domingo, 5 de abril de 2020

Trabalho na economia GIG e isolamento social



Uma das questões que mais despertam a atenção, e que têm sido problematizadas nesse período que estamos vivendo devido à pandemia do Coronavírus, diz respeito ao emprego, notadamente ao trabalho e àquilo que a ele está circunscrito. O trabalho está no centro das atenções não só porque é fator fundamental para a produção de bens e serviços, mas também porque as relações em torno do mesmo definem como a sociedade se organiza.  

A experiência de isolamento social que está sendo levada a efeito em várias cidades em todo o mundo tem colocado em destaque e parece favorecer a chamada economia GIG, que tem servido de base para a formatação de inúmeros mercados. Em tal modelo de economia, os trabalhadores são temporários, trabalham por atividade, não possuem salário fixo, usam seus próprios meios e estrutura operacional, e executam tarefas de maneira remota, dentre outras características. 

A economia GIG pode, de fato, ser capaz de responder parte importante dos desafios de hoje - em pleno isolamento social - e do futuro que se avizinha. Entretanto, há limitações muito claras em seu modelo de operação. Talvez as principais, e de modo paradoxal, estejam exatamente vinculadas às circunstâncias da realidade que estamos enfrentando: a autonomia, liberdade individual e independência entre empresas e trabalhadores na articulação de suas relações de trabalho não prescindem do Estado para a organização e coordenação de soluções em momentos de crise. Nesse sentido, talvez a economia GIG seja apenas uma quimera. 

Referências Conexas

Friedman, G. (2014). Workers without employers: shadow corporations and the rise of the gig economy. Review of Keynesian Economics, 2(2), 171-188.

Leme, A. C. R. P., Rodrigues, B. A., & Chaves Júnior, J. E. R. (Coords.) (2017). Tecnologias disruptivas e a exploração do trabalho humano: a intermediação de mão de obra a partir das plataformas eletrônicas e seus efeitos jurídicos e sociais. São Paulo: LTR.

Pinch, T., & Swedberg, R. (Eds.) (2008). Living in a material world: economic sociology meets science and technology studies. Cambridge: MIT Press.

Swedberg, R. (2003). Principles of economic sociology. Princeton: Princeton University Press.

4 comentários:

  1. Nao freio de se torne uma simples quimera, pois ao somar essa maça que está parada, demonstra que a economia de ações são afetadas completamente por elas, pois a mesma é o que mantém os alimentos na mesa do cidadão. Se mantermos mais um mês ou dois de quarentena (e não acredito que precisamos de tanto) as empresas não terão poder aquisitivo de manter os clt's fazendo com que busquem ajudas do governo e se tornem Gig pelo menos temporariamente. A outra parcela que ainda trabalha ainda nesta crise por não possuir reservas suficiente ou por buscar uma remuneração extra é o que está mantendo a economia do bairro local que influencia a microeconomia e faz com o que o dinheiro vivo ainda gire

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    1. Olá, Guilherme!

      Obrigado pela visita ao blog e pelo comentário.

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  2. Lembrei-me agora da série "Years and Years"...um dos personagens, economista, perdeu o emprego em uma instituição bancária e passou a trabalhar como "autônomo" em 7 plataformas diferentes para conseguir 1/4 da renda que ele possuía no banco...interessantíssima a análise da série e o desdobramento disso no sujeito, nas famílias, na sociedade, no mercado de trabalho...

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    1. Nossa, Lair! 7 plataformas para conseguir 1/4 da renda?! Não conheço a série, mas fiquei curioso. Obrigado pela dica.

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