudo, não encontra sustentação em fatos ocorridos na última década. O envolvimento inglês na guerra do Iraque e a morte de Jean Charles de Menezes decorrente de ação empreendida pela polícia londrina na estação de Stockwell do metrô de Londres, são exemplos claros dessa situação. No primeiro caso, o primeiro-ministro Tony Blair nunca conseguiu justificar o envolvimento da Inglaterra na referida guerra. Já no segundo caso, e até o dia de hoje, quando são completados cinco anos da morte de Jean Charles, nenhum dos envolvidos foi responsabilizado criminalmente perante a justiça inglesa.

Os eventos de 11 de setembro de 2001, e outros que deles foram decorrentes, funcionaram como vetores para a mudança de hábitos, valores e padrões de ação de estados nacionais. Os fatos acima mencionados até podem ser traduzidos como desdobramentos desses eventos. Mas não é só isso.

Fenômenos sociais certamente promovem mudanças culturais individuais e institucionais. Não obstante, o que ocorreu e, pior, ainda tem ocorrido em torno da morte de Jean Charles, é meramente uma tentativa de gerenciamento de impressões de um rigor inglês que é coisa do passado.

Referências Conexas

CHOSSUDOVSKY, Michel. Guerra e globalização: antes e depois de 11 de setembro de 2001. São Paulo: Expressão Popular, 2004.

FIRAT, Fuat; VENKATESH, Alladi. Liberatory postmodernism and the reenchantment of consumption. Journal of Consumer Research, v. 22, n. 3, p. 239-267, 1995.

MENDONÇA, J. Ricardo C. de; AMANTINO-DE-ANDRADE, Jackeline. Gerenciamento de impressões: em busca da legitimidade organizacional. Revista de Administração de Empresas, v. 43, n. 1, p. 36-48, 2003.

REINER, Robert. A política da polícia. São Paulo: Editora da USP, 2004.

SCOTT, W. Richard. Unpacking institutional arguments. In: POWELL, Walter; DiMAGGIO, Paul (Ed.). The new institutionalism in organizational analysis. Chigaco: University of Chigaco Press, 1991. p.164-82.

VAUGHAN-WILLIAMS, Nick. The shooting of Jean Charles de Menezes: new border politics? Alternatives: Global, Local, Political, v. 32, n. 2, p. 177-195, 2007.

Um comentário:

  1. O fato é, meu amigo Giovanni, que a Inglaterra de Mageret Thatcher ainda sustentava um certo charme. Tinha credibilidade e impunha o estilo inglês de governar e de se fazer respeitar.

    Com a saída da dama de ferro o país tornou-se nisso que temos visto. Falta de disciplina, de rigor e de alinhamento na conduta política interna e interncional.

    Grande abraço!

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