domingo, 24 de fevereiro de 2019

Consumo de drones para entretenimento



Recentemente me deparei com algo que despertou a minha atenção: uma fila de pessoas interessadas em comprar drones em uma loja de produtos eletrônicos. Observando o que estava acontecendo resolvi me aproximar da fila e procurei conversar com algumas pessoas. Para minha surpresa, percebi que não eram profissionais de fotografia ou vídeo, tampouco cinema. Constatei que estavam ali para adquirir drones apenas e tão somente com a finalidade de usá-los para entretenimento.

Talvez por nunca ter usado drones, e também por não conhecer ninguém que os use, fiquei me perguntando se esse seria mesmo o sentido do uso dos drones atualmente. Pareceu-me que sim, sobretudo porque depois de passados alguns dias me lembrei de já ter visto na TV uma competição que era uma espécie de corrida de drones - nesse caso, o uso de drones sinaliza uma condição de prática esportiva, algo que transcende a ideia de competição.

Voltando ao ponto anterior, entretenimento parece ser mesmo a palavra-chave para os drones. Isso porque, por um lado talvez o uso do drone permita uma experiência próxima da ideia de voar - o que sempre foi um desafio e ao mesmo tempo um fascínio -, e por outro lado porque talvez seja mais uma das formas de reafirmar uma sociedade que supervaloriza imagens, que ao fim e ao cabo são diariamente transformadas em entretenimento. 

Por algum tempo continuei pensando no tipo de experiência que o consumo de drones proporciona. Deve ser instigante capturar imagens a partir de um plano que está acima de todos, de ver onde o olhar horizontal não alcança e definir um panorama vertical. Onde será que estão as fronteiras para se explorar lugares? Como discernir o que é público e o que é privado quando se olha de cima para baixo - como quem está no céu -, e não avançar na possibilidade de bisbilhotar o que é alheio, respeitando e não invadindo a privacidade dos outros? Será que após gravadas as imagens dos drones são exploradas em sessões individuais ou coletivas de exibição? As imagens são para consumo próprio ou para compartilhamento indoor ou online?

Em meio a essas indagações fiquei pensando que o uso dos drones, entre outras coisas, tanto pode ser meramente um ato de voyeurismo, como pode representar um refinamento das possibilidades de se olhar para a condição humana e para a construção do espaço público, e com isso tentar ampliar a compreensão sobre a dinâmica e organização da vida em sociedade. 

De uma maneira ou de outra, trata-se de uma nova experiência de consumo que, salvo engano, parece ainda não ter sido investigada por pesquisadores que estudam cultura de consumo. Talvez seja a hora de alguém fazê-lo.

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