Além da necessidade de realização de compras, ir ao supermercado algum tempo atrás era motivo de curiosidade e interesse. Nos últimos tempos passou a ser algo bastante desagradável. A experiência da compra se tornou uma experiência cansativa e desgastante, para não dizer estressante. Os supermercados foram abarrotados com centenas e centenas de produtos dispostos em ilhas em seus corredores e o tráfego dos carrinhos de compra em seu interior chega até a lembrar o trânsito de automóveis nas cidades.
Em determinados corredores é praticamente impossível que duas pessoas passem simultaneamente entre uma ilha de produtos e uma gôndola. Os supermercados tentam maximizar ao máximo a utilização dos seus espaços internos com a exposição de produtos e diminuem drasticamente o espaço para a circulação de consumidores em seu interior. Cada milímetro quadrado passou a ser explorado com intensidade antes não vista. Parece um paradoxo, pois é como se não valorizassem a presença de consumidores em seus ambientes internos. Há espaço para quase tudo, mas falta espaço para o consumidor. Trata-se de uma tendência que se acentuou com a entrada de redes internacionais no mercado brasileiro.
Além do espaço físico, cada vez mais restrito, há aparelhos de televisão espalhados por quase todos os lados, informando e divulgando produtos. Como se não bastassem as ações realizadas por meio de promotores de vendas, como as de degustação, por exemplo, há um verdadeiro bombardeio de informações sobre os consumidores. Além de lidar com o tráfego interno, o consumidor precisa lidar com a avalanche de informações que recebe.
Em geral, as marcas de produtos disponibilizadas são aquelas que atendem aos interesses dos supermercados, especialmente por meio de processos de negociação, e não necessariamente aquelas que são do interesse dos consumidores. A rigor, tal comportamento pode ser considerado legítimo do ponto de vista econômico e em um mercado de livre concorrência. Não obstante, ele se torna um equívoco quando os supermercados procuram fornecer a impressão de que disponibilizam aquilo que é do exato interesse dos consumidores. Isso ocorre quando, ao final da compra, os operadores de caixa perguntam se há algo que foi procurado e não foi encontrado durante a compra. Diante de uma resposta afirmativa são treinados para tomarem nota daquilo que os consumidores mencionam, bem como informarem que o supermercado providenciará para que seja encontrado em uma próxima compra.
Invariavelmente, contudo, os produtos anotados não são encontrados em futuras compras. Ao contrário, o que se observa, cada vez mais, é a imposição de um modo de operação e realização de negócios que tem concentrado grande poder econômico e cuja cultura organizacional inclui o consumidor apenas do ponto de vista instrumental.
Referências Conexas
ANGELO, Cláudio F.; SIQUEIRA, João P. L.; FÁVERO, Luiz P. L. As compras não planejadas em supermercados: a importância do tempo e da organização da loja na determinação dos gastos. Revista de Administração Contemporânea, v. 7, n. 3, p. 149-162, 2003.
CRUBELLATE, João M. Ambiente organizacional. São Paulo: Cengage Learning, 2008.
KNOKE, William. O supermercado no Brasil e nos Estados Unidos: confrontos e contrastes. Revista de Administração de Empresas, v. 3, n. 9, p. 91-103, 1963.
Giovanni, meu grande amigo, nem há o que complementar a esse respeito, você descreveu incrível precisão o que de fato acontece.
ResponderExcluirSabe o quanto eu combato essa prática de gerenciar mix de produtos através das verbas de acordos comerciais, e não através do foco no consumidor... A indústria que estiver disposta a pagar uma boa "luva", coloca o que quiser em qualquer mercado do Brasil. E se pagar um pouco mais, ainda melhora sua exposição na área de venda. E com um pouco mais de verba, compra um pouco dos espaços destinados ao tráfego dos clientes para exposições extras dos produtos. Mas quem não tiver a verba na mão, mesmo que tenha um produto exclusivo, ou diferenciado, terá imensa dificuldade em vender e proporcionar que o mercado atenda melhor ao seu consumidor.
Essa é a triste realidade... reverter esse quadro é o objetivo do Sr. Afrânio, veterano do Supermercado Feijão com Arroz, personagem que você já conhece na novela corporativa do meu blog, rsrsrs
Grande abraço!
Adriano Berger
Caro Giovanni,
ResponderExcluirparabéns pelo excelente debate proporcionado sobre o bombardeio de informações que sofremos nos supermercados. Ao observarmos como essa situação é incomôda para os consumidores imagine para os funcionários que passam o dia todo nessas organizações? Esse então, são plenamente desconsiderados nesses debates.
Abs
Giovanni gostaria de trocar informações de consumo em sup.mercados sou supervisor de vendas e de uma marca bem aceita no mercado, pois suas afirmações tem coerencia, mas na real os donos de mercados querem que consumidores entrem no mercado atraz de apenas 1 item em promoção quanto aos demais que vão no carrinho, são superfulos e onde mais dão rentabilidade para o mercado, pois se o consumidor tiver tempo para pesquisar ou comparar, então o planejamento de ambos vão por água abaixo.
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