Tão próximos, mas tão distantes. Assim são os moradores dos
inúmeros prédios residenciais existentes nas cidades. Eles experimentam a condição
de ter do outro lado da parede ou do outro lado da rua pessoas que não passam
de meros estranhos.
Cada vez mais construídos com menor distância entre um e
outro, os edifícios são responsáveis por boa parte das dimensões materiais do
espaço social. Concepções de produtos e estruturas de consumo, bem como hábitos
de convivência no cotidiano derivam diretamente da configuração desses imóveis.
A princípio construídos apenas nos centros das cidades, hoje
os edifícios adentram áreas de bairros residenciais e do entorno das cidades. Refletem
o crescimento econômico, mas também indicam uma escolha por um determinado modelo
de ocupação do espaço urbano.
O total do financiamento imobiliário em todo o país até o
mês de outubro foi de R$ 80,2 bilhões. Segundo a Caixa Econômica Federal esse
valor supera em 32,6% o valor concedido em período semelhante do ano passado. O
efeito multiplicador desse volume de recursos para a economia é algo fenomenal,
mas não há como obscurecer o caráter predatório da construção civil e a especulação
de terrenos em áreas urbanas e na definição de tamanhos e formatos de imóveis.
A ocupação do espaço urbano por meio dos edifícios tem feito
com que cada vez mais estejamos vivendo fisicamente perto uns dos outros.
Trata-se apenas de uma proximidade disfarçada. A rigor, essa forma de produção
da vida social revela claramente que vivemos de modo alheio uns aos outros.
Uma vida entre sombras e cortinas.
Referências
Conexas
Berker, T. (2011).
Domesticating spaces: sociotechnical
studies and the built environment. Space
and Culture, 14(3), p. 259-268.
Low, S. M.; &
Lawrence-Zúñiga, D. (2003). The
anthropology of space and place: locating culture. Oxford: Blackwell
Publishers.
McCarthy, C. (2005). Toward a definition of interiority. Space and Culture, 8(2), p. 112-125.
Shadar, H.; Orr, Z.; & Maizel, Y. (2011). Contested homes: professionalism, hegemony, and architecture
in times of change. Space and Culture,
14(3), p. 269-290.
Me vejo em seu post, estamos distantes dos nossos vizinhos, confesso que não conheços os moradores do meu bloco,"malemal" os moradores do mesmo andar.
ResponderExcluirChamo a atenção para o fato de que não são apenas as paredes que separam os apartamentos que interferem nas relações, as paredes internas também presenciam histórias. Antes a família assistia a tv na sala, depois cada um com sua tv no quarto, agora cada um com seu computador.
Se as famílias não fomentarem o diálogo, teremos estranhos dentro de casa.
A situação sugerida pela Liciane já foi veiculada pela Panasonic (com Neymar como ator), mas estranhamente sugerindo o uso da TV, neste caso, "interativa".
ResponderExcluirQuanto ao post, parabéns, caro Francisco! Na iminência de entrar em um apartamento, já antevi o que enfrentarei. Mas também defendo que a possibilidade de entrosamento é maior (no seu post intitulada de "proximidade disfarçada"), apenas que nós mesmos ficamos reclusos, como ocupação intensa de um espaço individual, ao invés de dividi-lo.
Morador de casa durante décadas, à exceção da infância também não presenciei muitos momentos de conexão com as várias vizinhanças que tive.
Sob pena de ser pueril, entendo que depende mais de nós do que do conjunto.
Prezados Edson e Liciane,
ResponderExcluirObrigado pela visita e pelos comentários.
De fato, a TV afasta e parece ser outra cortina ou mais uma parede!
Quanto à conexão entre as casas, pelo que experimentamos no passado, era maior, sim. A rua da casa, no bairro, era um espaço de maior socialização do que o é hoje em dia.
Sem querer ser (ou parecer ser) saudosista, novas formas de produção do espaço urbano, novas dinâmicas ocupacionais e novas formas de comunicação, muito possivelmente têm alterado a condição da conexão.
Abraços.