Deu na Folha: 12% dos paulistanos concordam parcial ou totalmente que "mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas". Pior ainda, a pesquisa do Datafolha foi além da pesquisa anterior do IPEA realizada em todo o Brasil, e identificou que 9% concordam parcial ou totalmente que "mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser estupradas".
A pesquisa do Datafolha foi conduzida na capital paulista no dia 7 de abril e usa metodologia semelhante a do IPEA para verificar o grau de concordância das pessoas a uma determinada frase. Na escala Likert com cinco postos, concordar total ou parcialmente significa concordar e discordar parcial ou totalmente significa discordar. Há apenas uma tentativa de mensurar, digamos assim, a intensidade da concordância ou discordância. Trata-se mais de uma espécie de ardil metodológico.
Abominável e, também, curioso o resultado da pesquisa. Agora temos um dado explícito para a sugestão de estupro. Algo que é assustador se considerarmos que a pergunta foi formulada de modo direto e fugiu da hipocrisia do politicamente correto. Considerando a margem de erro de 4% da pesquisa, 9% pode vir a ser 13%. Trata-se de algo como 1 entre cada 10 pessoas admitirem que concordam que uma mulher possa ser estuprada pelo simples fato de usar uma roupa que mostre o seu corpo.
Apenas a ideia de um comportamento machista, latino, não parece ser suficiente para explicar esse fenômeno. A se imaginar que esse dado refere-se à cidade de São Paulo, que é, pelo menos em tese, uma cidade moderna, o que pensar dos índices percentuais que essa mesma pergunta pode indicar em termos de tendências em outras cidades e regiões do país?
Uma vertente do debate que a divulgação desses dados ainda não parece ter suscitado diz respeito ao papel da indústria cultural na construção desse fenômeno. Poderia se iniciar pela recente apropriação e uso da palavra "sensual" em contextos antes inexistentes. É possível, por exemplo, atribuir sensualidade à condição material da roupa enquanto coisa, enquanto objeto? Parece que nesse caso, infelizmente, e mais uma vez, reitera-se a cultura da transferência da responsabilidade que permeia o país. Em outras palavras, atribui-se às mulheres a culpa pela violência que elas próprias sofrem. Lamentável!
A primeira vez que li sobre essa pesquisa fiquei perplexa com a possibilidade de alguém concordar de alguma forma com o ato repugnante do estupro. Seja pela imagem, seja pelo comportamento que a mulher apresenta, por mais promíscuo que possa ser, não justifica a violência. Acredito que a escala Likert poda, de certa forma, confundir os desavisados sucitando dúvidas sobre os resultados. Contudo, não é possível atribuir a concordância com a violência (em qualquer grau) ao simples 'desaviso'. Ou seja, há sim uma cultura articulando a interpretação dos símbolos da sensualidade/sexualidade.
ResponderExcluirHumm! E eu achando que falar de machismo era coisa ultrapassada... tais dados mostram a relevância do debate.
Olá, Liciane!
ExcluirObrigado pela visita ao Blog.
Creio que o debate sobre esse assunto continua relevante, sim. E arrisco afirmar que ainda o será por muito tempo.
Infelizmente!