sábado, 19 de outubro de 2019

O McDonald's quer ser Méqui: uma apropriação cultural?



Depois de 40 anos e 1.000 lojas no Brasil, o McDonald's quer ser Méqui! Não quer parecer ser um estrangeiro inacessível, mas sim um gringo conhecido. Tenta explorar a ideia de que brasileiros são pessoas informais e que, sobretudo os mais jovens, costumam chamar aqueles que lhes são mais conhecidos por um nome abreviado. 

Como sabemos, a linguagem não é usada só para comunicação. Ela é um meio de conexão, aproximação e conquista. O McDonald's sabe disso muito bem. Usar um diminutivo aportuguesado para o seu nome é uma maneira clara e objetiva tanto de estabelecer uma conexão, quanto de tentar criar afeto. Não é à toa que seu slogan é amo muito tudo isso. Como se não bastasse, o nome Méqui em nada parece lembrar o nome de um vilão ou símbolo do imperialismo americano, durante muitos anos associado ao McDonald's.

Talvez se possa pensar que o McDonald's desenvolve um processo de apropriação cultural no Brasil. Afinal, além do nome Méqui, tem adaptado e oferecido produtos que possuem importante referência cultural para brasileiros, como o pão de queijo e o hambúrguer feito com carne de picanha, por exemplo. 

A questão é que se alguns podem enxergar apropriação cultural nas ações do McDonald's, e com isso elementos de superioridade, domínio e uma forma contínua de colonização, outros podem ver capacidade analítica e compreensão do mercado brasileiro, e com isso adequação e adaptação mercadológica. O que você acha?

Obs.: a foto acima é da fachada de uma loja do McDonald's na Avenida Paulista, 2034, na cidade de São Paulo, Brasil.

Esse post compõe uma série chamada "Nota de Viagem". Trata-se de observações realizadas durante viagens.

Referências Conexas

Money, A. (2007). Material culture and the living room: the appropriation and use of goods in everyday life. Journal of Consumer Culture, 7(3), 355-377.

Roberts, K. (2005). Lovemarks - o futuro além das marcas. São Paulo: M. Books.

Rodriquez, J. (2006). Color-blind ideology and the cultural appropriation of hip-hop. Journal of Contemporary Ethnography, 35(6), 645–668.

Suh, Y., Hur, J., & Davies, G. (2016). Cultural appropriation and the country of origin effect. Journal of Business Research, 69(8), 2721-2730.

Young, J. O., & Brunk, C. G. (2012). The ethics of cultural appropriation. Oxford: Wiley-Blackwell.

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