segunda-feira, 8 de março de 2010

Consumo de MBAs

No início da década de 1990, quase como uma decorrência da abertura da economia e do maior nível de competição que empresas brasileiras começavam a experimentar, instituições de ensino superior intensificaram a oferta de cursos de MBA – Master in Business Administration. A nomenclatura, no idioma inglês, decorre da origem estadounidense do curso.

No caso brasileiro, o MBA é um curso voltado basicamente para o treinamento, capacitação ou atualização de executivos ou profissionais, de um modo geral, que atuam em organizações privadas e públicas. Alguns desses profissionais não tem a área de negócios – administração e economia, por exemplo – como área de formação básica, e muitas vezes essa é a principal razão para frequentarem um curso de MBA, ou seja, a oportunidade de adquirirem conhecimentos sobre negócios sob uma perspectiva que não apenas aquela do cotidiano das organizações em que trabalham.

Em tese, o MBA é um bom curso e pode, de fato, contribuir significativamente para a formação profissional daqueles que o frequentam. O problema é que atualmente sofre um processo de banalização desenfreada. Até mesmo a condição do grau de especialização que é conferido àqueles que o concluem fica sob suspeição devido ao tipo e formato de cursos que tem sido oferecido no mercado da educação.

Instituições de ensino, de caráter privado, tem oferecido cursos de MBA pelo Brasil afora, com um único encontro por mês para a realização de aulas, e prometem que seus alunos alcançarão posição de destaque em suas organizações, como também alcançarão a excelência. Via de regra, tais cursos são oferecidos por meio de parcerias com empresas locais ou regionais de consultoria que resolveram adentrar o ramo da educação continuada e que não tem tradição ou know how em educação ou ensino superior.

O resultado desses cursos, para quem passou da fase da ingenuidade, é que eles criam a expectativa de entregar um produto que de fato não entregam. Profissionais que se tornam alunos, cheios de boa vontade, criam uma expectativa que não chega a se concretizar, pois, entre outras coisas, os cursos são oferecidos como commodities para todo o país.

Referências Conexas

ANTONELLO, Cláudia S.; RUAS, Roberto. Formação gerencial: pós-graduação lato sensu e o papel das comunidades de prática. Revista de Administração Contemporânea, v. 9, n. 2, p. 35-58, 2005.

DATAR, Srikant; GARVIN, David A.; CULLEN, Patrick G. Rethinking the MBA: business education at a crossroads. Boston: Harvard Business Press, 2010.

FRENCH, Robert; GREY, Christopher. (Eds.) Rethinking management education. London: Sage, 2009.

2 comentários:

  1. Como a educação, atualmente, pode ser considerada um mercado também "sofre" a dinâmica de tal fenômeno. "Produtos" com defeito de fabricação, falta de acabamento, ou que não corresponde a função a qual se destina. Do mesmo modo, existem "produtos" que exercem a função a qual se destina. A essência do problema é justamente essa, olhar para a educação e vê-la como um produto que pode ser substituido: Se um mba não der certo a gente cursa outro. E esquecemos que a educação exerce uma função social muito importante na sociedade. Quando deixarmos de comprênde-la, exclusivamente, pelo ótica mercadológia e "enxergarmos" sua essencial social e cidadã essa realidade com certeza irá mudar.

    Grande abraço a todos!

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  2. Boas e corajosas ponderações do Giovanni. Parabéns pela oportuna reflexão.

    João Marcelo.

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