Tão próximos, mas tão distantes. Assim são os moradores dos
inúmeros prédios residenciais existentes nas cidades. Eles experimentam a condição
de ter do outro lado da parede ou do outro lado da rua pessoas que não passam
de meros estranhos.
Cada vez mais construídos com menor distância entre um e
outro, os edifícios são responsáveis por boa parte das dimensões materiais do
espaço social. Concepções de produtos e estruturas de consumo, bem como hábitos
de convivência no cotidiano derivam diretamente da configuração desses imóveis.
A princípio construídos apenas nos centros das cidades, hoje
os edifícios adentram áreas de bairros residenciais e do entorno das cidades. Refletem
o crescimento econômico, mas também indicam uma escolha por um determinado modelo
de ocupação do espaço urbano.
O total do financiamento imobiliário em todo o país até o
mês de outubro foi de R$ 80,2 bilhões. Segundo a Caixa Econômica Federal esse
valor supera em 32,6% o valor concedido em período semelhante do ano passado. O
efeito multiplicador desse volume de recursos para a economia é algo fenomenal,
mas não há como obscurecer o caráter predatório da construção civil e a especulação
de terrenos em áreas urbanas e na definição de tamanhos e formatos de imóveis.
A ocupação do espaço urbano por meio dos edifícios tem feito
com que cada vez mais estejamos vivendo fisicamente perto uns dos outros.
Trata-se apenas de uma proximidade disfarçada. A rigor, essa forma de produção
da vida social revela claramente que vivemos de modo alheio uns aos outros.
Uma vida entre sombras e cortinas.
Referências
Conexas
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