As novelas são importantes produtos para consumo e para
entretenimento geral na América Latina. Nosso continente é especializado nesse
tipo de produção. O Brasil e o México, particularmente, produzem muitas novelas.
A audiência da televisão por sinal aberto no chamado horário
nobre, o das novelas, no entanto, tem caído sistematicamente no Brasil nos
últimos anos. Possivelmente a internet e a TV a cabo, bem como o uso de vídeo
games, têm contribuído para isso. Em que pesem a concorrência e a queda de audiência,
o fato é que a novela continua sendo um forte produto de entretenimento. Não é
a toa que a novela Avenida Brasil, exibida pela Rede Globo no ano passado, virou objeto de debate na
mídia de difusão.
Críticos do gênero debruçaram-se sobre Avenida Brasil e
procuraram entender as razões da sua audiência e explorar seus significados.
Houve quem visse de tudo em Avenida Brasil: o caráter do país, as famílias de
classe média, o mundo suburbano, a violência, a maldade, a ambição, a vingança,
a inveja, o amor (em várias de suas formas), o ódio (em vários de seus modos), o futebol, a celebridade
instantânea, e até a poligamia – curiosamente aceita pela audiência e
praticamente não abordada de frente pela crítica.
As novelas são sempre construídas em torno daquilo que os
autores e críticos chamam de núcleos. De uma maneira ou de outra, esses núcleos,
compostos por personagens típicos, e que podemos entender como grupos de referência, tendem a se repetir ao longo de diferentes novelas. Uma mudança, contudo,
tem despertado a atenção. Tal mudança diz respeito à introdução – ou maior
presença – de núcleos e personagens relativos à vida universitária.
Nesse sentido, as novelas parecem sinalizar que o Brasil
deseja ser um país que tem interesse pelo ensino de nível superior. Parecem,
também, refletir a larga expansão do ensino superior ocorrida no país nos
últimos anos sob os auspícios de toda a sorte de ação do Governo Federal.
Na novela “A Vida da Gente”, por exemplo, exibida pela Rede
Globo em 2012 no horário das 18 horas, o médico Lúcio (Thiago Lacerda) inscreve-se
para fazer um pós-doutorado. Já em “Fina Estampa”, novela das 21 horas, também
exibida pela Rede Globo, e que antecedeu Avenida Brasil, não há apenas um
personagem, mas vários vinculados à vida universitária. O maior número deles
gravita em torno de uma faculdade de medicina onde há o professor e pesquisador
Alexandre Lopes (Rodrigo Hilbert) que trabalha com neurologia, e os estudantes
de medicina Patricia Velmont (Adriana Birolli), José Antenor da Silva Pereira
(Caio Castro) e Daniel (Guilherme Boury). Além deles, porém não vinculada à
área de medicina, há a professora de literatura Letícia Fernandes Prado (Tania
Khallil). É raro um caso como esse, ou seja, uma novela com tantos personagens em
cenas no cotidiano universitário.
A universidade tem servido apenas como pano de
fundo para o desenvolvimento dos enredos das novelas. Não obstante, é importante observar
como ocorre a presença de núcleos com vida universitária nas novelas,
especialmente pelo que representam em termos de ocupação de espaço na vida
social e por sua agência no que se refere à estrutura de consumo.
Referências
Conexas
Adorno, T. W. (2002). Indústria
cultural e sociedade. São Paulo: Paz e Terra.
Bourdieu,
P. (1998). On television. New York:
New Press.
Hamburger, E. (2005). O
Brasil antenado – a sociedade da novela. Rio de Janeiro: Zahar.
Merton, R.
K. (1968). Social theory and social
structure. New York: Free Press.
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