– Bom dia! Quero dar um presente que ela use à vontade.
Não quero dar um diamante tão grande que tema usar – cumprimenta e informa, a um só tempo, o Conselheiro.
– Ela deve ser mais corajosa do que imagina – pondera o Traficante de Diamantes.
– É um pillow? – Indaga o Conselheiro.
– Não. É um asscher. Olhe os cantos. Avaliemos direito. O
pillow é arredondado nos lados. É uma versão moderna do corte dos mineiros.
Vejamos a cor. Bote a mesa para baixo – orienta o Traficante de Diamantes, referindo-se a colocar a parte plana do diamante para baixo e olhá-lo de forma invertida como se fosse uma pirâmide.
– Quer ver através do pavilhão? – Solicita confirmação o Conselheiro, demonstrando algum conhecimento de diamantes ao usar um nome para o que seria a parte oposta do diamante e que não se costuma ver quando estão encrustados no metal das jóias.
– Sim. Vê-se melhor as facetas – confirma o Traficante de Diamantes.
– Parece ser amarelo – observa sem muita segurança o Conselheiro.
– É nitrogênio que dá essa coloração. A gradação começa no
D. Uma pedra D não tem cor – ensina o Traficante de Diamantes.
– Qual é essa? – pergunta o Conselheiro.
– H – responde o Traficante de Diamantes.
– Ainda é uma boa cor? – Questiona o Conselheiro.
– É uma ótima cor. Diamantes são analisados pelo que lhes
falta para a perfeição. Um diamante perfeito seria composto só de luz. Está
vendo a pequena imperfeição nessa pedra? – Comenta curiosamente o Traficante de Diamantes, ao mesmo tempo que pergunta.
– Não – responde surpreso o Conselheiro.
– É pequena. É o que chamamos de pena. Lembre-se: não
procura méritos. É um ramo cético. Buscamos só imperfeições – afirma de modo surpreendente o Traficante de Diamantes.
– É. Acho que vi. Qual é a gradação? – Reage de modo inseguro o Conselheiro.
– É um VS1. Alguns avaliariam mais alto – observa o Traficante de Diamantes.
– Pode ter avaliado para cima. Você gosta dessa
pedra? – Provoca o Conselheiro.
– Gosto da pedra – responde sem hesitar o Traficante de Diamantes.
– Quantos quilates? – Pergunta o Conselheiro.
– 3,9 – responde o Traficantes de Diamantes.
– É caro – reclama o Conselheiro.
– As pedras têm conceitos próprios sobre si mesmas. Vou
lhe mostrar.
O traficante abre uma espécie de pequeno envelope feito com
uma única folha de papel branco, que contem uma pedra de diamante.
– Essa é uma pedra de advertência – informa curiosamente o Traficante de Diamantes.
O Conselheiro a observa à distância, mas não por muito tempo. Logo usa um instrumento para o exame de
diamantes que lembra as garras de um pássaro ao pegar sua presa e lentamente aproxima a pedra dos seus olhos para enxergá-la melhor.
– Mas eu diria mesmo que todo diamante é uma advertência – insiste o Traficante de Diamantes.
– Um diamante é uma advertência – repete surpreso o Conselheiro, como que para convencer a si mesmo e também afirmar o que o Traficante de Diamantes acabara de dizer por duas vezes.
–
Claro! Por que não? Não é um relés desejo, por mais inatingível que seja, aspirar ao destino infinito da pedra. Não é este o significado do adorno de um diamante?
Realçar a beleza da amada é admitir a fragilidade dela e a nobreza dessa
fragilidade. Dizemos à escuridão que não seremos diminuídos pela brevidade de
nossas vidas. Não vamos, por isso, ser considerados menores. Você verá – reflete e encerra a conversa o Traficante de Diamantes.
O diálogo acima faz parte de uma das cenas do filme O Conselheiro do Crime (The Counselor), produção internacional envolvendo Estados Unidos, Reino Unido e Espanha, ano de 2013, censura 16 anos, 1h51min de projeção, que tem roteiro de Cormac McCarthy e direção de Ridley Scott, com a participação dos atores Michael Fassbender (O Conselheiro), Penélope Cruz
(Laura), Javier Bardem (Reiner), Cameron Diaz (Malkina), Brad Pitt (Westray),
Rosie Perez (Ruth), Toby Kebbell (Tony) e Natalie Dormer (A Loira), entre outros.
Fora a sempre excelente direção de Ridley Scott, O
Conselheiro do Crime envolve a realidade de cartéis de drogas na fronteira
entre os Estados Unidos e o México. Paradoxalmente, em que pese a sua natureza violenta, explícita
e implícita, o filme possui elementos de glamour do (sub)mundo de homens poderosos e
quase sem limites. No filme, o risco é calculado e antecipado. Os elementos da
cultura de consumo de um mundo glamouroso de muito dinheiro e poder estão todos
lá, inclusive as esperadas extravagâncias: carros luxuosos, motos velozes, roupas
e mais roupas, casas nababescas, bebidas, hobbies exóticos e serviçais.
A
cena do filme, descrita acima, contudo, contextualizada em Amsterdã, Holanda, e que introduz esse post, é suficiente para valer a pena assistir o filme. Especialmente pelo caráter do consumo simbólico nela contida, e que transcende em muito a questão meramente material do diamante enquanto uma pedra.
Esse post compõe uma série chamada "Filme". Trata-se de sugestões de filmes.
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