domingo, 24 de janeiro de 2016

A Grande Aposta



Se você sempre pensou que profissionais de marketing - ou marketeiros, como a imprensa pejorativamente os denomina -  são responsáveis por mentiras, enganações e por criarem produtos que as pessoas não têm necessidade de consumir, não deixe de assistir A Grande Aposta (The Big Short, EUA, 2015), filme dirigido por Adam McKay, atualmente em exibição em vários cinemas brasileiros. Talvez você reveja seus conceitos e passe a colocar os agentes que operam no mercado financeiro no topo da sua lista de bad guys e, quem sabe assim, dê uma folga aos profissionais de marketing como os maiores vilões da História. Mas, não pense que a sugestão que aqui faço para que o filme seja assistido tem como motivação uma mera contenda - ele está além disso.

Estrelado por Steve Carell, Christian Bale, Ryan Gosling e Brad Pitt, A Grande Aposta recebeu várias indicações ao Oscar: melhor filme, melhor diretor, melhor roteiro adaptado, melhor edição e melhor ator coadjuvante (Christian Bale). O filme tem uma pretensão didática, assim como pretende ser uma comédia. Para os padrões estadunidenses pode até ser considerado comédia, mas para os  padrões brasileiros assemelha-se mais a um drama, posto que o gosto e o sentido de comédia no Brasil é um tanto quanto diferente daquele que se tem nos Estados Unidos. 

O filme é baseado em uma história real e desafia a santa ingenuidade da crença na lisura dos agentes do mercado. Ele mostra como o mercado imobiliário estadunidense, que parecia sólido e sem correr o menor risco de se desmanchar, foi a falência em 2008 e arrastou o mundo inteiro em uma crise de mais de 20 trilhões de dólares.

Embora a crise de 2008 já tenha sido tratada em outros filmes, como Margin Call - O Dia Antes do Fim, e em documentários já comentados aqui no próprio blog, como Trabalho Interno, talvez o principal mérito de A Grande Aposta seja demonstrar como o mercado financeiro é pródigo em criar e formatar produtos e serviços. Em geral, produtos e serviços sobre os quais pouca gente entende, mas que são oferecidos como se fossem a solução. E mais ainda, produtos que são avaliados e recomendados por agências de risco que competem entre si em um mercado oligopolista, que fazem um jogo sujo e que legitimam o que não é passível de ser legitimado. 

Referências Conexas

Berman, M. (1986). Tudo o que é sólido desmancha no ar - a aventura da modernidade. São Paulo: Companhia das Letras.

Deville, J. (2014). Consumer credit default and collections: the shifting ontologies of market attachment. Consumption Markets & Culture, 17(5), 468-490.

Knorr-Cetina, K. (2005). From pipes to scopes: the flow architecture of financial markets. In A. Barry & D. Slater (Eds.), The technological economy (pp. 122-141). Abingdon: Routledge. 

MacKenzie, D., Muniesa, F., & Siu, L. (Eds.) (2007). Do economists make markets? On the performativity of economics. Princeton: Princeton University Press.

Rona-Tas, A., & Hiss, S. (2011). Forecasting as valuation: the role of ratings and predictions in the subprime mortgage crisis in the United States. In J. Beckert & P. Aspers (Eds.), The worth of goods: valuation and pricing in the economy (pp. 223-246). Oxford: Oxford University Press.

Sauerbronn, F. F., & Sauerbronn, J. F. R. (2011). Estratégias de responsabilidade social e esfera pública: um debate sobre stakeholders e dimensões sociopolíticas de ações empresariais. Revista de Administração Pública, 45(2), 435-458.

Esse post compõe uma série chamada "Filme". Trata-se de sugestões de filmes.

2 comentários: