A cada ano que se inicia, várias empresas de varejo recorrem à realização de promoções. Do mesmo modo, ano após ano, muitos consumidores colocam, antecipadamente, essas promoções em seus calendários de compra. Trata-se de algo que, por seu padrão de repetição, já assume traços de incorporação cultural, descolando-se da situação de um evento meramente circunstancial.
Uma promoção ocorrida na primeira semana desse ano e que chamou a atenção da mídia internacional, diz respeito àquela que foi realizada pela Desigual, que é uma marca de roupas espanhola, presente no mercado há 26 anos, com lojas em 8 países da Europa. A promoção consistiu em que os consumidores entrassem em lojas de Amsterdã (Holanda), Barcelona, Madrid, Marbella, San Sebastián (Espanha) e Lisboa (Portugal), usando apenas roupas íntimas e saíssem das lojas vestidos com os produtos que encontrassem e comprassem na promoção. Um apelo adicional da promoção referia-se a que as 100 primeiras pessoas que chegassem às lojas usando apenas roupas íntimas, ganhariam gratuitamente roupas para se vestirem.
O que chama a atenção na promoção, denominada de “entra casi desnudo, sal vestido” (entre quase nu e saia vestido), é a ideia de se explorar o corpo parcialmente despido; mais ainda, como a situação de consumo foi bem aceita por inúmeras pessoas – e isso, em pleno inverno europeu. O corpo, quase nu, com suas perfeições e imperfeições, exposto em público, perante centenas de pessoas, câmeras e holofotes, parece ter sido tomado com bastante naturalidade. Do ponto de vista das relações de consumo, entretanto, o corpo foi apenas mais um instrumento, um objeto para levar a efeito uma troca. Em uma sociedade pós-moderna, midiática e fragmentada, é mais um limite que parece transposto acerca dos usos e significados do corpo.
Referências Conexas
FEATHERSTONE, Mike. Cultura de consumo e pós-modernismo. São Paulo: Studio Nobel, 1995.
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