sábado, 17 de julho de 2010

Brincos no futebol, inclusive do Maradona

Os primeiros relatos do uso de brincos remontam à Pérsia e à Grécia antigas. De forma mais próxima à experiência brasileira, a observação do uso de brincos como simples peça de adorno corporal ou portadora de significados ocorreu em relação aos índios sul-americanos e aos povos africanos, em que pese o fato de que piratas que navegavam na nossa costa também fizessem uso dos mesmos.

Na sociedade ocidental contemporânea, o uso cotidiano de brincos entre homens se tornou popular a partir dos anos 1980, particularmente devido ao seu uso por artistas e atletas de alta performance. De lá para cá, a indústria apenas ampliou a oportunidade de exploração do uso (e da venda) de brincos. A própria indústria cultural, em suas diversas frentes, incluindo talvez aquela que hoje é a mais popular delas, a televisão, tratou não só de apropriar como legitimar o uso dos brincos aos seus ícones e personagens. O resultado é que aquilo que antes era rústico, selvagem até, tornou-se algo fashion e objeto de desejo. Desde garotos até senhores da chamada melhor idade usam brincos.

Os jogadores de futebol, entretanto, parecem ter especial predileção pelo uso de brincos. Se observamos, por exemplo, a jovem geração de futebol do Santos Futebol Clube, que foi campeão paulista esse ano, veremos que suas principais estrelas, digamos assim, usam brincos do tipo que não deixam dúvida quanto à possibilidade de serem vistos. Essa parece ser uma lógica que orienta o processo de formação da personalidade pública do jogador de futebol em direção à fama.

Uma situação curiosa com relação ao uso de brincos por jogadores de futebol aconteceu com o Maradona. Ao desembarcar na Itália em setembro do ano passado, os brincos que ele usava foram confiscados devido a enorme dívida que possui junto ao fisco italiano por sonegação de impostos à época em que ele jogava no Napoli, clube de futebol do sul da Itália. O fisco italiano conseguiu arrecadar 25 mil Euros após realizar um leilão dos brincos, o que representou uma quantia insignificante tendo em vista o montante de mais de 35 milhões de Euros estimados para a dívida.

A despeito do confisco dos brincos e do forte debate que tem havido nos últimos dias na imprensa brasileira sobre formação profissional e preparo psicológico dos jogadores de futebol para lidarem com a fama e a fortuna que dela decorre, a indústria da moda e o mercado de luxo se empenharão para que jogadores e ex-jogadores não deixem de usar brincos. Que o diga Maradona, uma das estrelas da última copa do mundo de futebol!

Referências Conexas

DUBOIS, Bernard; DUQUESNE, Patrick. The market for luxury goods: income versus culture. European Journal of Marketing, vol. 27, n. 1, p. 35-44, 1993.

ERNER, Guillaume. Vítimas da moda? Como criamos, por que a seguimos. São Paulo: SENAC, 2005.

HELAL, Ronaldo. Passes e impasses: futebol e cultura de massa no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1997.

MASCETTI, Daniela; TRIOSSI, Amanda. Earrings: from antiquity to the present. London: Thames & Hudson, 1999.

ROOK, Dennis W. The ritual dimension of consumer behavior. Journal of Consumer Research, v.12, n. 3, p. 251-264, 1985.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Consumindo a seleção no aeroporto


Foi-se o tempo em que se frequentava aeroporto com vestimenta sofisticada e luxuosa. Nos últimos tempos, aeroporto é apenas mais um lugar por onde se transita. As viagens de avião se tornaram mais comuns e as companhias aéreas, tendo em vista o aumento de seus lucros, entre outras coisas, simplificaram suas operações, especialmente no que se refere à relação com os consumidores. Como um dos desdobramentos desse novo contexto nos aeroportos, é comum encontrar passageiros de forma bem descontraída, usando bermudas, shorts, tênis, chinelos ou camisetas, como se estivessem transitando à vontade na praia, em um parque ou em suas próprias residências. Em dias de copa do mundo de futebol, esse fenômeno inclui o uso de indumentárias da seleção brasileira de futebol, especialmente por turistas estrangeiros, os quais, de modo não muito diferente de boa parte dos brasileiros, são hipnotizados pelas ações de mercado em torno da seleção. Para garotas estadounidenses, contudo, e que tem verdadeira paixão por futebol, comprar e vestir a camisa da seleção brasileira é motivo de pompa e galhardia para desfile no aeroporto.

Esse post compõe uma série chamada “Nota de Viagem”. Trata-se de um conjunto de pequenas observações realizadas durante viagens.

terça-feira, 6 de julho de 2010

A Telefônica não funciona

A Telefônica tem enorme inserção na vida dos paulistas e paulistanos, em especial. Ela provê serviços de telefonia e acesso à Internet no Aeroporto Internacional de Guarulhos, mas de um jeito muito estranho. Há um número limitado de senhas por dia à disposição de consumidores que precisem usar os seus serviços de Internet no aeroporto no modo wireless. Assim, uma vez que aquele determinado número de senhas tenha se encerrado, não é mais possível acessar a Internet no modo wi-fi. Em alguns dias, como em 25 de junho de 2010, as senhas acabaram antes das 19 horas. Um brasileiro pode administrar algo assim mais facilmente. O duro é um estrangeiro experimentar essa situação.

Esse post compõe uma série chamada “Nota de Viagem”. Trata-se de um conjunto de pequenas observações realizadas durante viagens.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Declaração de saída de bens

 
A Receita Federal exige que se faça declaração de saída temporária de bens do país. A declaração é apenas para a saída de produtos importados, mas não para todos eles, como, por exemplo, câmeras fotográficas com menos de 12 megapixels. Caso o brasileiro vá viajar ao exterior e estiver portando algo que não é produzido no Brasil, especialmente aparelhos eletrônicos como filmadoras, câmeras ou notebooks, entre outros, deverá declarar para não ter problemas no seu retorno ao Brasil. É preciso preencher um formulário que só é disponibilizado no momento da saída. Esse serviço, que no Aeroporto Internacional de Guarulhos é prestado no subsolo da Asa D, normalmente tem um único funcionário da Receita Federal. O trabalho de organização da fila, triagem, segurança e entrega do formulário para preenchimento é feito por funcionários terceirizados.

Esse post compõe uma série chamada “Nota de Viagem”. Trata-se de um conjunto de pequenas observações realizadas durante viagens.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Recall de automóveis no Brasil

O que está acontecendo com a indústria automobilística? Motivo de orgulho e ao mesmo tempo considerado um ícone de eficiência, o padrão de produção dessa indústria tem mostrado inúmeras falhas. Nunca foi realizado tanto recall para se reparar problemas e erros na fabricação de automóveis como nos últimos tempos. É fato que os órgãos fiscalizadores têm sido mais diligentes, assim como é fato que a imprensa anda mais atenta e crítica com o mercado. Todavia, é possível que parte das explicações possa ser atribuída à a expansão acelerada da produção em anos recentes e aos desdobramentos que tal expansão acarreta.

Realizados devido a rodas que se desprendem, rodas que travam devido ao mau funcionamento de rolamentos, aceleradores que ficam presos ou airbags que não são acionados quando necessários, entre outros motivos, os números acerca dos recalls são alarmantes. No Brasil, a Vokswagen fez um recall de quase 200 mil automóveis dos modelos Voyage e Novo Gol. A Fiat também teve problemas com o seu modelo Stilo. Até mesmo as consagradas Toyota e Honda apresentaram problemas com os modelos Corola e Fit, respectivamente. Estima-se que no primeiro caso o recall seja para 100 mil e no segundo para quase 200 mil. São números por demais eloquentes.

Costuma-se dizer que “brasileiro adora carro”. De fato, o consumo de automóveis como um símbolo imediato de mobilidade e ascensão social está presente na cultura do país. Talvez, entretanto, isso não seja tão diferente daquilo que ocorre em outros países. O que é bem provável ser diferente é o rigor da legislação dos países do hemisfério norte. Via de regra, as montadoras que operam no mercado brasileiro tendem a negar e desmentir os problemas, assim como postergar as soluções para os mesmos até o momento em que se tornam insustentáveis. Para isso, por um lado fazem uso da cultura do silêncio que lhes é própria, e por outro contam com a cultura da omissão do Governo brasileiro.

Referências Conexas

HOFFER, George E.; PRUITT, Stephen W. ; REILLY, Robert J. When recalls matter: factors affecting owner response to automotive recalls. Journal of Consumer Affairs, v. 28, n. 1, p. 96-106, 1994.

MATOS, Celso A. de; ROSSI, Carlos A. V. Consumer reaction to product recalls: factors influencing product judgement and behavioural intentions. International Journal of Consumer Studies, v. 31, n. 1, p. 109-116, 2007.

VIEIRA, Francisco. G. D. ; CRUBELLATE, João M.; SILVA, Ilse G. ; SILVA, Wânia. R. Silêncio e omissão: aspectos da cultura brasileira nas organizações. Revista de Administração de Empresas – Eletrônica, v. 1, n. 1, p. 1-14, 2002.

sábado, 19 de junho de 2010

A luz de Saramago

Durante um bom tempo ouvi falar de Saramago, mas sem me deter para apreciar suas obras. No momento em que o fiz pude perceber o quanto sua obra é capaz de lançar luz sobre importantes questões da sociedade contemporânea, assim como sobre questões universais relacionadas à condição e à natureza humana.

O que mais me chamou a atenção na leitura de Saramago foi perceber o quanto ele foge da zona de conforto que, via de regra, permeia obras de autores da língua portuguesa. Desde o estilo que imprimiu à redação de suas obras, onde a dicotomia e a linearidade são completamente abolidas, até a profundidade com que reuniu e teceu os elementos de sua narrativa, Saramago não faz um convite bem comportado à reflexão, ele provoca a reflexão!

A sua passagem, ocorrida no dia de ontem, deixa tristeza, mas também o contentamento de desfrutar da obra que nos legou. A esse propósito, destaco dois livros: “A Caverna” e “Caim”. O primeiro aborda a noção de mercado e as modificações em tempos de neoliberalismo e globalização. O segundo enfoca questões de nossa existência e condição perante o contexto cristão da sociedade ocidental. É impossível lê-los e permanecer incólume.

Referências Conexas

PRAXEDES, Walter L. de A. Elucidação pedagógica, história e identidade nos romances de José Saramago. São Paulo: USP, 2001. (Tese de Doutorado - Doutorado em Educação)

SARAMAGO, José. A caverna. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

SARAMAGO, José. Caim. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Nacionalismo de copa do mundo

É curioso como se constrói algo social e coletivamente. Mais curioso, ainda, é como algo se transforma em elemento de uma cultura, de um povo. Embora inventado pelos ingleses, o futebol representa bem esse fenômeno no Brasil.

Em época de Copa do Mundo de futebol as atenções das pessoas, movidas pela pauta da imprensa – e esta, pela pauta de seus anunciantes e patrocinadores –, voltam-se para o futebol. O país, quase que em uníssono, adquire fortes expressões de nacionalismo. O sentimento em torno da seleção brasileira de futebol transpõe barreiras e une os mais ferrenhos adversários, desde corintianos e palmeirenses até flamenguistas e vascaínos, ou gremistas e colorados.

A personificação desse nacionalismo se dá pelo uso do maior símbolo do país, sua bandeira, e também pelo uso da camisa da seleção brasileira. Há bandeira por tudo o quanto é lado. Bandeira grande, pequena, pendurada em janelas de apartamentos em edifícios ou tremulando enlaçadas às antenas dos rádios dos automóveis pelas ruas das cidades. A economia agradece todo esse ímpeto de nacionalismo. Mais ainda agradecem aqueles que formam a chamada economia informal, pois além das bandeiras e camisas, há as cornetas, chaveiros, flâmulas, lenços, copos, chapéus e um mundo sem fim de produtos verdes e amarelos para consumo.

Esse nacionalismo, que tem data e hora para terminar, surpreende a quem não é brasileiro. A imprensa internacional o registra e o disponibiliza em suas páginas impressas, websites e telejornais. O que observamos, entretanto, durante o período da copa do mundo é completamente distinto daquilo que se verifica em outros países. O nacionalismo brasileiro tem sido fruto de ocasião ou instrumento doutrinário de partidos e políticos do país.

Referências Conexas

FRAGA, Gerson W. “A derrota do Jeca” na imprensa brasileira: nacionalismo, civilização e futebol na copa do mundo de 1950. Porto Alegre: UFRGS, 2009. (Tese de Doutorado, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em História)

HOBSBAWM, Eric J. Nações e nacionalismo desde 1780: programa, mito e realidade. 5ª. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2008.

SZUSTER, Flavia R.; SAUERBRONN, João F. R. Lá vai o consumidor pela ponta esquerda! Um estudo sobre consumo adolescente de futebol. In: IV ENCONTRO DE MARKETING (2010: Florianópolis). Anais ... Rio de Janeiro: ANPAD, 2010. (Versão integral em CD-ROM do Evento)