
Os primeiros relatos do uso de brincos remontam à Pérsia e à Grécia antigas. De forma mais próxima à experiência brasileira, a observação do uso de brincos como simples peça de adorno corporal ou portadora de significados ocorreu em relação aos índios sul-americanos e aos povos africanos, em que pese o fato de que piratas que navegavam na nossa costa também fizessem uso dos mesmos.
Na sociedade ocidental contemporânea, o uso cotidiano de brincos entre homens se tornou popular a partir dos anos 1980, particularmente devido ao seu uso por artistas e atletas de alta performance. De lá para cá, a indústria apenas ampliou a oportunidade de exploração do uso (e da venda) de brincos. A própria indústria cultural, em suas diversas frentes, incluindo talvez aquela que hoje é a mais popular delas, a televisão, tratou não só de apropriar como legitimar o uso dos brincos aos seus ícones e personagens. O resultado é que aquilo que antes era rústico, selvagem até, tornou-se algo fashion e objeto de desejo. Desde garotos até senhores da chamada melhor idade usam brincos.
Os jogadores de futebol, entretanto, parecem ter especial predileção pelo uso de brincos. Se observamos, por exemplo, a jovem geração de futebol do Santos Futebol Clube, que foi campeão paulista esse ano, veremos que suas principais estrelas, digamos assim, usam brincos do tipo que não deixam dúvida quanto à possibilidade de serem vistos. Essa parece ser uma lógica que orienta o processo de formação da personalidade pública do jogador de futebol em direção à fama.
Uma situação curiosa com relação ao uso de brincos por jogadores de futebol aconteceu com o Maradona. Ao desembarcar na Itália em setembro do ano passado, os brincos que ele usava foram confiscados devido a enorme dívida que possui junto ao fisco italiano por sonegação de impostos à época em que ele jogava no Napoli, clube de futebol do sul da Itália. O fisco italiano conseguiu arrecadar 25 mil Euros após realizar um leilão dos brincos, o que representou uma quantia insignificante tendo em vista o montante de mais de 35 milhões de Euros estimados para a dívida.
A despeito do confisco dos brincos e do forte debate que tem havido nos últimos dias na imprensa brasileira sobre formação profissional e preparo psicológico dos jogadores de futebol para lidarem com a fama e a fortuna que dela decorre, a indústria da moda e o mercado de luxo se empenharão para que jogadores e ex-jogadores não deixem de usar brincos. Que o diga Maradona, uma das estrelas da última copa do mundo de futebol!
Referências Conexas
DUBOIS, Bernard; DUQUESNE, Patrick. The market for luxury goods: income versus culture. European Journal of Marketing, vol. 27, n. 1, p. 35-44, 1993.
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