domingo, 18 de março de 2018

Quem sabe ensina, quem não sabe aprende




Algum tempo atrás, no final dos anos 1980, de vez em quando eu escutava alguém comentar o seguinte: "quem sabe faz; quem não sabe, ensina". Em geral, as pessoas de quem eu escutava esse tipo de comentário eram pessoas que transitavam no mundo acadêmico, porém eram ligadas ao mercado por meio de alguma atividade empresarial como gestor ou consultor. Eram os chamados acadêmicos-praticantes. Era uma época em que não havia o mesmo volume de oferta de cursos stricto sensu que existe hoje em dia, e que muitos professores tinham não mais que uma especialização, a chamada pós-graduação lato sensu. Tais professores, via de regra, ministravam aulas em período noturno. Em certa medida, é como se procurassem demarcar um território que compensasse a falta de uma pós-graduação stricto sensu. Naquela época, ter o título de mestre era algo raro, e ter o título de doutor era raríssimo. Alguns daqueles professores acreditavam que a experiência que possuíam nas atividades empresariais ou de consultoria fora da universidade era suficiente para lhes legitimarem no trabalho como professores. Costumavam dizer, ainda, que eles, sim, ensinavam a prática, e que outros ensinavam teoria. Com o passar do tempo e por meio da interação com outros colegas professores, e também por meio da interação com alunos que tínhamos em comum, pude perceber que, a rigor, vários desses professores mais falavam sobre os seus próprios trabalhos e atividades empresariais ou de consultoria, do que, de fato, ministravam o conteúdo programático das disciplinas pelas quais eram responsáveis. Desse modo, percebi que o professor A ou B não ministrava aula de X ou Y, mas sim falava o tempo todo da empresa K ou Z, onde exercia alguma atividade de gestor ou consultor. O tempo passou e hoje vejo que a prática de muitos desses profissionais, especialmente os consultores, mudou bastante no que tange a ideia de ensino. É curioso perceber empresas de consultoria e de pesquisa de mercado tentarem se posicionar no mercado como instituições de ensino, capacitação e treinamento. Várias delas oferecem cursos de metodologia de pesquisa, treinamento em pesquisa, e até mesmo se aventuram na oferta de cursos de MBA! Isso mesmo, você não leu errado: cursos de MBA. Como se não bastasse também tentam criar novos conceitos ou tipos de serviço como mentoring e coaching corporativo ou one shot consultancy. Como se diz popularmente, "o mundo não tem esquinas", ou ainda, "nada melhor do que um dia atrás do outro".    

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