sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

O Egito e a hipocrisia ocidental

Os orientais falam pouco, agem em silêncio e são considerados os reis do pragmatismo, seja na economia ou na política externa. Não necessariamente atuam de forma a receber aplausos, especialmente sob a perspectiva de análise dos ocidentais.

Os ocidentais falam, questionam e reivindicam mais. Tendem sempre a apontar princípios e valores éticos que, supostamente, deveriam ser um norte para quase tudo. Além disso, levantam a bandeira dos direitos humanos e da democracia para quase todos. Nesse sentido, têm somado nos últimos dias suas vozes àquelas do mundo árabe, particularmente do povo egípcio.

Acontece que a crise no chamado mundo árabe é uma crise de bem-estar, econômica e de consumo. A economia egípcia está fortemente ancorada na agricultura e no turismo. Entre os seus principais parceiros econômicos estão os europeus, cuja economia ainda não se recuperou da crise ocorrida no final da última década. O desemprego ronda a casa dos 10% da população economicamente ativa e dados da Organização Internacional do Trabalho indicam que 66% das pessoas com até 30 anos de idade estão desempregadas.

É de se supor que a crise econômica seja o principal vetor para o questionamento do regime político. Os ocidentais preferem apontar o dedo apenas para a ditadura existente no país. Tiveram 30 anos para fazer isso, mas só agora o fazem. É lamentável que a defesa dos direitos humanos e a indignação ocidental com regimes ditatoriais sejam seletivas. A hipocrisia ocidental não permite, por exemplo, apontar o dedo para a China.

Adendo em 05 de fevereiro de 2011:

Imprensa para consumo

A hipocrisia ocidental é facilmente vista na imprensa. A Folha de S. Paulo, considerado o principal jornal do Brasil, publica no dia de hoje (05/02/2011), na primeira página de sua versão eletrônica na web, a seguinte manchete: "Ditador egípcio se reúne com ministros para discutir crise". Pouco tempo atrás, a Folha tratava Hosni Mubarak como presidente da República do Egito. Agora o trata como ditador. Será que, doravante, a Folha, por meio de sua editoria, vai tratar como ditadores em sua primeira página todos os presidentes e reis de nações ao redor do mundo que não foram eleitos pelo voto direto e popular em um regime democrático?

Referências Conexas

GOODY, Jack. The East in the West. European Journal of Sociology, v. 38, n. 2, p. 171-184, 1997.

GUEDES, Ana L. M. Negócios internacionais. São Paulo: Thomsom Learning, 2007.

HOBSBAWN, Eric J. A era dos extremos: o breve século XX. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

HUNTINGTON, Samuel. O choque de civilizações. Rio de Janeiro: Ponto de Leitura, 2010.

KABASAKAI, Hayat. Arabic cluster: a bridge between East and West. Journal of World Business, v. 37, n. 1, p. 40-54, 2002.

3 comentários:

  1. Salve companheiro, texto impecável! A economia da China tornou-se mais perigosa para as potências ocidentais do que as armas nucleares do Irã e Coréia do Norte... Lá prevalece a máxima "se você não pode com o seu inimigo, una-se a ele".

    Apoiando o povo egípcio e possibilitando a introdução da cultura democrática e capitalista num dos mais tradicionais países do mundo árabe, abre-se uma porta larga a uma nova rede de influências comerciais e políticas para o ocidente. Essa é a deixa... não iam perder a oportunidade.

    Abraços!
    Adriano

    PS: Citei-o em meu post sobre publicidade ao público infantil.

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  2. Muito interessante seu blog. Eu comecei há pouco um blog com temática bastante semelhante. Depois dê uma olhada, se tiver interesse e, quem sabe, trocamos comentários. Abs, Daniel
    www.formasdoconsumo.com

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  3. Adriano,

    Obrigado pelos comentários e pela citação.

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    Daniel,

    Obrigado pela visita. Vamos, sim, interagir sobre a temática do consumo.

    Abraços,

    Francisco Giovanni

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