terça-feira, 28 de abril de 2020

Chico Buarque e Camões



Salve, Chico! Parabéns pelo prêmio Camões! Na verdade, você não precisa de meus cumprimentos, mas como estou com Essa Gente em cima da mesa, escrevo-lhe esse bilhete. De certa forma o acompanho desde A Banda. Era apenas uma criança. Não entendia direito o que você queria dizer, mas gostava do ritmo e da alegoria da banda passando. Na cidade de Cajazeiras, onde nasci, lá no sertão da Paraíba, havia um coreto e era lá que as bandas tocavam. Era um lugar duplamente mágico, porque além de o coreto ficar na praça em frente a igreja, era o centro das quermesses. Só fui entender mesmo alguma coisa do que você dizia quando eu já estava na universidade, em Campina Grande. Lembro-me como fiquei fascinado por Almanaque. Eram tantas perguntas. Lá estava Tanto Amar, que quase é Tanto Mar. E por falar nisso, sua sugestão foi seguida: a despeito da inexistência de cravos vermelhos, aqui em casa tem um vasinho com alecrim. Obrigado por suas músicas e livros. Camões está bem acompanhado.

Em tempo: em que pesem todos os debates em torno de questões como mérito e relevância dos prêmios, via de regra eles são compreendidos como uma forma de reconhecimento da excelência. Também podem ser compreendidos, claro, como uma prática representacional para a formatação de mercados.

domingo, 12 de abril de 2020

Cultura e consumo no Brasil




Organizado por Marcelo de Rezende Pinto e Georgiana Luna Batinga, professores da PUC Minas e da UFMS, respectivamente, o livro Cultura e Consumo no Brasil: estado atual e novas perspectivas é leitura obrigatória para pesquisadores e estudantes do campo de estudos de consumo. 

Publicado em 2018 pela Editora PUC Minas, o livro possui prefácio, texto de introdução escrito pelos organizadores, e mais treze capítulos, independentes entre si, assinados por vários pesquisadores brasileiros de diferentes instituições. Ao longo de 335 páginas, o livro está organizado da seguinte forma:

Prefácio
Letícia Moreira Casotti

Por que cultura e consumo no Brasil?
Marcelo de Rezende Pinto, Georgiana Luna Batinga

1. Preparando o caminho para a chegada da Consumer Culture Theory
Roberta Dias Campos, Thaysa Nascimento, Valéria de Pinho

2. Os estudos de consumo em uma perspectiva cultural e simbólica sob a ótica da teoria de marketing
Dalton Jorge Teixeira, Helena Belintani Shigaki

3. O campo da pesquisa da cultura de consumo no Brasil
Ronan Torres Quintão

4. Representações da família brasileira de baixa renda na mídia: um caso pioneiro à luz da cultura de consumo
Luís Alexandre Pessôa, Marcus Wilcox Hemais

5. Azul para os meninos, rosa para as meninas: heterossexismo, consumo, gênero e sexualidade
Severino Joaquim Nunes Pereira, Heloisio Moulin de Souza

6. Falsificação sim, mas de coração! Uma investigação interpretativa sobre o ato de presentear com produtos falsificados
Matheus Lemos de Andrade, Ramon Silva Leite, Silvia Salvador de Oliveira

7. O jovem brasileiro e o fenômeno do funk ostentação: um estudo avaliando a posição do jovem de alta e baixa renda
Sérgio Silva Dantas

8. Dialética dos extremos: refutando mitos sobre consumo erótico feminino
Luciana Castello da Costa Leme Walther

9. Transformative consumer research: reflexões, diretrizes e a interlocução com a Consumer Culture Theory
Gustavo Tomaz de Almeida, Bruno Medeiros Ássimos

10. A semiótica social, seus recursos e noção de cultura: abordagens úteis à CCT
Luiz Antônio Mattos do Carmo

11. Discutindo articulações entre a Consumer Culture Theory - CCT e a teoria da prática
Adriano de Mendonça Joaquim

12. Colocando a América Latina no/fora do mapa da CCT: caminhos para uma travessia teórico-reflexiva latino-americana em estudos de cultura do consumo
Marlon Dalmoro, Getúlio Sangalli Reale

13. Do olhar para o indivíduo à perspectiva de sistemas de mercado: uma análise dos distintos focos de estudo e o futuro da pesquisa em CCT
Rodrigo Bisognin Castilhos, Marcelo Jacques de Fonseca

domingo, 5 de abril de 2020

Trabalho na economia GIG e isolamento social



Uma das questões que mais despertam a atenção, e que têm sido problematizadas nesse período que estamos vivendo devido à pandemia do Coronavírus, diz respeito ao emprego, notadamente ao trabalho e àquilo que a ele está circunscrito. O trabalho está no centro das atenções não só porque é fator fundamental para a produção de bens e serviços, mas também porque as relações em torno do mesmo definem como a sociedade se organiza.  

A experiência de isolamento social que está sendo levada a efeito em várias cidades em todo o mundo tem colocado em destaque e parece favorecer a chamada economia GIG, que tem servido de base para a formatação de inúmeros mercados. Em tal modelo de economia, os trabalhadores são temporários, trabalham por atividade, não possuem salário fixo, usam seus próprios meios e estrutura operacional, e executam tarefas de maneira remota, dentre outras características. 

A economia GIG pode, de fato, ser capaz de responder parte importante dos desafios de hoje - em pleno isolamento social - e do futuro que se avizinha. Entretanto, há limitações muito claras em seu modelo de operação. Talvez as principais, e de modo paradoxal, estejam exatamente vinculadas às circunstâncias da realidade que estamos enfrentando: a autonomia, liberdade individual e independência entre empresas e trabalhadores na articulação de suas relações de trabalho não prescindem do Estado para a organização e coordenação de soluções em momentos de crise. Nesse sentido, talvez a economia GIG seja apenas uma quimera. 

Referências Conexas

Friedman, G. (2014). Workers without employers: shadow corporations and the rise of the gig economy. Review of Keynesian Economics, 2(2), 171-188.

Leme, A. C. R. P., Rodrigues, B. A., & Chaves Júnior, J. E. R. (Coords.) (2017). Tecnologias disruptivas e a exploração do trabalho humano: a intermediação de mão de obra a partir das plataformas eletrônicas e seus efeitos jurídicos e sociais. São Paulo: LTR.

Pinch, T., & Swedberg, R. (Eds.) (2008). Living in a material world: economic sociology meets science and technology studies. Cambridge: MIT Press.

Swedberg, R. (2003). Principles of economic sociology. Princeton: Princeton University Press.

quarta-feira, 1 de abril de 2020

O que será da experiência de consumo?



Em anos recentes a administração de marketing desenvolveu o conceito de experiência de consumo. Não basta comprar um produto qualquer. Isso pode ser feito por meio da internet, com entrega direta em domicílio. Mais importante do que o produto físico em si é a experiência em torno da sua aquisição. Transferindo o conceito da compra de produtos físicos para o setor de serviços, onde não há a materialização física daquilo que se compra, o conceito de experiência de consumo ganha ainda mais importância. Mas considerando as circunstâncias que temos vivido ao longo das semanas mais recentes, e diante das incertezas que o futuro nos reserva, que desdobramentos terá o conceito de experiência de consumo após a pandemia do Coronavírus? 

Referências Conexas

Lusch, R. F., & Vargo, S. L. (2006). Service-dominant logic: reactions, reflections and refinements. Marketing Theory6(3), 281-288.

Vargo, S. L., & Lusch, R. F. (2004). Evolving to a new dominant logic for marketing. Journal of Marketing, 68(1), 1-17.