sábado, 20 de fevereiro de 2010

Cinderelas do carnaval

Outro dia li uma reportagem da BBC Brasil sobre um livro que foi lançado na Espanha em que personagens antológicos da literatura infanto-juvenil se rebelam e desempenham papéis completamente distintos daqueles que lhe foram atribuídos em histórias originais. Trata-se do livro “La Cenicienta Que No Queria Comer Perdices”, de autoria de Nunila López Salamero (texto) e Myriam Cameros Sierra (ilustrações), cuja tradução é “a Cinderela que não queria comer perdizes”.

O livro, que está disponível no formato pdf na web, retrata a mudança de comportamento da Cinderela. Ela se rebela ao perceber que era maltratada, que tinha que fazer constantes regimes para caber nas roupas com manequins de baixa numeração, e que tinha que enfrentar um marido que deixou de ser um príncipe e virou um machão. No livro, Cinderela deixa o baile após a meia noite e ainda se separa do príncipe encantado. As autoras do livro quiseram, assim, e de uma forma bem humorada, apontar um novo patamar de ação feminina e da atmosfera da suas relações para com os homens no Século XXI.

Eu lembrei dessa reportagem e do livro porque vi cenas do último carnaval em que algumas mulheres tatuaram os nomes de seus parceiros em parte íntima de seus corpos e, ao mesmo tempo, fizeram questão de exibi-los para a mídia de difusão. O que será que Nunila e Myriam, autoras do livro, teriam a dizer sobre isso se estivessem passando o carnaval no Brasil?

Referências Conexas

INFANTE, Anelise. Cinderela larga príncipe e Branca de Neve toma Prozac em livro na Espanha. BBC Brasil, Cultura & Entretenimento, 14 jan. 2010.

SALAMERO, Nunila L.; SIERRA, Myriam C. La cenicienta que no queria comer perdices. Barcelona: Planeta, 2009.

2 comentários:

  1. Caro Giovanni,

    muito instigante esse questionamento! Acredito que essa expressão feminina no carnaval brasileiro nada tem de "cinderelas" rebeladas, mas de reafirmação da submissão feminina, agora, de fato, marcadas no corpo. Lembremos de um caso de uma madrinha de bateria que desfilou no carnaval com uma coleira, onde inscrita estava o nome de seu companheiro. Isso, sob minha percepção, nada mais é do que uma forma de reproduzir a submissão das mulheres na sociedade, pois isso não constrói ou reconstrói o papel das mulheres, mas apenas reafirma.
    Parece até estranho isso ocorrer em um período em que tanto as mulheres buscam novos espaços.... mas, a vida também se dinamiza nas contradições, não é verdade?

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  2. A usuária da coleira a que se refere era a Luma Oliveira, e o nome na coleira era do Eike Batista, bilionário brasileiro, seu marido à época.

    De fato, quando dei o título ao post apenas procurei chmara a atenção para o nome "cinderela", posto que as do carnaval em nada se parecem com aquela descrita no livro de Nunila e Myriam.

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