domingo, 2 de junho de 2013

As devassas da Devassa: cervejas, mulheres e machismo

A cerveja é uma bebida milenar e que pode ser encontrada em praticamente todos os lugares do mundo. Vários são os seus tipos e diferentes são suas aparências, aromas e composições. A cerveja mais frequentemente encontrada no Brasil, tanto em supermercados, quanto em bares e restaurantes, é aquela do tipo pilsen, que é clara, de baixa fermentação e levemente amarga.
 
No imaginário brasileiro, particularmente do consumidor dessa bebida, a cerveja do tipo pilsen é conhecida pelo substantivo feminino “loura”. Tal denominação foi incorporada à linguagem cotidiana e se tornou gíria. É bastante comum no ambiente de bares e botecos ouvir alguém dizer “traz uma loura gelada”.
 
Embora praticamente todas as companhias que operam no mercado nacional ofertem a cerveja do tipo pilsen, tem sido menos raro encontrar outros tipos de cerveja. Isso não só estimula novas experiências de consumo, como também possibilita a ampliação da produção simbólica em torno da cerveja. Esse é o caso ocorrido por meio da expansão da linha de cervejas da Cervejaria Devassa.
 
A Devassa lançou no mercado cervejas do tipo lager, pale ale e dark ale, que foram denominadas como devassas loura, ruiva e negra. Além dessas cervejas, lançou um chope do tipo weiss e um outro baseado na cerveja do tipo pale ale britânica, denominando-os de devassas sarará e índia.
 
O conjunto das cervejas e chopes remete a um universo composto por vários tipos de mulheres: loura, ruiva, negra, sarará e índia. Um paraíso sobre a terra para os apreciadores de cerveja. Diferentes possibilidades ao alcance da mão.
 
Embora, com algum esforço de compreensão, a denominação possa querer soar inclusiva e sugerir diversidade, é curioso observar como se coloca abertamente a mulher em posição de objeto e se assume uma posição machista por meio da simbologia que se cria em torno desses produtos.
 
Referências Conexas
 
Costa, F. J. da, & Cavalcante, A. A. (2007). Comportamento do consumidor de cerveja: proposta de uma tipologia baseada na imagem e nas intenções em relação à marca. Revista de Negócios, 12(4), 71-85.
 
McCracken, G. (1993). The value of the brand: an anthropological perspective. In D. A. Aaker & A. L. Biel (Eds.), Brand equity & advertising: advertising’s role in building strong brands (pp. 125-142). Hillsdale: Psychology Press.
 
Ribeiro, M. M., Della Lucia, S. M., Barbosa, P. B. F., Galvão, H. L., & Minim, V. P. R. (2008). Influência da embalagem na aceitação de diferentes marcas comerciais de cerveja tipo Pilsen. Ciência e Tecnologia de Alimentos, 28(2), 395-399.
 
Silva, M. R. V. da. (2010, outubro). A construção da mulher como objeto de consumo em anúncios publicitários de cerveja: uma abordagem discursiva. Anais do Encontro do Círculo de Estudos Linguísticos do Sul, Palhoça, SC, Brasil, 9.
 
Urdan, F. T., & Urdan, A. T. (2001, setembro). O impacto da marca sobre as preferências do consumidor: um experimento com cervejas. Anais do Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 25.

4 comentários:

  1. Muito bom...
    Postei em meu blog
    citei referências...
    Abraços!

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  2. Luciana,

    Obrigado pela visita e pelo comentário.

    Um abraço,

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  3. Boa noite Prof. Giovanni,
    Que coincidência esse seu post de hoje!
    Acabo de assistir na Revista RPC uma matéria de como é crescente a aceitação e o consumo de cervejas artesanais... Fizeram a reportagem aqui em Curitiba, onde esse fim de semana ocorreu um encontro de cervejeiros artesanais... Vale a pena conferir a reportagem.

    Abraço

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    1. Olá, Lucas!

      Obrigado pelo comentário e por sua observação. De fato, há novas experiências de consumo de cerveja, tanto industrializadas e produzidas em larga escala, quanto artesanais. Vou verificar a reportagem a que você se refere.

      Um abraço,

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