quarta-feira, 23 de junho de 2010

Recall de automóveis no Brasil

O que está acontecendo com a indústria automobilística? Motivo de orgulho e ao mesmo tempo considerado um ícone de eficiência, o padrão de produção dessa indústria tem mostrado inúmeras falhas. Nunca foi realizado tanto recall para se reparar problemas e erros na fabricação de automóveis como nos últimos tempos. É fato que os órgãos fiscalizadores têm sido mais diligentes, assim como é fato que a imprensa anda mais atenta e crítica com o mercado. Todavia, é possível que parte das explicações possa ser atribuída à a expansão acelerada da produção em anos recentes e aos desdobramentos que tal expansão acarreta.

Realizados devido a rodas que se desprendem, rodas que travam devido ao mau funcionamento de rolamentos, aceleradores que ficam presos ou airbags que não são acionados quando necessários, entre outros motivos, os números acerca dos recalls são alarmantes. No Brasil, a Vokswagen fez um recall de quase 200 mil automóveis dos modelos Voyage e Novo Gol. A Fiat também teve problemas com o seu modelo Stilo. Até mesmo as consagradas Toyota e Honda apresentaram problemas com os modelos Corola e Fit, respectivamente. Estima-se que no primeiro caso o recall seja para 100 mil e no segundo para quase 200 mil. São números por demais eloquentes.

Costuma-se dizer que “brasileiro adora carro”. De fato, o consumo de automóveis como um símbolo imediato de mobilidade e ascensão social está presente na cultura do país. Talvez, entretanto, isso não seja tão diferente daquilo que ocorre em outros países. O que é bem provável ser diferente é o rigor da legislação dos países do hemisfério norte. Via de regra, as montadoras que operam no mercado brasileiro tendem a negar e desmentir os problemas, assim como postergar as soluções para os mesmos até o momento em que se tornam insustentáveis. Para isso, por um lado fazem uso da cultura do silêncio que lhes é própria, e por outro contam com a cultura da omissão do Governo brasileiro.

Referências Conexas

HOFFER, George E.; PRUITT, Stephen W. ; REILLY, Robert J. When recalls matter: factors affecting owner response to automotive recalls. Journal of Consumer Affairs, v. 28, n. 1, p. 96-106, 1994.

MATOS, Celso A. de; ROSSI, Carlos A. V. Consumer reaction to product recalls: factors influencing product judgement and behavioural intentions. International Journal of Consumer Studies, v. 31, n. 1, p. 109-116, 2007.

VIEIRA, Francisco. G. D. ; CRUBELLATE, João M.; SILVA, Ilse G. ; SILVA, Wânia. R. Silêncio e omissão: aspectos da cultura brasileira nas organizações. Revista de Administração de Empresas – Eletrônica, v. 1, n. 1, p. 1-14, 2002.

sábado, 19 de junho de 2010

A luz de Saramago

Durante um bom tempo ouvi falar de Saramago, mas sem me deter para apreciar suas obras. No momento em que o fiz pude perceber o quanto sua obra é capaz de lançar luz sobre importantes questões da sociedade contemporânea, assim como sobre questões universais relacionadas à condição e à natureza humana.

O que mais me chamou a atenção na leitura de Saramago foi perceber o quanto ele foge da zona de conforto que, via de regra, permeia obras de autores da língua portuguesa. Desde o estilo que imprimiu à redação de suas obras, onde a dicotomia e a linearidade são completamente abolidas, até a profundidade com que reuniu e teceu os elementos de sua narrativa, Saramago não faz um convite bem comportado à reflexão, ele provoca a reflexão!

A sua passagem, ocorrida no dia de ontem, deixa tristeza, mas também o contentamento de desfrutar da obra que nos legou. A esse propósito, destaco dois livros: “A Caverna” e “Caim”. O primeiro aborda a noção de mercado e as modificações em tempos de neoliberalismo e globalização. O segundo enfoca questões de nossa existência e condição perante o contexto cristão da sociedade ocidental. É impossível lê-los e permanecer incólume.

Referências Conexas

PRAXEDES, Walter L. de A. Elucidação pedagógica, história e identidade nos romances de José Saramago. São Paulo: USP, 2001. (Tese de Doutorado - Doutorado em Educação)

SARAMAGO, José. A caverna. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

SARAMAGO, José. Caim. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Nacionalismo de copa do mundo

É curioso como se constrói algo social e coletivamente. Mais curioso, ainda, é como algo se transforma em elemento de uma cultura, de um povo. Embora inventado pelos ingleses, o futebol representa bem esse fenômeno no Brasil.

Em época de Copa do Mundo de futebol as atenções das pessoas, movidas pela pauta da imprensa – e esta, pela pauta de seus anunciantes e patrocinadores –, voltam-se para o futebol. O país, quase que em uníssono, adquire fortes expressões de nacionalismo. O sentimento em torno da seleção brasileira de futebol transpõe barreiras e une os mais ferrenhos adversários, desde corintianos e palmeirenses até flamenguistas e vascaínos, ou gremistas e colorados.

A personificação desse nacionalismo se dá pelo uso do maior símbolo do país, sua bandeira, e também pelo uso da camisa da seleção brasileira. Há bandeira por tudo o quanto é lado. Bandeira grande, pequena, pendurada em janelas de apartamentos em edifícios ou tremulando enlaçadas às antenas dos rádios dos automóveis pelas ruas das cidades. A economia agradece todo esse ímpeto de nacionalismo. Mais ainda agradecem aqueles que formam a chamada economia informal, pois além das bandeiras e camisas, há as cornetas, chaveiros, flâmulas, lenços, copos, chapéus e um mundo sem fim de produtos verdes e amarelos para consumo.

Esse nacionalismo, que tem data e hora para terminar, surpreende a quem não é brasileiro. A imprensa internacional o registra e o disponibiliza em suas páginas impressas, websites e telejornais. O que observamos, entretanto, durante o período da copa do mundo é completamente distinto daquilo que se verifica em outros países. O nacionalismo brasileiro tem sido fruto de ocasião ou instrumento doutrinário de partidos e políticos do país.

Referências Conexas

FRAGA, Gerson W. “A derrota do Jeca” na imprensa brasileira: nacionalismo, civilização e futebol na copa do mundo de 1950. Porto Alegre: UFRGS, 2009. (Tese de Doutorado, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em História)

HOBSBAWM, Eric J. Nações e nacionalismo desde 1780: programa, mito e realidade. 5ª. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2008.

SZUSTER, Flavia R.; SAUERBRONN, João F. R. Lá vai o consumidor pela ponta esquerda! Um estudo sobre consumo adolescente de futebol. In: IV ENCONTRO DE MARKETING (2010: Florianópolis). Anais ... Rio de Janeiro: ANPAD, 2010. (Versão integral em CD-ROM do Evento)