Pedestres, ciclistas, motoqueiros, motoristas. Transportes
individuais, transportes coletivos. Avenidas, ruas, vielas, becos. Espaços
públicos, democráticos, igualitários por excelência. É o que se supõe! A rigor,
o consumo do trânsito enquanto ato de deslocamento, transporte, trabalho ou
lazer, nega a igualdade, estabelece uma hierarquia e prioriza a individualidade.
É o que se depreende a partir da leitura do ótimo livro “Fé em Deus e pé na tábua – ou como e por que o trânsito enlouquece no
Brasil”, escrito pelo antropólogo Roberto
DaMatta com a colaboração de João Vasconcellos
e Ricardo Pandolfi, publicado em
2010 pela editora Rocco. O consumo do trânsito no cotidiano brasileiro separa
os que estão em perigo – pedestres – e os que pretensamente estão protegidos –
aqueles a bordo de veículos. A vestimenta da couraça do veículo no trânsito reforça
o traço cultural brasileiro de construir hierarquias no espaço público – algo do
tipo “se você não sabe com quem está
falando, saia do meio senão eu lhe atropelo”. Por outro lado, o famoso
jeitinho, embora seja também aplicado às condições e situações do trânsito, tem
os seus limites perante um sinal vermelho. Até é possível desconsiderar o sinal
e não parar, mas isso pode significar um risco para a própria vida. O fato é
que o consumo do trânsito apenas revela a falta de discernimento quanto à
condição coletiva do espaço público, bem como a enorme dificuldade para se
cumprir regras em nosso país.
Esse post compõe uma série chamada "Olhar Acadêmico". Trata-se de observações sobre trabalhos acadêmicos na forma de artigos, dissertações, teses ou livros relacionados direta ou indiretamente ao campo de cultura e consumo.
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