Próximo ao dia 15 de outubro, editoras e livrarias enviam cartões virtuais para professores, felicitando-os pela passagem daquele que se convencionou ser o seu dia, isto é, o dia dos professores. A lógica que orienta tal felicitação é meramente comercial e é feita a partir das bases de dados dessas empresas, as quais possuem sistemas de gerenciamento automático de e-mails. Algumas enviam cumprimentos, e outras, além dos cumprimentos, tentam ampliar as vendas dos seus livros. Fazem isso por meio de ofertas com descontos especiais para o dia professor e as consideram um presente!
Curiosa essa situação. Ela mostra de forma bastante simples como os professores são duplamente consumidos: como agentes intermediários do mercado e como o próprio mercado final. No primeiro caso, ao indicarem livros para seus alunos. No segundo, ao adquirirem, eles próprios, livros que são instrumentos de trabalho.
Essa, no entanto, é apenas uma das facetas do consumo de professores. Como trabalhadores do setor de prestação de serviços na sociedade contemporânea, é provável que nunca antes na história os professores tenham sido consumidos com tanta voracidade como nos dias atuais. Afinal, são vários e diversos os papéis por eles assumidos, como, por exemplo, educadores, instrutores, incentivadores, idealizadores, conselheiros, escritores, editores, gestores, orientadores, facilitadores, articuladores, animadores, relatores, revisores ...
Referências Conexas
BASSO, Itacy S. Significado e sentido do trabalho docente. Cadernos CEDES, v.19, n. 44, p. 19-32, 1998.
BELK, Russell. Sharing. Journal of Consumer Research, v. 36, n. 5, p. 715–734, 2010.
FAR, Alessandra E. O livro e a leitura no Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 2006.
VICENTINI, Paula P. Celebração e visibilidade: o dia do professor e diferentes imagens da profissão docente no Brasil (1933-63). In: 26ª REUNIÃO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO (2003: Poços de Caldas). Anais ... História da Educação. Rio de Janeiro: ANPED, 2003. (Versão integral no website da ANPED)
Olá, Francisco. Boa noite. Gostei do seu blog. É bem interessante e fala de algo que me agrada, cultura.
ResponderExcluirQuis deixar um comentário pq lendo seu post, observei que vc disse que os professores são duplamente consumidos. Só que o consumo a que vc se refere é consumo de livros, ou seja, de cultura. Entendo sua indignação perante o oportunismo do segmento editorial, mas eu gostaria muito de saber que os jovens brasileiros estão consumindo à beça, não as mil bobagens de que não precisam, mas sim consumindo cultura, livros eletrônicos ou não, bons CDs e DVDs, ingressos para espetáculos de ballet, óperas e concertos.
Será que algum dia nossos jovens deixarão de comprar várias bobagens de "marca" que não servem para nada? Tomara.
Abs,
Eliane
Gostei de teu comentário sobre o duplo consumo dos professores.
ResponderExcluirO que me entristece é que este consumo em pouco tem ajudado na qualidade e reconhecimento do profissional de ensino.
Muito em breve me tornarei mestre e pretendo lecionar, daí fico pensando se é questão de cultura ou de educação esta não valorização do professor.
abs
Bernardo Oliveira.
É a nossa realidade, Giovanni. Somos consumidos por muitos e de muitas formas; somos valorizados por poucos e de poucas formas.
ResponderExcluirOlga Pépece
Olá, Olga!
ResponderExcluirQue bom ler se comentário aqui no blog.
Infelizmente, é isso mesmo. O professor parece viver a saga de não ter seu trabalho reconhecido. Até quando, será, que isso ocorrerá?